Análise da série Better Call Saul (6ª temporada)
Atenção! O texto a seguir contém spoilers da quinta temporada de Better Call Saul.
Desde que decidiu assumir a defesa de Lalo (Tony Dalton), Saul Goodman (Bob Odenkirk) começou a conviver com situações não muito agradáveis. No quinto ano de Better Call Saul, o advogado e Mike (Jonathan Banks) passaram um grande aperto no deserto enquanto transportavam o dinheiro que seria utilizado para pagar a fiança do mexicano. Depois, ele teve que lidar com as desconfianças de Lalo e só conseguiu se safar graças a uma atitude corajosa de Kim (Rhea Seehorn). A vida do casal está ficando muito arriscada e as atitudes que Gus (Giancarlo Esposito) toma no negócio das drogas acirram ainda mais os ânimos. O massacre retratado no último episódio da temporada passada era um indicativo de que as coisas não iam ficar calmas, já que o objetivo principal, a morte de Lalo Salamanca, não foi atingido.
Quem precisa lidar com essas consequências praticamente sozinho é Nacho Verga (Michael Mando), que luta para sobreviver no território inimigo. Logo que o seu envolvimento na tragédia é descoberto pelo cartel, ele se torna um alvo cobiçado e uma recompensa é oferecida por sua cabeça. Recebendo orientações para seguir rumo ao norte, o personagem se hospeda em um hotel discreto, onde deveria aguardar o resgate. Desconfiado que estava sendo vigiado, Nacho logo percebe que aquilo era uma emboscada e que Gus parecia não estar disposto a ajudá-lo. Após ter um encontro tenso com os gêmeos Salamanca, o personagem constata que só lhe restava um único destino.
Sem ter certeza de que a sua investida contra o mexicano realmente deu certo, Gus reforça a sua segurança e Mike pede para seus homens monitorarem Saul e Kim, o que acaba irritando o casal. No outro lado da história, sabendo que Nacho tinha colaborado com a chacina, Lalo forja a própria morte e planeja ir atrás de Gus de forma sorrateira. Antes de permitir que o seu sobrinho pratique qualquer ato, Hector (Mark Margolis) quer uma prova que ligue o dono da rede Los Pollos Hermanos ao ocorrido no México. Lembrando-se do misterioso projeto de construção de Gustavo, Lalo vai até a Alemanha e tenta encontrar uma das pessoas que havia trabalhado na obra. Lá, ele descobre que Gus não estava construindo um refrigerador, mas sim um super laboratório de metanfetamina. Isso era mais do que o suficiente para Lalo poder seguir adiante.
Kim e Saul seguem discutindo diferentes maneiras de tentar sabotar Howard (Patrick Fabian), o que poderia forçar Cliff (Ed Begley Jr.) a aceitar um acordo no caso Sandpiper. Se tudo desse certo, o protagonista poderia finalmente receber a parte que lhe é devida no processo. Quando a advogada fez o gesto de arma com a mão no final da temporada passada, relembrando a atitude de Jimmy no desfecho do quarto ano, ficou claro que ela não estava brincando. É interessante observar que Saul parecia não estar muito disposto a seguir adiante com essas condutas, mas o incentivo de Kim faz com que ele mude de ideia. Os dois então passam a criar várias situações para atingir a honra de Howard e fazer com que Cliff comece a desconfiar dele. Até mesmo os Kettlemans, aquele casal da primeira temporada que tentou se safar do desvio de uma grande quantia de dinheiro, é envolvido na jogada.
O plano de Kim e Saul tem uma enorme importância na história e permite que conheçamos um lado da vida de Howard que nunca havia sido explorado pela produção. Eu realmente tive pena do personagem ao descobrir os vários problemas que ele estava enfrentando. Essas revelações são feitas durante o sétimo episódio, que entrega um dos momentos de maior tensão do universo de Breaking Bad. A fisionomia de desespero dos dois protagonistas foi uma das cenas mais marcantes da atração. Preciso também comentar o belíssimo trabalho de direção, que contribuiu muito para esse resultado. Eu nunca imaginei que a chama de uma vela balançando pudesse simbolizar algo tão significativo. Além disso, as ações que são tomadas por Kim e Saul refletem diretamente na conclusão da história de cada um deles.
É nesta temporada que o mundo de Better Call Saul se choca de vez com o de Breaking Bad, provocando, inclusive, uma drástica modificação na abertura da série (ah, como eu gosto desses detalhes!). Isso significa que sim, Walter (Bryan Cranston) e Jesse (Aaron Paul) finalmente apareceram, ainda que de forma breve. O que mais gostei no retorno desses personagens foi o diálogo que Kim teve com Jesse no décimo segundo episódio. Foram aparições discretas, e acho que realmente deveriam ser, já que havia uma história em desenvolvimento que precisava ser concluída.
Outro momento muito aguardado era descobrir como a jornada do protagonista seria concluída. Depois de assistir pequenos trechos de cenas em preto e branco na estreia dos cinco anos anteriores, desta vez somos brindados com episódios que são total ou quase totalmente dedicados em mostrar como está a vida de Saul Goodman após ele ter conseguido fugir. Para não estragar a experiência daqueles que ainda não terminaram a série, digo apenas que algumas pessoas são mais resistentes do que outras quando o assunto é mudança.
Considerações finais
Enquanto os destinos de alguns personagens que nunca apareceram fisicamente em Breaking Bad pareciam mais previsíveis, a grande incógnita era saber se Kim conseguiria sair viva depois de ter se envolvido profundamente nos problemas de Jimmy. Vince Gilligan e Peter Gould sabiam que esse era um dos pontos chaves da temporada e cuidaram muito bem de entregar uma conclusão digna para a personagem. Essa mesma linha de raciocínio também se aplica a história como um todo: assim como Breaking Bad ficou marcado por um desfecho cheio de simbolismo e de alguma forma até mesmo poético, Better Call Saul segue por esse mesmo caminho, adotando elementos diferentes. O que eu quero dizer é que o final de ambas as séries é marcante por diversas questões que estão atreladas às ações dos seus personagens principais.
A homenagem para os fãs não está apenas no retorno de Walter e Jesse, mas também nas inúmeras cenas que recriam ou fazem referência a outros trechos da própria produção. Vou sentir muita falta da fotografia diferenciada, da brilhante maneira com que as cenas são construídas, dos diálogos memoráveis e, claro, dos personagens marcantes. Bob Odenkirk e Rhea Seehorn estão fabulosos em seus papéis e entregam as suas melhores atuações considerando todas as seis temporadas. Fica agora o desafio de conseguir encontrar uma série que seja capaz de preencher o enorme vazio deixado pela excelente Better Call Saul.
Nota
★★★★★ – 5 – Excelente
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