Análise da série Hunters (1ª temporada)
Estados Unidos, 1977. O que parecia ser uma confraternização descontraída se transformou em uma grande tragédia quando uma das convidadas fica chocada ao perceber que o anfitrião da festa, Biff (Dylan Baker), era um oficial nazista conhecido como açougueiro. Biff até tentou despistar a situação, mas ao se dar conta de que realmente havia sido reconhecido, ele decidiu matar todos os que estavam presentes, incluindo a sua própria família. Essa é uma boa prévia do que vamos encontrar no decorrer dos episódios da primeira temporada de Hunters.
Com o fim da Segunda Guerra Mundial, vários nazistas do alto escalão foram contratados secretamente pelo governo dos Estados Unidos; a ideia era usá-los como espiões, cientistas, engenheiros e no que mais fosse necessário. Foi uma ação rápida para impedir que os Soviéticos utilizassem a inteligência dos oficiais alemães no período que viria a ser conhecido como Guerra Fria. Agora, em um novo território, os criminosos de guerra e seus simpatizantes estão conspirando para a criação de um Quarto Reich. Quando Meyer Offerman (Al Pacino), um sobrevivente do holocausto, descobre que existem nazistas vivendo como cidadãos comuns nos EUA, ele decide criar um grupo de caçadores para colocar um fim nos simpatizantes desse cruel regime.
Envolvido com as drogas, Jonah (Logan Lerman) é um jovem judeu que mora no Brooklyn junto com sua avó, Ruth (Jeannie Berlin), uma das sobreviventes do campo de concentração de Auschwitz. Durante uma noite, alguém invade a casa deles e mata Ruth com um tiro. Após o velório, Jonah conhece Meyer, um antigo companheiro de sua avó, que passa a lhe prestar auxílio. Meyer só revela no que ele está envolvido depois que Jonah quase é morto ao tentar decifrar quem era o responsável pelo assassinato. Offerman então detalha o envolvimento de Ruth com o grupo e o desejo que ela tinha de manter o neto afastado dessas questões. Jonah, no entanto, decide se juntar a eles e passa a colaborar com a caçada aos nazistas.
Além de Meyer, o grupo é formado pelo casal Murray (Saul Rubinek) e Mindy (Carol Kane), especialistas em comunicações; o ator de cinema Lonny Flash (Josh Radnor), que fez alguns filmes de sucesso e é o mestre dos disfarces da equipe; Joe (Louis Ozawa Changchien), um ex-soldado da guerra do Vietnã; a ativista negra Roxy (Tiffany Boone); e a irmã de caridade Harriet (Kate Mulvaney). Dentre todos os caçadores, Meyer e Harriet são os personagens que apresentam as tramas mais interessantes.
Como não viveu o holocausto, Jonah fica grande parte da série um pouco deslocado dentro do grupo, já que a maioria dos integrantes tinham questões sentimentais que motivavam sua luta. Isso fica bem nítido quando o jovem compara as situações em que eles estão envolvidos com histórias em quadrinhos ou no momento em que ele sente pena das ações que estavam sendo praticadas contra um dos alvos.
Do outro lado da narrativa, os destaques ficam por conta de três personagens. Quem comanda toda a operação nazista é a Coronel (Lena Olin), uma alemã que sente orgulho de todos os feitos de Hitler durante a Segunda Guerra Mundial. Outro nome importante para a operação é Biff, oficial alemão que se infiltrou no alto escalão do governo e tem como missão principal fazer com que os Estados Unidos retirem as sanções impostas aos países latino-americanos, em especial a Argentina, que possui uma relevância dentro da história. Por fim, Travis (Greg Austin), ao contrário dos outros, nasceu nos Estados Unidos e é capaz de fazer qualquer coisa para tirar do caminho aqueles que estão atrapalhando os planos dos seus aliados.
Depois de ter praticamente implorado para que seu chefe lhe desse um caso, Morris (Jerrika Hinton) começa a investigar a morte de uma cientista alemã que trabalhava na NASA. Aos poucos a agente do FBI também averigua outras mortes suspeitas, o que a coloca no meio do confronto entre os caçadores e os nazistas. Crescendo ao longo dos capítulos, é no arco de Morris que se concentram muitas das críticas sociais feitas pela atração.
Embora conte com comoventes cenas de flashbacks, Hunters peca na construção de sua história no presente. Os caçadores conseguem facilmente várias informações sobre os seus próximos alvos, mas o processo para o levantamento desses dados não é mostrado. Essa situação acontece várias vezes ao longo dos episódios, deixando o enredo muito superficial e repetitivo, afinal, como tantos dados secretos eram obtidos de forma tão rápida? Outro destaque negativo é o desenvolvimento dos personagens: os roteiristas nitidamente escolheram quais nomes do grupo dos caçadores iriam receber uma construção mais trabalhada, fazendo com que os outros fiquem em segundo plano. A julgar pelo tamanho dos episódios, imaginei que teríamos um melhor desenvolvimento dos personagens e uma trama mais rica em detalhes, já que o tempo não foi um problema.
Considerações finais
A primeira série em que Al Pacino possui um papel regular é uma mistura de muitas coisas, mas nem todas funcionam bem. Mesclando humor com uma história dramática inconsistente, Hunters até tenta criar um clima mais descontraído fazendo referências a Batman, Star Wars e Sherlock Homes, mas o grande problema da produção é a forma com que o enredo é desenvolvido. A utilização exaustiva da fórmula informações secretas ‘instantâneas’, plano de assassinato e execução de nazistas faz com que a série se torne repetitiva, apesar de ainda ter conseguido despertar a minha curiosidade em saber qual seria o desfecho.
Por outro lado, o elenco desempenha um ótimo trabalho, a direção surpreende o telespectador com tomadas de câmeras ousadas, a trilha sonora é muito boa (com presença de Tim Maia) e o trabalho de caracterização de época é bem executado. Mesmo com pequenas falhas no enredo, a atração criada por David Weil conta com boas reviravoltas, principalmente na sua reta final, quando temos revelações importantes envolvendo os seus personagens principais. O desfecho, ainda que abuse de teorias da conspiração, acabou me surpreendendo; a cena final foi algo que eu definitivamente não estava esperando.
Nota
★★★☆☆ – 3 – Bom
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