Análise da minissérie Mare of Easttown
Vinte e cinco anos atrás, quando o colégio da cidade de Easttown venceu o campeonato estadual de basquete, Mare (Kate Winslet) se consagrou como a grande estrela do time. Hoje, trabalhando como sargento-detetive na delegacia do município, ela continua sendo uma pessoa muito conhecida na comunidade, mas já não tem tantos motivos para comemorar. Mare não consegue superar a trágica morte de seu filho e tudo indica que ela travará uma intensa batalha judicial pela guarda do neto, cuja mãe é viciada em drogas. Para aumentar sua frustração, Frank (David Denman), seu ex-esposo, seguiu com sua vida e está prestes a se casar novamente. Além de ser vizinho de Mare, Frank mantém uma ótima relação com as três pessoas que moram junto com ela: a filha, Siobhant (Angourie Rice), o neto, Drew (Izzy King), e Helen (Jean Smart), sua antiga sogra.
Durante a rotina de trabalho, a protagonista lida com os diversos tipos de problemas enfrentados pelos moradores da cidade. Quando Dawn (Enid Graham), uma antiga colega de Mare, decide ir até a TV reclamar do caso não solucionado do desaparecimento de sua filha, a detetive se vê obrigada a reabrir a investigação, que estava parada há mais de um ano. As coisas começam a ficar mais agitadas no meio policial quando o cadáver de uma jovem é encontrado em um riacho na região. O corpo estava totalmente nu e com uma lesão no rosto, pouco acima de um dos olhos. A vítima é Erin (Cailee Spaeny), uma mãe solteira que mora junto com o pai, Kenny (Patrick Murney), alguém que definitivamente você não faria nenhum tipo de elogio.
Aos poucos, passamos a conhecer as pessoas com as quais Erin tinha algum tipo de ligação. Como se já não bastasse a relação conturbada com o pai, ela também não se dava bem com Dylan (Jack Mulhern), o pai de seu filho, e sua atual namorada, Brianna (Mackenzie Lansing). Sua melhor amiga era Jess (Ruby Cruz), mas Erin também confidenciava alguns de seus segredos para o diácono Mark (James McArdle), que foi transferido para a paróquia do município após ter enfrentado uma acusação de assédio sexual feita pelos pais de uma garota de quatorze anos. Na noite em que foi morta, Erin se envolveu em uma briga com Brianna e fez uma ligação para o número do diácono, o que coloca os dois personagens na lista de suspeitos da polícia. Kenny, no entanto, acredita que Dylan é a única pessoa que poderia ser responsável pelo homicídio de sua filha, razão pela qual tenta matá-lo. Já adianto que essa não será a última ocorrência policial que será registrada. Com o desenrolar das coisas, facilmente mudamos de opinião sobre quem pode ser o autor do crime.
Visando auxiliar os trabalhos de investigação, o condado envia para Easttown o detetive Zabel (Evan Peters), que recentemente ganhou fama pelo trabalho desempenhado em um caso. Embora Zabel seja um cara simpático, sua presença desagrada Mare, principalmente por não ter sido solicitado nenhum tipo de apoio. Isso faz com que eles comecem a desenvolver um trabalho não muito amistoso, com Mare se negando até mesmo a pegar na mão de Zabel no instante em que eles se conhecem. Somente depois de um tempo é que a investigadora percebe que o colega não estava ali para assumir o controle do caso e muito menos prejudicar o seu trabalho. Quando os dois se entregam por completo, as coisas começam a fluir e novas linhas de investigação podem ser traçadas.
Outra pessoa com quem Mare estabelece um novo vínculo é o escritor e professor Richard (Guy Pearce), que recentemente se mudou para a cidade. Eles se conhecem em um bar, na noite do noivado de Frank, e começam a querer desenvolver um relacionamento amoroso. Helen fica extremamente animada ao saber que a filha estava novamente tendo encontros e não perde a oportunidade de se apresentar para o possível pretendente. A relação de Mare coma a mãe é repleta de discussões, mas no fundo uma sempre se preocupa com o bem-estar da outra. Os momentos envolvendo as duas até trazem um tom de humor para a minissérie.
No decorrer dos sete episódios, Mare of Easttown explora bem as subtramas envolvendo os personagens secundários. As ligações existentes entre os moradores do município é um elemento interessante para se observar desde o princípio, já que o crime é solucionado com base em detalhes que poderiam facilmente passar despercebidos por alguém que não tivesse um grande conhecimento sobre os habitantes da cidade. Criada e escrita por Brad Ingelsby, a minissérie da HBO tem um episódio de estreia relativamente padrão e até um pouco arrastado, mas nos capítulos seguintes entrega uma sequência empolgante de reviravoltas que culminam em um desfecho surpreendente. A produção primeiro prepara o terreno nos apresentando seus personagens para, apenas no final do primeiro capítulo, revelar o crime cuja investigação se estenderá até o final da história.
Considerações finais
A pequena cidade de Easttown é um local melancólico e sem brilho, onde nenhum dos personagens realmente parece viver bem. Enquanto lida com várias questões pessoais, Mare em momento algum deixa de ter disposição para atender qualquer tipo de chamado, o que não significa que ela seja uma super-heroína, já que a detetive usa de sua posição privilegiada para praticar um ato nada louvável. Mesmo sendo altamente pressionada, Mare consegue manter o equilíbrio necessário para cumprir o seu papel profissional. Curiosamente, é no meio do caos que surgem oportunidades para ela dar um novo rumo à sua vida.
Além de contar com uma narrativa bem construída e desenvolvida, Mare of Easttown se torna ainda melhor graças à excelente atuação do elenco. O destaque fica por conta de Kate Winslet, que interpreta a protagonista da atração. Kate se mostra muito à vontade no papel e desempenha um trabalho primoroso, transmitindo para o público as várias camadas de Mare, uma mulher amargurada e cercada de problemas. O resultado é uma minissérie policial bem produzida e que consegue nos surpreender em vários momentos.
Nota
★★★★★ – 5 – Excelente
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