Análise da minissérie Maid

Junto com sua filha Maddy (Rylea Nevaeh Whitte), de apenas dois anos, Alex (Margaret Qualley) resolve, no meio de uma noite, deixar a casa de Sean (Nick Robinson), seu namorado alcoólatra e emocionalmente abusivo. Com pouquíssimo dinheiro e sem ter para onde ir, as duas passam a noite dentro do carro. No dia seguinte, ao procurar o serviço de assistência social, Alex percebe que ela não se encaixava nos parâmetros estereotipados e descobre que para ter acesso a um subsídio habitacional era preciso apresentar dois contracheques, sem mencionar a longa lista de espera. Como estava desempregada, a assistente social lhe sugeriu um trabalho em uma empresa que oferece serviços de faxina.

Para ter direito a uma vaga em uma creche, Alex precisava de um emprego, mas para trabalhar alguém tinha que tomar conta de sua filha. Diante desse dilema, a protagonista resolve procurar sua mãe, Paula (Andie MacDowell), para ver se ela poderia ficar momentaneamente com Maddy. Logo de cara fica bem claro o motivo pelo qual Alex não recorreu a sua genitora no momento em que mais precisou de apoio: Paula parece não levar nada a sério e ainda sofre uma forte influência do seu atual namorado, que aparenta estar interessado apenas nos poucos bens que ela possui. Esses motivos levaram Alex a se afastar de sua mãe, já que sequer é possível conversar algo sério com ela.

Ao conseguir um teste para o emprego de limpeza, Alex percebe que não receberia quase nada em um primeiro momento, já que precisaria gastar praticamente todo o dinheiro que lhe restava para pagar o uniforme, os materiais de limpeza, a gasolina e o pedágio. As únicas coisas que ela recebeu, sem nenhum custo, foram o passe para a balsa e um aspirador de pó, que deve ser devolvido após o turno para o recebimento do pagamento. Sua primeira cliente, Regina (Anika Noni Rose), uma advogada que vive em uma casa luxuosa, age de uma forma extremamente fria quando elas se encontram pela primeira vez. Nesse ponto, existe uma situação que eu gostaria de destacar: Alex estava há horas sem comer e passou mal durante a execução do trabalho. Por outro lado, a geladeira da residência de Regina estava cheia de alimentos perfeitos e todos seriam descartados para a compostagem, uma vez que a casa ficaria vazia pelos próximos dias. Isso simboliza bem a nossa sociedade, que desperdiça muitos alimentos enquanto uma grande parcela das pessoas convive diariamente com a fome.

Como se todos esses problemas já não fossem o suficiente, Sean entra com um processo para obter a guarda de Maddy, mesmo não tendo condições de tomar conta de sua filha em razão do seu vício. No decorrer dos dez episódios, fica claro que Alex se esforça para tentar recomeçar a sua vida, mas Sean parece ser sempre um obstáculo a ser superado. Não que ele queira prejudicar a sua ex (e, consequentemente, a sua filha), mas suas atitudes geram reflexos diretos na vida de Alex, que chega até mesmo a perder um local legal para morar por conta dele. A personagem sempre precisa fazer um grande esforço para conseguir algo, mas basta um pequeno deslize para que tudo venha por água abaixo. Por sorte, durante a sua árdua jornada, Alex recebe a ajuda de pessoas para recomeçar a sua vida.

Maid é sobre superação, força de vontade, persistência, perseverança e resiliência. Quando fica sem o seu carro, Alex é obrigada a passar a noite no chão de uma estação de balsa, junto com a filha. Tudo o que ela faz hoje é pensando em garantir um futuro melhor para Maddy, e isso inclui não cometer os mesmos erros de sua mãe, que também teve um passado complicado. Além de recuperar algumas memórias de como era o ambiente dentro de sua casa quando era criança, Alex precisa lidar com o fato de Hank (Billy Burke), seu pai, demonstrar ter mais empatia com Sean do que com ela. Não que Sean não precise de ajuda, muito pelo contrário, mas com essa atitude Hank consolida o seu papel de pai ausente.

Enquanto limpa a moradia das pessoas, Alex registra em um caderno suas percepções sobre os ambientes. O processo de faxina até gera cenas interessantes, mas o ponto alto da minissérie está nas interações que a protagonista constrói com Paula e Regina. Alex tem problemas com as duas, mas conforme a história se desenvolve, ela cria uma boa relação com a mãe, que ignora quase tudo o que ela fala, e com sua cliente, que a maltratou em mais de uma ocasião e ainda reclamou do seu serviço. Isso torna a narrativa mais interessante e mostra que, apesar de todos os problemas que está enfrentando, Alex encontra forças para ouvir e tentar ajudar outras pessoas.

Considerações finais
Adaptação do livro Superação: Trabalho Duro, Salário Baixo e o Dever de Uma Mãe Solo, escrito por Stephanie Land, Maid mostra como a vida de alguns parece ser bem mais difícil do que a de outros. Da mesma forma que o Estado não considera o abuso psicológico como um tipo de violência doméstica, a própria personagem tem dificuldades em perceber a sua condição de vítima, uma vez que o seu namorado não a agrediu fisicamente. Enquanto tenta derrubar as barreiras para a concessão de um benefício assistencial, Alex vê o pouco dinheiro que ainda possui indo embora rapidamente, não lhe restando quantia suficiente para fazer um lanche rápido.

A trama se desenrola com bastante naturalidade, desenvolvendo bem cada um dos personagens e fazendo com que criemos cada vez mais empatia com Alex e a situação em que ela está inserida. O elenco desempenha um ótimo trabalho, ficando os maiores destaques com as atrizes Margaret Qualley e Andie MacDowell. A jornada de libertação da protagonista é árdua, mas ela não mede esforços para deixar para trás tudo aquilo que lhe causa alguma opressão. Maid busca quebrar o senso comum sobre as várias nuances que um relacionamento tóxico é capaz de gerar, algo que não pode ser tratado de forma taxativa sem analisar o contexto em que tudo acontece.

Nota
★★★★☆ – 4 – Ótimo

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Criador e editor do Portal E7, Herbert é advogado, amante de games e séries. Gamertag/ID: "HerbertVFV".
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