Análise do filme Twin Peaks: Os Últimos Dias de Laura Palmer
Como o próprio nome sugere, Twin Peaks: Os Últimos Dias de Laura Palmer (no original, Twin Peaks: Fire Walk with Me) é um filme derivado de Twin Peaks. Portanto, para ter uma experiência completa, é imprescindível que você assista antes as duas primeiras temporadas da série criada por Mark Frost e David Lynch, exibida em 1990 e 1991. O filme aprofunda a vida problemática da jovem Laura Palmer (Sheryl Lee), que foi encontrada morta na beira de um rio, enrolada em um saco plástico, no começo da série. Sem ter essa base, muitas das coisas retratadas no longa não farão o menor sentido.
O filme inicia mostrando parte da investigação do assassinato de Teresa Banks (Pamela Gidley), fato mencionado algumas vezes por Dale Cooper (Kyle MacLachlan) na série, mas que nunca teve grandes detalhes revelados. A ligação entre os dois assassinatos é a presença de uma letra cuidadosamente colocada debaixo de uma das unhas de ambas as vítimas. Assim que o FBI foi comunicado sobre o homicídio de Teresa Banks, Gordon Cole (David Lynch) enviou os agentes Chester Desmond (Chris Isaak) e Sam Stanley (Kiefer Sutherland) para investigar o caso. A interferência do FBI acaba gerando um incômodo na polícia local, que além de não ajudar os agentes especiais, sempre que possível assume posturas para atrapalhar o trabalho de Desmond e Stanley.
Depois de um fato inusitado ocorrer, o agente Cooper passa a assumir as investigações. Nesse quesito, a história não avança muito: cerca de 35 minutos são reservados para o caso de Teresa Banks. Dentro desse tempo, presenciamos uma cena muito esquisita envolvendo o agente Phillip Jeffries (David Bowie) nas instalações do FBI e o mistério da rosa azul, código utilizado para algo secreto que não é revelado no longa. Embora detalhe alguns pontos envolvendo os personagens da série, o filme também não perdeu a oportunidade de criar novos mistérios para o já inusitado universo de Twin Peaks.
Passada essa parte introdutória, a atenção do longa volta-se completamente para a história da filha de Leland (Ray Wise) e Sarah Palmer (Grace Zabriskie). Acompanhamos então a conturbada vida de Laura, que tinha envolvimento com drogas e prostituição. Não é para menos: a jovem era atormentada dentro de sua própria casa pelo pai, que estava possuído pelo espírito de Bob (Frank Silva). Todas as cenas envolvendo esses dois/três personagens são muito bem feitas e acabam se destacando como os melhores momentos da película. Por outro lado, alguns trechos focados nos personagens secundários parecem estar ali apenas para preencher as 2 horas e 14 minutos do filme.
Apesar da proximidade com Donna, Laura utilizava as folhas do seu diário para desabafar suas maiores amarguras. Ela preferia manter em segredo parte dos seus problemas do que submeter sua melhor amiga a riscos. Importante mencionar o fato de a atriz Lara Flynn Boyle ter sido substituída por Moira Kelly no papel da personagem Donna – essa foi a única alteração no elenco dos personagens já existentes na série. É de se lamentar a troca em uma personagem tão importante, mas Moira Kelly consegue desempenhar uma boa performance.
A jornada de deterioração de Laura é abordada em detalhes e culmina com aquilo que deu origem ao seriado: a sua morte. Lynch utiliza muito bem os ângulos e recursos de iluminação para deixar evidente o esgotamento de Laura nos seus últimos momentos de sua vida. A cena de sua morte, marcada por brutalidade e sofrimento, conta com uma excelente direção (talvez o melhor momento do filme nesse quesito), com ótimas alternâncias das figuras de Leland e Bob.
Considerações finais
A atmosfera e o surrealismo do universo de Twin Peaks se mostram presentes em Os Últimos Dias de Laura Palmer, mas a experiência de assistir o longa-metragem é completamente diferente daquela proporcionada pela série. O fator surpresa tem um grau muito menor aqui, já que grande parte da narrativa do filme não era novidade para o público. Para completar, a parte “inédita” do filme, que funciona praticamente como um prólogo, não apresenta quase nenhuma ligação com a segunda parte da narrativa, deixando a ideia de que eram quase histórias independentes.
Muito embora seja uma prequela, é elogiável a ideia de expandir o universo da série. O problema é que a forma com que isso foi feito gerou mais questionamento do que explicações. O elenco do filme é formado majoritariamente por atores que trabalharam em Twin Peaks, o que já era um bom indício. De forma especial, destaco as excelentes atuações de Sheryl Lee e Ray Wise, que realmente entregam excelentes trabalhos ao darem vida mais uma vez a Laura e Leland, respectivamente. A película conta com uma boa direção e sua trilha sonora é excelente. O grande problema está no enredo: para um filme derivado de uma série com um universo extremamente complexo, o resultado entregado fica bem abaixo do esperado.
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