Análise da série Por um Respiro (1ª temporada)

Quando o novo coronavírus começou a se espalhar pelo mundo, o caos enfrentado por países como Itália e Espanha, no começo de abril de 2020, comoviam os brasileiros. No final de maio, o Brasil começou a registrar um número de óbitos superior ao que foi visto nos piores dias nesses dois países europeus. Passados alguns meses, o número elevado de mortes parecia não causar mais tanto impacto nas pessoas, era o começo da banalização da doença. Chegamos a 100 mil mortes, 200 mil… e algumas pessoas parecem achar que está tudo normal. Reuniões de família no final de ano, viagens, enquanto isso o vírus se espalha cada vez mais. 
Quer um bom exemplo de como estamos lidando mal com a pandemia? Minutos antes de eu assistir o episódio final de Por um Respiro, ecoava um canto de parabéns na minha vizinhança. Pela altura, dava para perceber que não haviam pouca gente no local. Estamos no meio da segunda onda de transmissão e as pessoas estão se aglomerando. Isso explica o fato de sermos o segundo país do mundo em número de óbitos. O governo tem sim parcela de culpa, mas o comportamento da população também contribui, e muito, para alcançarmos essa triste marca. É por essas e outras que a série documental do Globoplay, produzida pela Ocean Filmes, é extremamente necessária.
Em Por um Respiro, acompanhamos parte dos trabalhos de um grupo de profissionais de saúde do Hospital Universitário Pedro Ernesto (HUPE), localizado na cidade do Rio de Janeiro, e a luta diária em tentar salvar vidas de pacientes com Covoid-19. Se você, assim como eu, não está trabalhando na linha de frente, dentro dos hospitais, a série é uma boa oportunidade para ter uma pequena noção de tudo o que está acontecendo nos locais de tratamento da Covid-19. É impossível não se comover com o que é mostrado.
Os relatos dos médicos e dos demais profissionais envolvidos no tratamento dos pacientes deixam bem claro o enorme desafio enfrentado por todos eles. O vírus gera complicações não somente em idosos, mas também em crianças e em pessoas jovens. Cada paciente tem suas peculiaridades e os profissionais de saúde fazem o possível para salvar todas as vidas. É um trabalho muito complexo, que vai desde o acompanhamento de cada pessoa internada até o gerenciamento de leitos de CTI e de enfermagem. No meio da pandemia, uma vaga liberada acaba sendo rapidamente preenchida, parece ser um ciclo sem fim.
A atração também transmite para o público os sentimentos dos pacientes que estão isolados dentro do hospital. Acompanhamos relatos de pessoas que acabaram de chegar no HUPE para iniciar o tratamento, bem como o de pacientes que já estão lá há semanas, aguardando ansiosamente o momento de poderem retornar para suas casas. O único contato que eles têm com o exterior é através de videochamadas por smartphones. A nova rotina consiste em escutar sons dos aparelhos hospitalares 24 horas por dia e, no máximo, chegar até a janela para ter uma breve visão da cidade. Flávio, um dos pacientes que realiza o tratamento, menciona o quão especial os pássaros pousados no telhado (algo tão comum) estavam sendo para ele. Nesse momento, pequenos gestos acabam se tornando muito significativos.
Os seis episódios, com duração de aproximadamente 30 minutos cada, retratam o tratamento de pessoas de diferentes faixas etárias. Cada episódio aborda uma média de 3 a 4 casos, mas alguns pacientes acabam ganhando uma atenção maior no decorrer da temporada. Além do dia a dia no hospital, temos algumas cenas filmadas nas casas das pessoas que estavam internadas. A angústia dos familiares e a expectativa por uma rápida recuperação mostram que a doença gera reflexos não apenas naquele que foi contaminado: a família, que sequer pode fazer visitas, também sofre psicologicamente com toda a situação.
Considerações finais
Criada por Nuno Godolphim, com direção de Susanna Lira, Por um Respiro é um retrato honesto da pandemia dentro dos hospitais. Em meio à nova realidade instaurada, os relatos dos profissionais de saúde nos mostram os enormes desafios que são enfrentados por eles em cada jornada de trabalho. É uma série difícil de se assistir, principalmente se você encara a doença, desde o princípio, com a devida seriedade, ao mesmo tempo a atração deixa bem claro que nenhuma atitude de prevenção é feita em vão.
A série documental é muito bem produzida e conta com uma abordagem bastante intimista. Não se trata apenas de médicos, enfermeiros, psicólogos, fisioterapeutas e pacientes, cada um que está envolvido nesse processo possui uma história de vida única. Mesmo não conhecendo nenhum dos pacientes, a série nos faz criar um grau tão alto de empatia que acabamos torcendo por suas recuperações, ao mesmo tempo que cada morte noticiada gera uma lamentação.
Nota
★★★★★ – 5 – Excelente
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Criador e editor do Portal E7, Herbert é advogado, amante de games e séries. Gamertag/ID: "HerbertVFV".
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