Análise da série Round 6 (1ª temporada)

A série sul-coreana Round 6 (오징어 게임, no original) rapidamente se tornou um grande fenômeno de audiência. Segundo dados liberados pela Netflix, vinte e cinco dias após o seu lançamento, 111 milhões de lares em todo o mundo haviam assistido a atração. A produção viralizou na internet e uma quantidade absurda de memes começou a ser compartilhada nas redes sociais. Apesar do humor criado pelos internautas, Round 6 não tem nada de engraçado e coloca os seus personagens em uma espécie de jogo mortal.

No começo da história, conhecemos Seong Gi-hun (Lee Jung-jae), um homem que possui altas dívidas com agiotas e instituições bancárias. Ele mora com a mãe idosa, de quem costuma furtar dinheiro para fazer apostas em corridas de cavalos, e parece não ter uma relação muito próxima com a filha de dez anos, que em breve se mudará para os Estados Unidos. Nada parece dar certo em sua vida, mas o destino faz com que ele se depare com algo que pode ser um ponto de virada. Depois de jogar com um desconhecido em uma estação de trem e ganhar um trocado, Gi-hun é convidado para participar de alguns jogos, algo que poderia lhe render muito dinheiro. Caso topasse encarar o desafio, ele deveria ligar para o número anotado no verso de um cartão de visita, que não tinha nenhuma identificação, apenas três figuras geométricas desenhadas.

Como aparentemente não tinha nada a perder, Gi-hun decide participar dos jogos. Mal sabia ele no que estava se metendo… As coisas já ficam estranhas antes mesmo dos participantes chegarem ao local da competição: nas vans em que eles estavam sendo transportados, um gás é liberado e todos ficam desacordados durante o percurso até uma ilha secreta. As 456 pessoas que aceitaram entrar na disputa acordam em uma grande sala, onde são recepcionadas por um grupo de pessoas mascaradas que revelam o que iria acontecer: ao longo dos próximos seis dias, seis jogos seriam realizados e, ao final, os vencedores receberiam um bom prêmio. Como todos os que estavam ali precisavam de ajuda financeira, ganhar dinheiro era um interesse coletivo.

Antes da rodada inicial, os jogadores assinam um termo de consentimento que basicamente os proíbe de desistir da competição, além de permitir que os jogos sejam encerrados se a maioria assim decidir. Até então estava tudo bem, mas quando a primeira prova começa e todos percebem o quão cruel era a situação em que estavam inseridos, as opiniões rapidamente começam a mudar. Enquanto “brincavam” de batatinha frita 1, 2, 3, várias pessoas são eliminadas da disputa, ou melhor, são mortas por aqueles que estavam controlando a prova. No fim da rodada inaugural, os 201 sobreviventes realizam uma votação e a maioria decide colocar um ponto final na competição.

De volta a Seul, Gi-hun vai até uma delegacia relatar tudo o que havia acontecido, mas ninguém dá muito crédito para aquilo que ele diz. No entanto, a presença do cartão com os símbolos geométricos chama a atenção do detetive Hwang Jun-ho (Wi Ha-joon), cujo irmão havia recebido um cartão idêntico e estava desaparecido. O pesadelo de ter que viver novamente com o fantasma de suas dívidas faz com que muitos dos jogadores decidam novamente arriscar suas próprias vidas quando recebem um novo convite. Seguindo os passos de Gi-hun, que é um dos que escolhe voltar para a disputa, o detetive consegue ter acesso a uma das vans e encontra uma forma de se infiltrar no meio das pessoas que auxiliavam a realização dos jogos, as mesmas responsáveis por acabar com os vestígios dos corpos dos que foram eliminados. Uma pessoa misteriosa, que usa máscara e roupa na cor preta, é quem comanda tudo o que acontece na ilha.

No decorrer dos nove episódios, a narrativa de Round 6 se torna cada vez mais interessante e despertou em mim a curiosidade em querer saber o que aconteceria na sequência. Além do  mistério envolvendo o jogo macabro, que gera entretenimento com base na dor e sofrimento das pessoas, temos um bom desenvolvimento dos principais personagens, o que faz com que criemos empatia com alguns dos participantes. As histórias de vida dos jogadores são variadas, indo desde alguém que fugiu com sua família da Coreia do Norte até um senhor idoso que está com um tumor cerebral em estágio avançado. Enquanto isso, no outro lado, a busca de Jun-ho por seu irmão também se mostra interessante, oportunidade em que entendemos melhor o que acontece nos bastidores da competição.

Considerações finais
Brincadeiras de criança nunca se tornaram algo tão visceral como vemos na série criada por Hwang Dong-hyuk. Por trás de ambientes coloridos e vibrantes, a atração coloca seres humanos em situações nefastas, tudo em prol do entretenimento de um grupo seleto de pessoas, conforme revelado no capítulo sete. Muitas reflexões podem ser feitas sobre essa situação e o prêmio em dinheiro que é “oferecido”, mas o que mais me chamou a atenção é a crueldade do sistema, que faz com que as pessoas concluam que vale mais a pena arriscar a própria vida, já sabendo de todas as consequências da competição, do que tentar continuar da forma em que estão. Com dívidas astronômicas ou necessitando de dinheiro para cumprir objetivos, ninguém ali vislumbra outra forma de mudar suas realidades.

O primeiro episódio é impactante e transmite muito bem qual é a essência de Round 6: se não cumprirem as regras dos jogos, os participantes são mortos sem nenhum tipo de hesitação. A produção começa com um ritmo frenético, atinge o seu ápice no sexto capítulo, mas perde um pouco de fôlego em alguns episódios. Existem personagens bem construídos e carismáticos, mas também temos outros que são mais forçados do que o necessário. Com um desfecho surpreendente, a cena final deixa um gancho para uma continuação, mas será que realmente precisávamos disso?

Nota
★★★★☆ – 4 – Ótimo

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Criador e editor do Portal E7, Herbert é advogado, amante de games e séries. Gamertag/ID: "HerbertVFV".
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