Análise do jogo Carrion

Um grupo de cientistas está desenvolvendo um experimento em uma instalação secreta, quando um monstro consegue escapar e começa a destruir tudo o que encontra pela frente. Essa é uma boa forma de falar de Carrion, jogo desenvolvido pelo estúdio polonês Phobia Game Studio e publicado pela Devolver Digital. O grande diferencial do título é que o jogador não trabalha para impedir as ofensivas do monstro, ele assume propriamente o controle do antagonista.
Tudo tem início quando uma criatura consegue escapar de um recipiente de vidro e começa a se deslocar pelo ambiente, causando muitas mortes e pânico nas pessoas que ainda não foram dizimadas. Não há explicação do que se deve fazer, simplesmente explore as áreas que o jogo cuida de todo o restante. Os poucos textos existentes estão ali para ensinar os comandos básicos e como utilizar as habilidades desbloqueadas. Também existem brevíssimas menções àquilo que está acontecendo em momentos específicos do game, mas no geral a história é transmitida por meio do que presenciamos conforme progredimos. É uma forma simples de contar a narrativa, mas acaba funcionando muito bem dentro da proposta que foi criada.
Logo quando iniciei o jogo, tive um pouco de dificuldades com a movimentação, mas bastou um breve período de jogatina para me acostumar com as mecânicas. A movimentação do personagem é feita com o analógico esquerdo, enquanto podemos controlar um dos tentáculos do monstro com o analógico direito. Utilizando o tentáculo mais o botão de interação, é possível atacar os inimigos, ativar interruptores, arrancar as portas que estão no caminho e destruir cápsulas de vidro para ganhar novas habilidades.
Quanto mais humanos são atacados, maior se torna a biomassa da criatura e consequentemente mais dano ela consegue suportar. O tamanho da biomassa também tem influência nas formas que a criatura assume, o que interfere nas habilidades que podem ser utilizadas. Quando estamos no tamanho médio, temos acesso a certas habilidades que não estão disponíveis na forma maior, e vice versa. Já nos momentos em que a biomassa está muito pequena, não é possível usar nenhuma habilidade. Desta forma, a biomassa acaba fazendo parte da mecânica de puzzle, já que para executar determinadas ações você precisa estar em um dos três estágios disponíveis. Para facilitar a vida do jogador, nas áreas onde é necessário fazer a transição entre os tipos de formas, existem locais para depositar a biomassa, permitindo uma rápida alternância de tamanho.
Carrion não conta com um sistema de salvamento automático, é preciso encontrar os locais específicos para fazer o save manual. Como não existe um mapa, para encontrar os pontos de salvamentos você pode utilizar a “doce” voz do personagem. O rugido, além de assustar as pessoas e deixar os humanos armados em alerta, também indica a direção das áreas de save mais próximas por meio de um sistema de eco. Quando o personagem se espreme em locais que permitem viagens rápidas entre as áreas do jogo, também ocorre o salvamento. Como são muitos locais disponíveis para guardar o progresso, em caso de morte geralmente, não é necessário rejogar trechos muito grandes.
O game é uma mistura de plataforma 2D com metroidvania. Você tem liberdade para ir e vir, mas para acessar determinados locais é preciso resolver puzzles e ter certas habilidades. Em cada área há um painel que mostra o seu progresso na região; também existe uma sala específica do game onde é possível ver os progressos de todas as localizações. As regiões apresentam diferentes tipos de mecânicas e inimigos variados. À medida que avançamos, os desafios aumentam, exigindo maior raciocínio na hora de traçar as estratégias. Em grande parte dos ambientes, Carrion permite que o jogador seja agressivo ou mate os inimigos furtivamente, se escondendo pelos cenários, mas existem momentos em que não é possível escolher qual tipo de abordagem você irá executar, sendo necessário encarar de frente os perigos.
Em trechos específicos, controlamos uma das pessoas que estão investigando o que aconteceu na instalação. Nesses momentos é que pequenos detalhes da história são revelados, por meio breves frases, enquanto o cientista realiza certas ações. Os humanos apresentam movimentações extremamente travadas, o que torna processos simples, como subir e descer escadas, algo pouco responsivo. Às vezes você já chegou no topo e está querendo se locomover para o lado, mas o personagem ainda não se soltou da escada.
Quanto aos elementos audiovisuais, Carrion apresenta um estilo visual retrô bonito e ótimos efeitos sonoros. Destaco, especialmente, os gritos desesperados das pessoas ao presenciarem o monstro. Temos ainda uma trilha sonora discreta, que sofre leves alterações conforme as localizações em que estamos. A destruição causada pela criatura fica registrada por onde ela passou: caso tenha havido mortes de pessoas, o sangue fica espalhado pelo cenário, assim como todo o estrago que foi causado.
Um fator que merece ser mencionado é que o jogo oferece uma experiência curta, podendo ser finalizado em aproximadamente quatro horas. Se você for atrás dos 100%, seu tempo de jogatina será levemente aumentado. O fato de um jogo ser curto não é propriamente um ponto negativo, mas em um país como o Brasil, onde as coisas são extremamente caras, a duração pode ser crucial na hora de efetuar uma compra.
Lançado em 2020, Carrion está disponível para Nintendo Switch, Xbox One, Windows, Linux e macOS. Esta análise foi feita com base na versão do Xbox One.
Considerações finais
Descrito pelos próprios desenvolvedores como um jogo de “terror reverso”, Carrion adota uma pegada pouco utilizada na indústria dos jogos digitais: o personagem que controlamos na verdade é o antagonista da história. Assumindo o papel de um monstro, seu único objetivo é encontrar uma forma de sair da instalação científica em que se encontra. Para isso, se prepare para explorar uma série de áreas e enfrentar diferentes tipos de oponentes e sistemas de segurança sofisticados.
Carrion encanta pela simplicidade, ao mesmo tempo que consegue contar uma história intrigante e misteriosa. Apesar de ser um pouco estranha no começo, a jogabilidade é bastante fluida, com exceção dos raros momentos em que controlamos seres humanos. Do meio para o fim, eu já executava as ações quase que em modo automático. O título apresenta um grau moderado de desafio, jamais sendo punitivo com o jogador. No fim, a experiência proporcionada é extremamente positiva.
Nota
★★★★☆ – 4 – Ótimo
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Criador e editor do Portal E7, Herbert é advogado, amante de games e séries. Gamertag/ID: "HerbertVFV".
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