Análise da série 1899 (1ª temporada)

Depois do grande sucesso de Dark, a dupla alemã Jantje Friese e Baran bo Odar retornou com outra série repleta de mistérios. Desta vez a história acontece em alto mar, no navio Kerberos, que deixou a Inglaterra rumo aos Estados Unidos. A bordo da embarcação estão personagens de diferentes etnias e classes sociais, todos com o sonho de recomeçar suas vidas no país da América do Norte. Enquanto seguiam a viagem normalmente, o telégrafo da embarcação começa a receber repetidas vezes uma coordenada geográfica. Como outro navio da empresa, identificado como Prometheus, havia desaparecido há quatro meses sem deixar nenhum tipo de vestígio, o capitão Eyk (Andreas Pietschmann) decide alterar o percurso para verificar se aquilo era um pedido de socorro.

Essa mudança de rota deixou os passageiros revoltados, afinal, ninguém sabia se de fato aquela era uma mensagem vinda do Prometheus, sem mencionar que as chances de encontrar algum sobrevivente eram muito baixas. Mesmo recebendo vários questionamentos, Eyk não volta atrás na sua decisão de alterar a trajetória do navio. É a partir desse ponto que coisas estranhas começam a acontecer. Passadas algumas horas de viagem, eles chegam ao local indicado e, para a surpresa de praticamente todos, se deparam com o Prometheus. Em uma primeira vista parecia que o navio estava abandonado, mas era preciso investigar de perto para ter certeza se havia alguém vivo lá. Acompanhado da neurologista Maura (Emily Beecham) e de mais algumas pessoas, Eyk navega até o navio para averiguar a situação.

Chegando ao Prometheus e explorando suas instalações, o grupo encontra um lugar completamente abandonado e sem sinal de sobreviventes. No chão de um dos quartos, Eyk acha uma faixa de cabelo que lhe parecia familiar. Adentrando na ponte de comando, eles descobrem que o telégrafo havia sido destruído e ficam sem entender como a mensagem havia sido enviada. Percebendo a presença de um escaravelho, Maura decide segui-lo e é guiada até um armário, que estava bloqueado por fora. De repente, algo no seu interior começa a bater nas portas querendo sair. Apesar de estarem receosos, Maura resolve abrir a porta e encontra uma criança (Fflyn Edwards), que lhe entrega uma pirâmide negra. Sem dizer nenhuma palavra para as perguntas que lhe são feitas, o garoto é acolhido pela médica, que passa a cuidar dele.

Enquanto estavam no Prometheus, um homem desconhecido (Aneurin Barnard) embarca no Kerberos e se abriga no quarto ao lado do de Maura. Utilizando um escaravelho para destrancar a porta, fica claro que havia algum tipo de ligação entre ele e o menino que estava trancado no armário do outro navio. Apresentando-se como Daniel, o homem aos poucos se aproxima de Maura e toma algumas atitudes que levantam dúvidas sobre a sua pessoa, ao mesmo tempo que eventos cada vez mais estranhos começam a acontecer. Para completar esse instigante panorama, no final do segundo capítulo descobrimos que havia alguém monitorando os passageiros e os tripulantes da embarcação.

O começo de cada episódio sempre retrata uma memória trágica de algum personagem. Pouco a pouco passamos a conhecer melhor as pessoas que estão a bordo do navio e detalhes de suas histórias. Como possuem origens diversas, os passageiros falam idiomas diferentes, o que limita a maioria de suas interações a um certo grupo de pessoas. Com isso, a série geralmente trabalha o desenvolvimento dos arcos de forma isolada, dando um visão geral sobre cada personagem. Nos momentos de maior apreensão, em que geralmente há uma ação em conjunto, a barreira da linguagem não chega a ser um problema.

Existem temáticas interessantes nas subtramas, mas logo de cara fica bem claro que a narrativa gira em torno de Maura. No princípio tudo parece muito confuso, com os capítulos nos entregando mais questionamentos do que respostas. O que de fato estava acontecendo no navio ficou mais claro para mim a partir do sexto episódio, quando deu para perceber detalhes do elemento central da trama. Explicações mais profundas somente são dadas no oitavo capítulo. Agora o que realmente me surpreendeu foi a forma com que a primeira temporada foi concluída, eu realmente não estava cogitando aquele tipo de final. Os roteiristas nos entregaram parte daquilo que esperávamos, mas ainda havia muito o que ser descoberto sobre o universo da série, que infelizmente não terá uma continuação.

Considerações finais
Depois do grande sucesso de Dark, as expectativas para 1899 eram altas. Desde o começo ficou claro que a dupla alemã adotaria a mesma estratégia de esconder do público o máximo de detalhes que fosse possível. Antes do lançamento, pouquíssimas informações sobre a trama foram divulgadas. Na prática, os roteiristas mais uma vez conseguiram criar uma atmosfera de suspense envolvente. A nossa sensação não é muito diferente daqueles que estão vivenciando tudo de perto: quanto mais Eyk e Maura tentam entender o que está acontecendo, mais perdidos eles ficam. No final da temporada, algumas coisas se tornam mais claras, ao mesmo tempo que descobrimos uma nova faceta da história, a mais surpreendente de todas.

Com relação às tramas secundárias, o desenvolvimento foi um pouco decepcionante, principalmente pelo fato de a atração focar muito nelas nos primeiros episódios. Isso me levou a crer que teríamos uma abordagem mais profunda de certos arcos da história, mas no meio da temporada alguns acontecimentos abortam a continuidade de praticamente todos eles. Dois elementos que merecem destaque são a ambientação e o figurino, que têm um importante papel na caracterização de época. As atuações, os efeitos visuais e a trilha sonora são outros pontos positivos da produção. Infelizmente a série foi cancelada pela Netflix, o que significa que várias questões suscitadas ao longo dos oito episódios ficarão sem respostas.

Nota
★★★★☆ – 4 – Ótimo

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Criador e editor do Portal E7, Herbert é advogado, amante de games e séries. Gamertag/ID: "HerbertVFV".
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