Análise do jogo Ghost of Tsushima Director's Cut


Jin Sakai teve que aprender a ser forte muito cedo. Ele perdeu a mãe quando era criança e anos depois presenciou o assassinato do próprio pai, fato que o marcou profundamente. Após esses acontecimentos, o jovem passou a ser criado por seu tio, Lorde Shimura, que tornou-se seu mentor e fez dele um grande samurai. Quando ameaças externas chegam à ilha de Tsushima, Jin se vê obrigado a lidar com questões morais e aos poucos se torna a maior esperança de sobrevivência para o seu povo.

Ghost of Tsushima inicia mostrando o embate entre um grupo de oitenta samurais e um exército de mongóis liderado por Khotun Khan. Mesmo em número muito menor, os samurais estavam dispostos a encarar a morte para proteger os seus lares e impedir a invasão. Em uma disputa tão desequilibrada, os samurais se tornaram presas fáceis e foram aniquilados em questão de minutos. Além de lorde Shimura, que foi capturado para forçar uma rendição dos demais guerreiros da ilha, Jin foi o único sobrevivente, embora tenha ficado gravemente ferido. Sem ter tempo para se recuperar, lorde Sakai precisa encontrar formas de salvar a vida de seu tio e acabar com a ameaça mongol. Logo o protagonista percebe que, para alcançar seus objetivos, seria necessário deixar de lado o código de honra dos samurais e utilizar todos os meios que estavam à sua disposição.

Vencer essa guerra sozinho era impossível. Sabendo disso, durante a jornada o protagonista se depara com pessoas que lhe prestam importante ajuda, como é o caso de Yuna, senhora Masako, Sensei Ishikawa e posteriormente o monge Norio. Dividido em três atos, o enredo é bem desenvolvido, consegue entregar ótimas reviravoltas e apresenta um antagonista marcante. Além dos objetivos principais, o título desenvolvido pela Sucker Punch conta com dois tipos de missões secundárias: os Contos de Tsushima e os Contos Míticos. Nos Contos de Tsushima ajudamos os habitantes da ilha em diversas questões e temos a oportunidade de conhecer mais sobre os quatro aliados que mencionei anteriormente, enquanto os Contos Míticos estão associados a lendas mitológicas locais e nos recompensam com novas técnicas e equipamentos.

Durante parte considerável da aventura o título permite que o jogador escolha se irá agir furtivamente ou não. Caso queira surpreender os inimigos, é possível se deslocar em vegetações altas, se rastejar por debaixo de casas, subir nos telhados e utilizar armas e ferramentas de distração, como o arco e flecha, kunai, dardos venenosos e alucinógenos, bombas de fumaça, bombas aderentes, bombas de pólvora, sinos dos ventos e bombinhas. Já se a estratégia for partir para o combate, uma boa maneira de iniciar a abordagem é por meio de um confronto, ocasião em que temos a oportunidade de eliminar até cinco oponentes em sequência. Nos confrontos é preciso acertar o momento correto de desferir os golpes, caso contrário Jin receberá muito dano em um único golpe. Independente de qual seja a escolha, o game nos entrega ferramentas para usarmos da forma que melhor entendermos.

O combate de Ghost of Tsushima foi um dos elementos que mais gostei no game. Podemos realizar golpes leves, pesados, romper a guarda dos inimigos, aparar e desviar dos ataques dos adversários, além de poder utilizar de outras armas e recursos que mencionei anteriormente. Já nas batalhas contra os chefes, a única coisa que temos à nossa disposição é a katana. Conforme os movimentos e sinais dos inimigos, sabemos se é possível evitar o bloqueio ou não. À medida que observamos e matamos uma quantidade determinada de líderes, desbloqueamos posturas de espada, que fornecem a lorde Sakai novos movimentos. Existem no total quatro posturas, sendo cada uma adequada para os tipos de armas que os adversários utilizam. Essa troca de postura se torna comum quando lidamos com vários oponentes ao mesmo tempo, o que acaba tornando a jogabilidade mais dinâmica, mas também exige uma maior atenção do jogador.

Sempre que acertamos golpes, bloqueamos ataques e executamos alguém acumulamos pontos de determinação, representados por bolas amarelas no canto inferior da tela. Os pontos de determinação servem para recuperar a vida e realizar ataques especiais. Conseguimos ampliar a quantidade de acúmulo da determinação realizando os desafios de bambu, que basicamente consistem em apertar uma sequência de botões em um curto espaço de tempo. A vida do protagonista é aumentada sempre que subimos de nível e quando visitamos fontes termais, momento em que Jin pode fazer reflexões. Podemos ainda atribuir atributos ao personagem por meio dos amuletos que ganhamos completando as missões e explorando os mapas. Espaços adicionais para amuletos podem ser desbloqueados seguindo as raposas e honrando santuários de Inari. Outro animal que serve de guia são os pássaros amarelos, que sempre nos levam até algum ponto de interesse. Ghost of Tsushima tem um nível de dificuldade equilibrado e para enfrentar os inimigos que vão se tornando mais fortes é necessário evoluir os trajes e armas de Jin. Subindo de nível ganhamos pontos de técnicas que podem ser utilizados para desbloquear novas habilidades em diversas categorias.

Parte da magia do game está na exploração. Na tela do jogo não há nenhum minimapa, para chegar até um ponto específico somos guiados pelo vento, mecânica que funciona melhor do que eu imaginava. Isso possibilita que admiremos os ambientes sem nenhum tipo de distração, tornando uma simples cavalgada algo relaxante. Equipando o traje do viajante, o controle vibrará sempre que um artefato estiver por perto. Além de todos os objetivos secundários que já mencionei, pela ilha de Tsushima ainda encontramos locais para escrever haikus, mini poemas japoneses de três frases, locais de duelos, faróis para serem acendidos e santuários que oferecem desafios de plataforma. O recurso de viagem rápida está disponível desde o começo da aventura e funciona de forma extremamente rápida.

Existem dois pontos da jogabilidade que me incomodaram um pouco: a falta de variedade nas missões e a inteligência artificial dos NPC. As missões de Ghost of Tsushima costumam seguir um certo tipo de estrutura, não é algo que chega a tornar o jogo repetitivo, mas gostaria de ter visto uma maior diversidade. Seguir pegadas no chão para localizar alguém, por exemplo, foi algo que fiz várias vezes. Já com relação aos inimigos, eles não escutam os passos de Jin, o que torna as abordagens furtivas fáceis demais em alguns casos e, quando detectam o personagem, nem sempre são capazes de dar uma resposta adequada. Se você subir em um telhado, os oponentes não são capazes de fazer o mesmo, o máximo que vai acontecer são flechas e kunai serem disparadas e arremessadas na nossa direção.

A belíssima direção de arte do game merece um destaque especial. Seja durante os dias ensolarados ou às noites chuvosas, Ghost of Tsushima me encantou com sua beleza. O contraste de cores que presenciamos ao explorar as diversas regiões da ilha me fez ter uma experiência visual única. Os amantes de fotografia podem se divertir e fazer cliques caprichados com um modo de foto bem completo. O jogador também tem a possibilidade de encarar a aventura em preto e branco, uma clara referência aos clássicos filmes de samurai, mas eu não recomendo deixar esse recurso ativado durante toda a jogatina, já que se perde parte considerável da identidade visual de Tsushima. Não posso deixar de mencionar as belíssimas cutscenes, que dão um ar cinematográfico à obra da Sucker Punch.

Ao iniciar o título podemos escolher a dublagem em japonês, inglês e português. A dublagem japonesa é excelente e dá um tom especial à jogatina. O trabalho brasileiro também está bem executado, notei apenas que às vezes há diferenças na pronúncia de alguns nomes, nada que chegue a incomodar. Os efeitos sonoros são ótimos e as músicas, embora sejam discretas na maior parte do tempo, complementam a experiência de uma forma muito satisfatória.

Além do jogo base, a versão do diretor inclui a expansão da Ilha Iki, oportunidade que o jogador tem de revisitar o passado de Jin e encarar a Águia, líder mongol que utiliza um veneno que causa alucinações nas pessoas. Na Ilha Iki encontramos novos desafios e tarefas e recebemos um alforje para nosso cavalo, o que nos permite armazenar uma quantidade extra de munição. Os jogadores também podem se divertir com o modo multiplayer Lendas, que possibilita partidas cooperativas e competitivas para quatro jogadores e um modo história para dois players. Esse é o primeiro título da Sony a apresentar a sobreposição PlayStation, recurso que permite o desbloqueio de troféus tanto no PC como na PSN e possibilita o crossplay entre jogadores de consoles e computadores. A integração com a PlayStation Network é simples e funciona bem.

Seja qual for o modo de jogo, não enfrentei nenhum tipo de problema que prejudicasse a minha experiência. A única coisa que aconteceu algumas vezes foi a dificuldade de interação, ocasiões em que o game não exibia a opção, mesmo que eu tentasse todos os ângulos de câmera possíveis.

Lançado originalmente em 2020 para PlayStation 4, Ghost of Tsushima também está disponível para PlayStation 5 e PC. Esta análise foi feita com base na versão de PC com uma cópia fornecida pela equipe da PlayStation Brasil.

Especificações do computador utilizado para a análise: Ryzen 7 5700X, RTX 3060 12 GB, 32 GB de memória RAM DDR4 3200Mhz.


Considerações finais
Sentimento de vingança, rompimentos de tradições, derramamento de sangue e muitas perdas: é em meio a essas questões que Jin Sakai abandona o código dos samurais para se tornar o fantasma de Tsushima, um guerreiro que luta pela libertação do seu povo. Ambientada no Japão feudal, a narrativa de Ghost of Tsushima me prendeu do começo ao fim com suas várias nuances, personagens carismáticos e acontecimentos surpreendentes. A atmosfera autêntica construída pela Sucker Punch e o excelente sistema de combate tornam tudo ainda mais prazeroso.

Seja guiado pelo vento ou pelos animais, a exploração dos belíssimos ambientes acaba se tornando algo natural; o jogo praticamente te convida a desviar brevemente da sua rota para descobrir locais e artefatos. Em meio a um mundo vivo, o título conta com vários objetivos secundários que sempre fornecem ao jogador algum tipo de recompensa. Apesar de algumas falhas na inteligência artificial dos inimigos e a repetição de certas fórmulas ao longo da jornada, Ghost of Tsushima é um ótimo jogo e me proporcionou muita diversão nas minhas mais de quarenta horas de gameplay.

Nota
★★★★☆ - 4 - Ótimo


➜ Você pode ler análises de outros games clicando aqui.
Herbert Viana

Criador e editor do Portal E7, Herbert é advogado, amante de games e séries. Gamertag/ID: "HerbertVFV". twitter

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