Análise da série Noite Adentro (1ª temporada)

Um dos fatores mais positivos do serviço de streaming da Netflix é possibilitar que seus assinantes tenham contato com produções oriundas de diversas partes do mundo. Seguindo o seu plano de expansão de conteúdo original, a companhia lançou, em maio de 2020, a sua primeira série belga, Noite Adentro (Into the Night, no original), atração que é inspirada no livro The Old Axolotl, de Jacek Dukaj.
Em um dia aparentemente normal, começamos a acompanhar as atividades de algumas pessoas que estavam prestes a embarcar em um voo noturno de Bruxelas para Moscou. No aeroporto, imagens na televisão mostravam pessoas caídas no chão durante uma partida esportiva; alguma coisa parecia estar acontecendo do outro lado do mundo, mas ninguém tinha uma explicação plausível. Quando Terenzio (Stefano Cassetti), um oficial italiano da OTAN (Organização do Tratado do Atlântico Norte), escuta em uma reunião que o sol poderia estar matando as pessoas, ele imediatamente se dirige para o aeroporto com o intuito de tentar salvar a sua vida.
Como não tinha passagem, Terenzio não consegue acessar a área de embarque. Impulsivamente, o oficial rouba o rifle de um agente da segurança e escolhe, aleatoriamente, uma aeronave para sequestrar. Ao adentrar no avião que partiria rumo a Moscou, ele obriga o copiloto Mathieu (Laurent Capelluto) a decolar rumo ao oeste, mudando completamente o plano de voo original. Enquanto discutia com Mathieu, Terenzio atira na mão do copiloto, tornando a situação ainda mais crítica. O italiano explica que o nascer do sol estava matando as pessoas, mas ninguém coloca muita fé nas suas palavras. Com a tripulação incompleta e o copiloto ferido, quem auxilia na decolagem da aeronave é Sylvie (Pauline Etienne), uma ex-piloto de helicóptero militar que até então era só uma passageira.
No momento em que se preparavam para pousar na Irlanda, o grupo percebe que o local estava completamente devastado, o que faz com que as palavras de Terenzio ganhem credibilidade. Diante desse fato, eles voltam para a Escócia e aterrissam em uma base militar aparentemente deserta. Ao descerem da aeronave, os passageiros começam a receber mensagens em seus telefones e veem que as últimas notícias comprovavam o que Terenzio disse antes deles saírem de Bruxelas: os raios solares estavam dizimando os humanos. As pessoas nem tinham tido tempo para assimilar as informações quando três militares aparecem. Quem seriam eles e por quê somente os três estavam na base? Sem tempo para muitas explicações, logo que pequenos reparos são feitos no avião, todos seguem viagem rumo ao oeste.
No meio desse caos, vamos aos poucos conhecendo as histórias dos personagens. Cada episódio começa mostrando como era a vida de um dos sobreviventes antes de tudo acontecer, o que resulta em uma coletânea de histórias interessantes. Um dos passageiros do avião, por exemplo, havia acabado de perder seu namorado e planejava cometer suicídio assim que chegasse em Moscou. O curioso é que essa pessoa assume uma grande importância no grupo e agora luta contra aquilo que era o seu plano inicial. Cada um tinha um motivo para ter embarcado no avião, mas nem todos deixam claro o que fariam na capital russa.
A cada nova aterrissagem, a situação fica cada vez mais complicada: os personagens precisam contar com a sorte para encontrar combustível, alimentos e remédios em países desertos e que eles desconhecem completamente. Assim que o avião decola novamente, reina a incerteza se o grupo conseguirá chegar até o próximo destino. O grande problema é que muitas vezes pequenas decisões são tomadas sem que todos sejam ouvidos, gerando ainda mais discordância entre as pessoas. Com os nervos à flor da pele, o avião se torna palco de constantes discussões, principalmente pela personalidade forte de alguns personagens, como é o caso do próprio Terenzio. Apesar de alguns problemas, é uma história interessante de se acompanhar e que apresenta um desfecho interessante.
Considerações finais
É preciso dizer que Noite Adentro não é uma mega produção e muito menos apresenta uma proposta inovadora. A história girando em torno de um voo e flashbacks focados na vida dos personagens me fizeram lembrar de Lost. A ideia de colocar personagens em um mundo devastado por um apocalipse é algo que também já foi retratado em inúmeras séries. O diferencial é que os raios solares são os causadores de tudo, além do fato dos sobreviventes fazerem uso constante de uma aeronave para tentar se manter vivos. A primeira temporada é pequena, composta apenas de seis episódios, com duração de 37 a 40 minutos.
Criada por Jason George, que já esteve envolvido em diversas produções internacionais da Netflix, a série se mostra exagerada em muitos momentos, mas esse não é o maior problema da atração. Noite Adentro perde a oportunidade de criar uma abordagem mais profunda sobre o novo dilema enfrentado pela humanidade em prol de dar um enfoque muito grande nos conflitos entre os sobreviventes – as discussões existem em todos os episódios. Todavia, nem tudo é ruim: o elenco desempenha um bom trabalho e a série acerta na construção de alguns momentos dramáticos e nas histórias de origem dos personagens. O final aberto deixou muitas questões para serem respondidas.
Nota
★★★☆☆ – 3 – Bom
Veja mais sobre Noite Adentro:
➜ Você pode ler análises de outras séries clicando aqui.
Criador e editor do Portal E7, Herbert é advogado, amante de games e séries. Gamertag/ID: "HerbertVFV".
Deixe seu comentário ›