Análise da série Mr. Robot (4ª temporada)
Atenção! O texto a seguir contém spoilers da terceira temporada de Mr. Robot.
Os eventos impactantes retratados no final da terceira temporada não eram tudo, a cereja do bolo ficou guardada para os instantes iniciais do quarto ano: pouco depois de revelar para Angela (Portia Doubleday) que era o seu pai biológico, Phillip Price (Michael Cristofer) até tentou convencê-la a desistir de fazer qualquer coisa contra o Dark Army, mas como ela não mudou de ideia, essa história não teve um final feliz. A morte de Angela coloca um ponto final nesse arco e se torna a válvula propulsora para o encerramento da trama de Mr. Robot.
Passados alguns meses, os personagens ainda sentem os desdobramentos causados pelos atos do grupo chinês. Elliot (Rami Malek) precisa cumprir a promessa que foi feita a Whiterose (BD Wong) e tem plena consciência de que será eliminado assim que o projeto for transportado para o Congo. Tyrell (Martin Wallström) virou um herói nacional e se tornou o CTO da E Corp, algo que ele tanto almejou no passado, mas diante das circunstâncias que o levaram até lá, o personagem não tem muito o que comemorar. Já a agente Dominique DiPierro (Grace Gummer), que agora é o contato do Dark Army no FBI, vê a sua vida se transformar em um verdadeiro inferno. Recebendo constantemente ordens de Janice (Ashlie Atkinson), que inclusive virou amiga de sua mãe, DiPierro é obrigada a executar diversos tipos de serviços para evitar que os membros de sua família sejam mortos. Toda a pressão sofrida pela agente rende ótimos momentos de tensão na primeira parte da temporada.
A forma com que o Dark Army lidou com Angela alimenta em Elliot e Phillip um sentimento de vingança, uma vontade muito grande de desmantelar toda a estrutura controlada por Zhang/Whiterose. Logicamente a missão não será fácil, principalmente quando Elliot descobre que existe uma corporação ainda maior do que aquela que ele conhecia. O dinheiro para financiar as operações dos chineses era oriundo de um grupo de investimentos chamado Deus, formado pelos homens mais ricos e poderosos do mundo, cujo objetivo é a manipulação de eventos globais para obtenção de lucro. Phillip faz parte dessa organização secreta, mas o seu desejo em derrotar Whiterose é maior do que qualquer quantia monetária. Esse é o motivo que leva o executivo da E Corp a se juntar a Elliot, algo até então inimaginável. O primeiro encontro entre eles acontece de uma forma bem inusitada e pode ser visto na cena que está escondida nos créditos do episódio de estreia.
Ao descobrir que os recursos de White Rose estavam guardados no Banco Nacional do Chipre, o protagonista começa a buscar maneiras para ter acesso ao sistema da instituição financeira. Caso consiga roubar o dinheiro do Grupo Deus, o Dark Army seria atingido em cheio. Adotando o antigo escritório da Allsafe como base de operações, Elliot passa a trabalhar junto com sua irmã, Darlene (Carly Chaikin), para tentar obter os dados que necessita. Juntos, eles encaram situações extremamente arriscadas e lidam com as consequências desencadeadas por suas ações. Enquanto isso, Phillip tenta criar algum tipo de instabilidade ao anunciar que vai renunciar ao cargo de CEO da E Corp até o fim do ano, mas o trio é surpreendido quando Zhang rapidamente marca uma reunião para escolher um sucessor. Com isso, Elliot e Darlene precisam agir rapidamente para conseguir executar o plano em um curto período de tempo.
Algo que chama a atenção, logo no começo da temporada, é que desta vez quem conversa com o público é Mr. Robot (Christian Slater), algo que até então nunca havia acontecido. Na reta final, essa quebra da quarta parede ganha um novo viés e funciona como um importante elemento para a conclusão da trama. Falando no desfecho, gostei muito da forma com que Sam Esmail colocou um ponto final na obra. Confesso que fiquei um pouco receoso quando cheguei nos capítulos finais, por um instante tive a sensação de que a atração ia transitar para a ficção científica, mas felizmente isso não aconteceu. No décimo terceiro e último episódio, tudo é explicado e as pontas soltas se encaixam perfeitamente.
Como Mr. Robot é uma série que se destaca pela fotografia e direção, tal como fiz nas temporadas anteriores, quero destacar dois episódios do quarto ano. Nos primeiros minutos do episódio cinco, assim que se encontra com o seu irmão, Darlene diz que eles não precisavam conversar e é isso que acontece durante todo o capítulo: nenhum dos personagens fala uma palavra, o máximo que acontece é uma comunicação via mensagem de texto. No final, um dos personagens diz “vamos conversar”. São mais de quarenta minutos sem nenhum diálogo, apenas imagens, som ambiente e trilha sonora. Já o capítulo sete acontece inteiramente em dois cenários, o que lembra muito uma peça de teatro. É também nele que uma revelação chocante relacionada ao passado de Elliot é feita, transmitindo uma grande carga emocional para o público.
Considerações finais
Mr. Robot foi uma das melhores séries que eu assisti nos últimos anos. A história do jovem Elliot, que convive diariamente com várias doenças mentais, se torna mais interessante a cada temporada, graças a excelente atuação de Rami Malek e a forma com que o telespectador presencia os eventos. Contando com enredos dinâmicos e cheios de reviravoltas, esse é aquele tipo de produção que constantemente é capaz de nos surpreender. Como temos um contato muito próximo com o protagonista e ele esconde de nós muitos dos seus segredos, esse acaba sendo um fator que facilita a criação das surpresas. A prova disso é que somente agora, na última temporada, descobrimos um dos fatos mais importantes da vida do personagem, algo que o marcou profundamente e que nos ajuda a entender toda a sua complexidade.
Destaco a figura de Elliot por ser o principal nome da história, mas todos os personagens possuem um grau de profundidade satisfatório, sendo muito fácil criar algum grau de empatia com eles. Como a temporada final carrega consigo um alto nível de tensão, frequentemente eu temia que algo de mais sério pudesse acontecer com Elliot e Darlene, os únicos integrantes da fsociety que ainda estavam vivos. Além de nos ter dado um ótimo panorama dos desafios enfrentados pelo protagonista ao longo de sua vida, acredito que a forma com que a história foi concluída honrou tudo o que foi construído até aqui.
Nota
★★★★★ – 5 – Excelente
★★★★★ – 5 – Excelente