Análise da série Hacks (1ª temporada)
Deborah Vance (Jean Smart) é uma famosa comediante que há anos realiza uma residência fixa de shows em Las Vegas. Embora tenha se envolvido em algumas polêmicas, como o fato de ter supostamente incendiado a casa de seu ex-marido ao descobrir que ele estava tendo um caso extraconjugal com sua irmã, Deborah conseguiu conquistar uma legião de fãs ao longo dos anos. Se no palco ela consegue arrancar gargalhadas da plateia, o mesmo não se pode dizer das pessoas que trabalham ao seu lado: a humorista tem uma personalidade forte e muitas das vezes é sem educação com seus funcionários.
O proprietário do cassino em que ela se apresenta, Marty (Christopher McDonald), quer oferecer mais espaço para outros artistas, a ideia é que Deborah pare de fazer shows nas noites de sexta e sábado, justamente as mais importantes da semana. Sem saber o que fazer, a humorista liga para o seu empresário, Jimmy (Paul W. Downs), e acaba escutando que ela deveria contratar alguém para ajudá-la a escrever novas piadas. Sendo também representante de Ava (Hannah Einbinder), uma jovem roteirista que perdeu o emprego após uma postagem no Twitter, Jimmy percebe que aquela era uma boa oportunidade para resolver dois problemas de uma única vez. Acontece que a humorista recusa imediatamente a sugestão, da mesma forma que Ava claramente manifesta o seu desinteresse no emprego.
Quando percebe que não conseguiria nenhuma outra oferta de trabalho, Ava decide aceitar a proposta de Jimmy e vai até Las Vegas para conhecer Deborah pessoalmente. A comediante, por outro lado, só fica sabendo do encontro quando chega em casa e descobre que Ava estava à sua espera. Depois de conversarem brevemente, as duas trocam algumas ofensas e é nesse momento que Deborah percebe que a jovem realmente parecia ter talento. A contratação acontece de uma forma inusitada, com elas quase se envolvendo em um acidente de carro.
A partir de então, passamos a acompanhar a relação de amor e ódio que surge entre as protagonistas. Enquanto Ava tenta conhecer e compreender melhor a sua nova chefe, Deborah se preocupa apenas consigo mesma. Quer um exemplo do comportamento dela? Quando o seu carro furou o pneu no meio do deserto, a humorista foi embora de helicóptero e encarregou Ava de esperar o reboque chegar; a jovem teve que ficar torrando no sol, sem nem poder ligar o ar-condicionado do veículo. Em outras ocasiões, ao ser contrariada, a comediante é capaz de constranger até mesmo a própria filha, DJ (Kaitlin Olson), na frente de outras pessoas. Tudo isso faz com que Ava e DJ se unam para compartilhar as frustrações de ter uma relação tão próxima com Deborah.
Com todos esses desafios, Ava tenta dar o seu melhor, mesmo que muitas das vezes ela não ganhe o devido reconhecimento. Estamos falando de duas mulheres com faixas etárias completamente diferentes, ou seja, o que é engraçado para uma não necessariamente será para a outra. A roteirista só percebe qual era a essência do show de Deborah quando é obrigada a digitalizar todo o acervo da humorista. Nesse momento, ela passa a ter contato com materiais que nunca foram exibidos na TV e descobre que a carreira de Deborah poderia ter sido ainda mais marcante.
Além das protagonistas, temos também subtramas envolvendo personagens secundários, como o início do relacionamento de Marcus (Carl Clemons-Hopkins), o COO de Deborah, com o agente que fiscaliza o uso irregular da água na cidade, as tentativas de DJ em emplacar a sua linha de joias e o fato de Jimmy ter como secretária a desastrada Kayla (Megan Stalter), que ironicamente é filha do seu chefe. Existem até algumas situações engraçadas envolvendo esses personagens, mas nada que se equipare à trama principal. Esse tipo de abordagem serve basicamente para dar uma maior profundidade e tornar a história da série mais variada.
Considerações finais
Em meio a vários desentendimentos, Deborah e Ava conseguem construir uma relação digamos que minimamente aceitável. Dessa união improvável surge um sentimento de consideração mútua que se manifesta mais por gestos do que por palavras, já que gentileza não é o forte de nenhuma delas. Dentre as várias situações embaraçosas que enfrenta, Ava percebe que nem tudo se resume a dinheiro, não obstante ela esteja precisando muito de grana. Como toma algumas atitudes no calor da emoção, a personagem depois precisa agir para tentar consertar suas ações. O gancho para a segunda temporada, inclusive, gira exatamente em torno disso.
O grande destaque de Hacks certamente é a sua dupla de protagonistas, fruto do excelente trabalho das atrizes Jean Smart e Hannah Einbinder. As duas personagens são de gerações diferentes e possuem realidades totalmente distintas, e isso é abordado em diversos pontos da narrativa. Embora apresente um ritmo um pouco lento no início e conte com tramas secundárias que não conseguem manter o mesmo nível da história principal, a série criada por Lucia Aniello, Paul W. Downs e Jen Statsky, no geral, entrega uma história leve e divertida de se acompanhar.
Nota
★★★★☆ – 4 – Ótimo
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