Análise da série The Leftovers (1ª temporada)
14 de outubro de 2011 poderia ser apenas mais um dia normal, mas um acontecimento repentino mudou completamente a vida na Terra: 2% da população mundial desapareceu de forma misteriosa, o que correspondia a aproximadamente 140 milhões de pessoas. Além de não saber para onde toda essa gente foi, ninguém conseguiu apresentar uma explicação científica para o enigmático evento. Esse é o ponto de partida de The Leftovers, série criada por Damon Lindelof (Lost) e Tom Perrotta, baseada no romance homônimo de Perrotta, conhecido no Brasil como Os Deixados Para Trás.
Três anos depois, as pessoas ainda tentam se recuperar do trauma após terem perdido familiares e amigos. A pequena cidade de Mapleton, local em que a série é ambientada, não conseguiu retomar a sua normalidade e enfrenta muitos problemas. Para citar apenas alguns exemplos, cães selvagens vagam pelas ruas, os moradores apresentam comportamentos estranhos e um culto identificado como Remanescentes Culpados (RC) atormenta a vida dos habitantes locais. Quem tenta controlar tudo isso é o chefe de polícia Kevin Garvey Jr. (Justin Theroux), que também tem suas tribulações.
Embora não tenha perdido ninguém no dia da partida repentina, Kevin viu sua família desmoronar após o fatídico 14 de outubro. Sua mulher, Laurie (Amy Brenneman), largou tudo para se juntar aos RC. Jill (Margaret Qualley), a filha adolescente do casal, mora junto com Kevin, mas não tem nenhum tipo de relacionamento profundo com ele. Já Tom (Chris Zylka), filho biológico de Laurie e adotivo de Kevin, largou a faculdade para ir seguir um profeta conhecido como Santo Wayne (Paterson Joseph). Como se tudo isso não bastasse, o pai (Scott Glenn) de Kevin, ex-chefe de polícia da cidade, está internado em um centro de saúde mental depois de ter começado a ouvir vozes.
Assim como a questão do desaparecimento, os Remanescentes Culpados são um dos maiores mistérios da temporada de estreia de The Leftovers. O objetivo do culto é fazer com que as pessoas que sumiram no dia 14 de outubro não sejam esquecidas. Vestindo-se totalmente de branco, eles moram juntos em várias casas vizinhas e são constantemente vistos fumando. Outra característica é o fato deles nunca usarem a voz para se expressar, toda a comunicação é feita por gestos ou escrita, motivo pelo qual os integrantes estão sempre portando um bloco de anotações e caneta. O grupo não é violento e não age nem mesmo em legítima defesa. O comportamento dos RC é algo que incomoda bastante a população de Mapleton, que muitas das vezes perde a paciência e parte para as vias de fato.
Outros personagens marcantes da história são o reverendo Matt Jamison (Christopher Eccleston) e Nora Durst (Carrie Coon). O religioso publica panfletos expondo os erros que foram cometidos por muitos daqueles que desapareceram; para Matt, essas pessoas não seriam dignas de terem recebido tal privilégio. As exposições feitas pelo reverendo geram revolta na população e ele também se torna alvo de agressões. Nora é irmã de Matt e, no dia da partida repentina, perdeu o marido e os dois filhos. Agora vivendo sozinha, Nora tenta encontrar formas de superar o sumiço da família. Ao longo dos dez episódios, ela começa a ter um relacionamento amoroso com Kevin.
O começo de The Leftovers nos deixa bastante confusos. Muitas são as informações fornecidas, mas poucas coisas fazem sentido na primeira metade da temporada. Nos episódios finais, compreendemos melhor a narrativa que, apesar de complexa, foi muito bem construída até aqui. Somente depois de desenvolver bem a história de seus principais personagens é que o seriado mostra, em detalhes, no seu penúltimo capítulo, o que aconteceu no dia 14 de outubro de 2011. O episódio final, o melhor da temporada, nos coloca dentro de um verdadeiro caos e aprofunda ainda mais os mistérios da atração.
Considerações finais
Sendo o primeiro trabalho de Damon Lindelof após o fim de Lost, The Leftovers guarda poucas semelhanças com a série que se tornou um fenômeno mundial entre 2004 e 2010. Estamos mais uma vez diante de uma obra de ficção científica repleta de mistérios, mas desta vez com uma pegada completamente diferente. O desaparecimento de uma quantidade tão grande de indivíduos fez com que diversas teorias e crenças surgissem, provocando um verdadeiro caos na sociedade. As pessoas não têm certeza de nada, o que as tornam mais vulneráveis para acreditar em teorias da conspiração.
Enquanto o elenco desempenha uma ótima atuação, direção e fotografia são muito bem executadas e uma bela abertura nos é apresentada, o maior problema da primeira temporada de The Leftovers é a forma com que a história é introduzida para o espectador. Não estou falando da complexidade da narrativa, mas sim do ritmo lento dos primeiros episódios, o que pode ser determinante para desencorajar algumas pessoas a seguirem adiante. Apesar disso, a série da HBO se redime na segunda metade da temporada, entregando uma ótima conclusão para o seu primeiro ano.
Nota
★★★★☆ – 4 – Ótimo
Veja mais sobre The Leftovers:
└ Análise da série The Leftovers (2ª temporada)
└ Análise da série The Leftovers (3ª temporada)
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