Análise do jogo Gears 5
A Microsoft está expandindo a franquia Gears of War, razão pela qual, pela primeira vez, tivemos uma alteração no título da série que agora passa a se chamar apenas Gears. Enquanto Gears 5 dá sequência na franquia da forma como conhecemos, Gears POP e Gears Tactics são jogos que buscam apresentar novas experiências dentro do universo da franquia.
Ao abrir Gears 5 pela primeira vez o jogador se deparará com um tutorial básico que apresenta as mecânicas do game. Nesse momento, percebi que motosserra da Lancer não é mais acionada no botão B e sim pressionando e segurando o RB. Com o B o jogador agora pode dar golpes nos adversários com uma faca (arma que em Gears of War 4 só era acessível em momentos específicos do gameplay). Os veteranos da série podem sentir uma certa estranheza no início, mas nada que o jogador não se acostume conforme vai avançando.
A história de game é uma sequência direta de Gears of War 4. A introdução do modo campanha apresenta uma recapitulação dos principais momentos do game anterior, quando uma nova ameaça surgiu vinte e cinco anos depois do fim da guerra conta as misteriosas criaturas que habitavam o subsolo do planeta Sera. Essa escolha de revisitar os acontecimentos de Gears of War 4 foi muito bem-vinda, já que nos faz relembrar os acontecimentos do game lançado em 2016 e contextualiza os novatos da série ao universo da franquia. No menu principal ainda existe um vídeo que apresenta um resumo dos principais eventos dos três primeiros jogos da série.
O estúdio The Coalition optou por fazer algumas escolhas interessantes em Gears 5. JD Fenix, filho de Marcus Fenix e protagonista de Gears of War 4, deu espaço para que Kait fosse desta vez o ponto central da história. Essa alternância de foi muito bem trabalhada na transição do ato I para o II. O foco da narrativa agora está na enigmática ligação de Kait com os Locusts, gancho que foi introduzido durante o final de Gears of War 4, quando a jovem recebeu um misterioso colar de sua mãe.
No começo do game, Marcus, JD, Del e Kait vão até uma estação de pesquisa abandonada, localizada na ilha Azura. Orientados por Baird, via rádio, os quatro tem a missão de encontrar um antigo protótipo do satélite do Martelo da Aurora e colocá-lo em órbita, com a esperança que que o Martelo da Aurora possa ser utilizado na luta contra os Swarm. Bem, como estamos falando de Gears of War você já deve imaginar que as coisas não são tão simples assim… Fazer o Martelo da Aurora funcionar vai dar mais trabalho do que a CGO esperava.
Desde o início da campanha, Kait passa a sofrer com constantes dores de cabeça. Depois de vivenciar algo inusitado, a jovem decide ir atrás de respostas. Acompanhada de Del e Jack, Kait vai até a região norte de Tyrus, que está completamente coberta de neve, para encontrar um antigo centro de pesquisas da CGO. Nesse momento, o jogador é introduzido a mais uma novidade do título: um mundo semiaberto para ser explorado. Além de cumprir os objetivos principais da história, o jogador é livre para explorar a área e fazer algumas missões secundárias. O deslocamento é feito por meio de um veículo chamado de bote, que tem capacidade de andar sobre o gelo e areia. Para saber onde deve ir, existem orientações geográficas no topo da tela. Abrindo o mapa, o jogador pode colocar um marcador em qualquer lugar da região que queira visitar.
As missões secundarias basicamente servem para adicionar novas habilidades ao Jack. Diferente dos títulos anteriores, onde o robozinho normalmente apenas abria portas, Jack agora possui uma série de habilidades e aprimoramentos. Tudo é feito por meio de uma pequena árvore de habilidades (dividida em assalto, suporte e passivo) onde é possível desbloquear novos atributos que melhoram suas mecânicas. Com elas, Jack pode atacar os oponentes, criar escudos, pegar armas e munições espalhadas pelo cenário, dentre outras coisas. Para melhorar o Jack, é preciso coletar componentes que estão espalhados por todo o jogo. Além dos componentes, também existem os tradicionais coletáveis que, eventualmente, revelam mais detalhes sobre o universo da trama. Assim que se usa alguma habilidade especial do Jack, é necessário esperar um período até que ela esteja novamente disponível.
Na análise de Gears of War 4 eu reclamei da forma abrupta que o jogo tinha acabado. Em Gears 5 não tenho nenhuma ressalva quanto a narrativa, que é bem envolvente e com fortes revelações. A ideia de explorar o programa espacial da URI (União das Repúblicas Independentes) foi muito bem acertada, revelando detalhes sobre a antiga potência mundial que nunca tinham sidos abordados com tanta profundidade na franquia. Na reta final da campanha, o jogador é obrigado a fazer uma difícil escolha, mais uma novidade implementada pela The Coalition. Aqui sim temos novamente uma grande batalha final acompanhada de um desfecho digno de Gears of War.
Em termos de jogabilidade, o game mantém a sua essência clássica. Eu arrisco dizer que, durante os tiroteios, Gears 5 entrega a melhor experiência de gameplay de toda a série. Há um enorme arsenal a disposição do jogador e acertar a cabeça dos inimigos está mais prazeroso do que nunca. A Lancer, arma clássica da franquia, ganhou uma nova versão, chamada de Lancer GL, onde a motosserra foi substituída por foguetes (algo bem útil quando há uma grande concentração de oponentes em uma área do mapa). Existem também novos inimigos, sendo que alguns deles exigem uma estratégia diferente para serem derrotados (não basta simplesmente ficar atirando sem parar). Um recurso muito bem-vindo foi a adição da barra de vida em cima dos inimigos maiores, permitindo com que o jogador planeje a melhor forma para derrotá-los.
Falando agora da parte artística, Gears 5 apresenta os gráficos mais bonitos já vistos em toda a série. A caracterização dos personagens e a construção dos cenários estão incríveis. Até mesmo as duas áreas semiabertas apresentam gráficos bonitos, ainda que menos detalhados. No ato III, quando o jogador se aventura pelo deserto vermelho (território da URI), existem áreas no mapa com tempestades de areia e raios, momentos em que o game apresenta ótimos efeitos visuais. No geral, a ambientação é bem variada ao longo dos quatro atos da campanha, levando o jogador a encarar as mais variadas situações. No ato II, existe um momento que poderia estar facilmente em qualquer jogo de terror, graças ao excelente clima de tensão e a caracterização do ambiente. A trilha e os elementos sonoros são mais uma vez de altíssima qualidade, sendo marcantes ao longo de toda a jogatina.
A inteligência artificial dos inimigos é muito boa: eles reagem aos ataques e sempre que possível traçam estratégias para encurralar o jogador. O mesmo não se pode dizer a inteligência artificial dos personagens que acompanham o jogador, principalmente no momento em que o esquadrão é formado por dois soldados da CGO mais o Jack. Se o jogador cai em um lugar muito distante durante um tiroteio, a chance de ele não ser levantado por nenhum de seus companheiros é muito grande. Quando o esquadrão é formado por mais pessoas, o problema diminui.
A campanha pode ser jogada em modo cooperativo por até três jogadores online, sendo que um deles obrigatoriamente controlará o Jack (nesse caso, somente quem está controlando o robô tem acesso à árvore de habilidades e a suas mecânicas). O jogo também oferece jogatina cooperativa local, onde temos a clássica tela dividida (split screen), recurso que cada vez se torna mais raro na indústria.
Além da campanha, Gears 5 conta com três modos de jogo online: os já conhecidos versus e horda, e o inédito fuga. No modo versus, temos duas equipes batalhando entre si, enquanto na horda o objetivo é sobreviver a cinquenta hordas de ataques inimigos. Já no fuga, o jogador e capturado por um Snatcher e, junto com sua equipe, deve atingir um certo local para conseguir escapar do local. Acontece que o caminho está repleto de inimigos, as armas e munições são escassas e há um tempo pré-determinado para conseguir fugir da área antes que uma toxina venenosa mate todos. Nos primeiros dias de lançamento, o game enfrentou problemas no seu servidor, mas a situação já foi normalizada. Eventuais bugs ainda existentes estão sendo corrigidos pelo estúdio.
Lançado agora, em setembro de 2019, Gears 5 está disponível para Xbox One e Windows. Esta análise foi feita com base na versão do Xbox One.
Considerações finais
Gears 5 entrega tudo o que um fã de Gears of War espera: história dramática, excelentes momentos de combate e multiplayer dinâmico. O estúdio The Coalition não mentiu quando disse que o game teria a maior campanha de toda a franquia. Temos aqui uma história com maior tempo de duração, que é muito bem desenvolvida ao longo dos quatro atos da campanha. Somados o belíssimo visual e a jogabilidade fluida, o game definitivamente entrega uma experiência muito superior a do seu antecessor.
Games que possuem uma jogabilidade clássica muitas vezes enfrentam problemas ao buscar inovações. É muito bom ver que Gears of War consegue, há quase treze anos, apresentar inovações sem perder sua essência. Desta vez, as principais novidades são a inclusão de mecânicas de RPG, dois mundos semiaberto para serem explorado e um momento da campanha em que o jogador é forçado a tomar uma difícil decisão. A inclusão de tais recursos certamente foi muito bem estudada pelo estúdio e todas comportaram-se muito bem dentro da proposta do game. Depois de alguns anos, a série Gears of War volta a entregar um excelente game para os jogadores.
Nota
★★★★★ – 5 – Excelente
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