Análise do livro A Revolução dos Bichos
O Sr. Jones era proprietário de uma fazenda inglesa conhecida como Granja do Solar. No passado ele geriu muito bem a propriedade, mas depois de perder dinheiro em uma ação judicial, Jones ficou desestimulado e começou a beber além do que deveria. Estando cada vez mais desleixado no cuidado com os animais, o proprietário foi surpreendido quando os bichos assumiram o controle da fazenda e fizeram com que ele, sua esposa e seus funcionários tivessem que fugir do local.
A revolução foi originalmente traçada pelo porco Major, que reuniu todos os animais no celeiro para lhes contar a história de um sonho que havia tido. Major discursou sobre a falta de liberdade dos animais e a forma com que eles eram tratados pelos humanos. Era preciso que houvesse uma união entre os bichos para combater o inimigo comum, o homem, causador de todos os problemas que eles enfrentavam. Como não sabia quando a revolução aconteceria, Major pediu aos animais que passassem esses ideais para frente, objetivando manter o espírito vivo entre eles. Três noites depois, o idealizador do movimento veio a óbito.
Meses após o falecimento de Major, os bichos decidiram se rebelar e colocar a ideia em prática. Como os porcos eram os animais mais inteligentes, assim que a fazenda foi totalmente tomada eles passaram a ditar as regras no local. Liderados por Bola-de-Neve e Napoleão, os bichos aos poucos começaram a tomar conta de todo o serviço do local. Com o sucesso da agora chamada Granja dos Bichos, os princípios do Animalismo começaram a ser disseminados para os animais da região por meio dos pombos, causando um certo temor nas propriedades vizinhas.
O principal problema é que Napoleão e Bola-de-Neve não concordavam com quase nada, dando origem a duas correntes de pensamentos; os animais basicamente escutavam o que cada um tinha a dizer, já que não eram capazes de desenvolver ideias tão elaboradas. Obviamente essa situação não se sustentaria por muito tempo e Napoleão encontra uma forma de fazer com que sua voz se sobressaísse. A partir desse momento é iniciado um processo de desmoralização de Bola-de-Neve, ocasião em que a sua heroica participação no dia da batalha passou a ser questionada e distorcida.
Um processo de dissimulação é instaurado e pouco a pouco a Granja dos Bichos passa por profundas transformações, sendo tudo encarado com certa naturalidade pelos animais, que não conseguiam argumentar com os porcos e eram impedidos de fazer qualquer tipo de manifestação contrária ao que eles sugeriam. No começo, os princípios do animalismo sofrem leves alterações que praticamente passam despercebidas, mas chega um momento em que as ideias elaboradas por Major são completamente violadas. Nesse ponto, é interessante observar que todas as justificativas apresentadas eram capazes de convencer os animais que eventualmente tivessem dúvidas sobre as mudanças, que muitas das vezes eram comunicadas aos bichos de forma aberta. Enquanto a vida dos demais habitantes da fazenda ficava cada vez pior, os porcos aumentavam os seus privilégios.
Publicado originalmente em 1945, George Orwell escreveu A Revolução dos Bichos como uma sátira política sobre a Rússia governada por Stálin. Conforme o próprio autor revela no prefácio da primeira edição inglesa, houve dificuldades para publicá-lo, já que a URSS era parceira da Inglaterra na luta contra a Alemanha Nazista. Apesar desse contexto político, a obra serve como crítica a qualquer regime totalitário. Mais de setenta anos depois, podemos encontrar trechos que nos lembram os momentos conturbados que vivemos atualmente. A forma com que Orwell construiu o enredo é o principal fator por tornar este livro um clássico atemporal.
“Não está, pois, claro como água, camaradas, que todos os males da nossa existência têm origem na tirania dos humanos? Basta que nos livremos do Homem para que o produto de nosso trabalho seja só nosso. Praticamente, da noite para o dia, poderíamos nos tornar ricos e livres.”
Considerações finais
A Revolução dos Bichos foi um livro que me fez ter várias reflexões durante a leitura. George Orwell conseguiu abordar um tema que muitas vezes pode ser complexo de uma forma extremamente simples, permitindo que qualquer um possa compreender como as coisas funcionam em um regime autoritário. É interessante observar que Napoleão inicialmente faz mudanças sutis na Granja dos Bichos, para posteriormente tomar medidas mais drásticas. Isso é o que muitas das vezes vemos no mundo político: pessoas são eleitas defendendo certos valores e depois aproveitam-se da posição em que estão para tomar atitudes voltadas exclusivamente para os seus projetos de poder.
As falácias e o controle sobre os animais são capazes até mesmo de manipular os fatos ocorridos no passado. É um nítido exemplo de dominação de massa, seja porque os seguidores não conseguem compreender o que está acontecendo ou estão cegos para enxergar aquilo que está à sua frente. O livro tem um ritmo muito bom e nos conduz a um final que mostra como uma luta contra os humanos, que tinha um propósito justo, acabou com o tempo perdendo todo o seu valor.
Nota
★★★★★ – 5 – Excelente
“Camaradas!”, conclamou Garganta. “Não imaginais, suponho, que nós, os porcos, fazemos isso por espírito de egoísmo e privilégio. Muitos de nós até nem gostamos de leite e de maçã. Eu, por exemplo, não gosto. Nosso único objetivo ao ingerir essas coisas é preservar a saúde. O leite e a maçã (está provado pela ciência, camaradas) contêm substâncias absolutamente necessárias à saúde dos porcos. Nós, porcos, somos trabalhadores intelectuais. A organização e a direção desta granja dependem de nós. Dia e noite velamos pelo vosso bem-estar. É por vossa causa que bebemos aquele leite e comemos aquelas maçãs.”
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