Análise do filme Parasita
Ki-woo (Choi Woo-shik) mora junto com sua irmã Ki-jeong (Park So-dam) e seus pais Ki-taek (Song Kang-ho) e Choong-sook (Jang Hye-jin) em um porão localizado na periferia de um grande centro urbano sul-coreana. Desempregados, a família Kim trabalha em sua própria casa montando caixas de pizza para uma empresa. Como o retorno financeiro é extremamente baixo, eles vivem em uma situação extremamente precária. A cena inicial, em que Ki-woo e Ki-jeong tentam encontrar uma rede de wi-fi para ter acesso a internet contrasta totalmente com a visão que temos da Coreia do Sul, país que é referência em termos de redes móveis e foi o primeiro do mundo a implementar a tecnologia 5G.
Min-hyuk (Park Seo-joon) está prestes a deixar o país para ir estudar no exterior. Antes, porém, ele decide ir despedir do seu amigo Ki-woo. Na ocasião, Min-hyuk presenteia Ki-woo com uma pedra (que, segundo ele, traria grandes riquezas para a família Kim) e lhe faz uma proposta inusitada, convidando-o para assumir o seu cargo de tutor de inglês de Da-hye (Jung Ji-so), a filha mais velha de uma família rica da cidade. Acontece que Ki-woo não é universitário e nem possui documentos que lhe dê créditos para que ele possa lecionar o idioma. Sua irmã até o ajudou na parte burocrática, falsificando alguns documentos, mas a indicação de Min-hyuk, por si só, já despertou o interesse de Yeon-gyo (Cho Yeo-jeong), mãe de Da-hye, em contratá-lo.
A partir desse momento, começa uma parte divertida do filme, onde Ki-woo tenta arrumar emprego para toda sua família na casa dos seus novos patrões. Sua irmã acaba se tornando a professora de artes do filho mais novo do casal rico, seu pai consegue o emprego de motorista e sua mãe vira a nova governanta da casa. Tudo foi feito com base em uma série de planos muito bem pensados, todos abusando da inocência da família Park, que parece que não onde recorrer quando estão em apuros. Quando os patrões vão para um acampamento e deixam sua imensa e bela casa sob responsabilidade de Choong-sook, Ki-woo e sua família aproveitam, ainda que por pouco tempo, todo o luxo existente no local. Tudo estava indo muito bem naquele fim de semana até uma visita inesperada revelar um grande segredo escondido na casa, momento em que a história muda completamente de rumo.
O diretor Bong Joon-ho, que também é corroteirista do longa-metragem, ao lado de Han Jin-won, consegue mostrar com clareza a grande diferença entre as duas famílias. Enquanto os Park moram em uma casa espaçosa e bem iluminada, a família Kim vive um um local pequeno, onde mal há lugar para um vaso sanitário no banheiro. Como moram abaixo do nível da rua, Ki-woo e sua família precisam ficar de olho nas pessoas que urinam na rua, uma vez que há risco do líquido entrar na residência. Uma das cenas mais emblemáticas do longa acontece quando Yeon-gyo, durante uma conversava no celular, afirma que o céu da cidade estava azul e sem poluição, e que a chuva havia sido uma verdadeira bênção. Em cenas anteriores, foi mostrado ao espectador o efeito que a enchente formada pela forte chuva provocou na residência de Ki-taek. É o choque de dois mundos! Outra excelente cena acontece quando Ki-taek fala para o filho sobre a ideia de traçar planos.
É sim um filme que trabalha questões sociais, mas, acima de tudo, Parasita (기생충 ou Gisaengchung, no original) se destaca por apresentar um excelente roteiro. Esse é aquele tipo de filme que consegue te surpreende a cada momento, você nunca é capaz de prever o que acontecerá nas próximas cenas. O longa começa contando a história e uma família pobre e, ao longo de suas pouco mais de duas horas de duração, nos apresenta uma sequência inusitada de eventos que fogem totalmente da estrutura narrativa inicial. Isso, consequentemente, gera no público um misto de sentimentos, aproximado-nos cada vez mais da família Kim.
A história foi inspirada em uma experiência real vivida por Bong Joon-ho, conforme ele mesmo explicou durante uma entrevista: “O argumento e o roteiro são originais, mas, quando jovem, e ainda estava na faculdade, trabalhei como tutor na casa de uma família rica. Dava aulas particulares e, quando os pais não estavam, meu estudante me levava para conhecer os ambientes. Mostrou-me a sauna privativa, e aquilo me passou uma ideia de invasão de privacidade, como se eu fosse um voyeur, fantasiando sobre a vida daqueles estranhos. A ideia ficou comigo e, de alguma forma, germinou no que virou Parasita.”.
Considerações finais
Parasita apresenta para o mundo um lado pouco conhecido da Coreia do Sul: as periferias de seus grandes centros urbanos e as dificuldades enfrentadas pelas populações de baixa renda. Contando a divertida e trágica história de uma família que usa da esperteza para tentar melhorar de vida, o filme surpreende por apresentar um roteiro inovador, bem conduzido e que consegue nos surpreender com suas diversas reviravoltas. A conclusão, apesar de utópica, condiz totalmente com aquilo que é idealizado pelo personagem Ki-woo no começo da história.
Uma coisa que fica evidente durante toda o longa-metragem é a abismal diferença existente entre as famílias Kim e Park. Recursos como iluminação, arquitetura, as constantes cenas em escadas e o diálogo entre os personagens são muito bem empregados para mostrar ao espectador duas realidades de vida completamente diferentes. A excelente direção de Bong Joon-ho faz com que sua obra se torne ainda mais impressionante. A trilha sonora, apesar de discreta, cumpre muito bem o seu papel nos momentos em que aparece.
Nota
★★★★★ – 5 – Excelente
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