Análise do filme Twin Peaks: The Missing Pieces
Após a exibição de sua segunda temporada, Twin Peaks sofreu um amargo cancelamento por parte da emissora ABC. Por sorte, o público teve a oportunidade de conhecer mais detalhes sobre o misterioso universo criado por David Lynch e Mark Frost em Twin Peaks: Os Últimos Dias de Laura Palmer, filme dirigido por Lynch e lançado em 1992. Funcionando como um prólogo e retratando alguns acontecimentos mencionados na série, o longa também não abriu mão de introduzir novas situações.
Em 1992, o co-roteirista Robert Engels afirmou que a primeira edição de Os Últimos Dias de Laura Palmer tinha 3 horas e 40 minutos de duração. Desde então, os fãs incansavelmente pediam para que esse material descartado fosse lançado, já que a sensação geral é que o filme poderia ter entregado muito mais. Esse desejo, no entanto, só foi atendido em 2014, quando Twin Peaks: The Missing Pieces foi adicionado como um extra no lançamento da série em blu-ray.
Não espere ver nada muito elaborado. O que temos é uma simples junção de cenas estendidas e excluídas que, na maioria das vezes, não tem ligação nenhuma (não há uma sequência lógica). Com 1 hora e 32 minutos, trata-se de um produto voltado inteiramente para os fãs do universo de Twin Peaks. Eu só recomendaria você assistir The Missing Pieces depois de ver Os Últimos Dias de Laura Palmer, já que o primeiro funciona muito bem como um complemento para o segundo. Além disso, o ideal é que antes você também tenha visto as duas primeiras temporadas da série.
É possível perceber que diversas ideias foram concebidas para o longa-metragem. Durante a investigação do assassinato de Teresa Banks (Pamela Gidley), ficou bem evidente que a polícia local não estava nem um pouco interessada em ajudar os agentes Chester Desmond (Chris Isaak) e Sam Stanley (Kiefer Sutherland) na investigação do crime. Nesse ponto, temos uma curiosa cena extra que revela que o xerife Cable (Gary Bullock) e o agente Desmond entraram em vias de fato quando o FBI manifestou o interesse de levar o cadáver de Teresa para realizar exames em Portland.
Temos uma participação muito maior de Phillip Jeffries (David Bowie), apesar de suas cenas ainda permanecem confusas e intrigantes. Outro momento que me chamou atenção foi o jantar na casa da família Palmer: enquanto no filme, Leland (Ray Wise) cria o maior caso porque Laura (Sheryl Lee) não tinha lavado as mãos antes de sentar-se à mesa, aqui temos uma versão completamente diferente, onde todos se divertem bastante na hora da refeição.
Tudo retratado no filme de 1992 são fatos ocorridos antes da primeira temporada da série. Com o lançamento de The Missing Pieces descobrimos que uma pequena continuação do final da segunda temporada foi gravada, mas acabou sendo descartada. As cenas em questão mostram pequenos detalhes do que aconteceu com os personagens Dale Cooper (Kyle MacLachlan) e Annie (Heather Graham) após os eventos retratados na série. Embora não acrescente grandes coisas, eu diria que esse foi o meu momento preferido em termos de conteúdo inédito.
Considerações finais
Para falar de Twin Peaks: The Missing Pieces é preciso levar em consideração que se trata de um produto inteiramente voltado para os fãs do misterioso universo criado por Mark Frost e David Lynch. É uma pena que esta compilação de cenas demorou vinte e dois anos para ser conhecida pelo público. Apesar disso, o seu lançamento aconteceu em um bom momento, já que três anos depois a série ganharia uma terceira temporada no Showtime.
A ordem das cenas apresentadas é idêntica àquela vista em Os Últimos Dias de Laura Palmer, sendo a principal diferença a adição do conteúdo inédito relacionado com o desfecho da segunda temporada de Twin Peaks. Percebemos que algumas cenas acrescentam muito pouco, mostrando que a decisão de excluí-las foi acertada. Eu ouso dizer que se determinadas cenas aqui apresentadas estivessem no filme de 1992 no lugar de outras lá presentes, a experiência poderia ter sido mais prazerosa. O “novo” filme (se é que podemos chamá-lo assim) funciona bem dentro daquilo que se propõe, sendo um produto feito para ser apreciado por um público muito específico. O conhecimento prévio aqui é essencial, já que não temos uma sequência lógica de fatos.
Nota
★★★☆☆ – 3 – Bom
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