Análise da minissérie Olhos que Condenam

Dirigida por Ava DuVernay, indicada ao Oscar em 2014 por SelmaOlhos que Condenam (em inglês When They See Us) retrata um emblemático caso ocorrido em 1989 nos Estados Unidos, onde quatro jovens negros e um latino, com idades entre 14 e 16 anos, foram condenados sem provas pelo estupro de uma jovem branca de classe-média, no Central Park, em Nova York.

Em um dia normal, vários jovens foram até o Central Park para reunirem e se divertirem. Tudo começa a mudar quando a polícia de Nova York toma conhecimento de que há uma mulher desacorda no parque da maior cidade dos Estados Unidos. Ao chegarem no local, as autoridades policiais fazem abordagens agressivas, levando para a delegacia a maior quantidade de pessoas que conseguiram.

Para tentar desvendar o que aconteceu, a polícia também começa a tentar identificar todas as pessoas que estavam no Central Park no horário dos acontecimentos. Yusef Salaam (Ethan Herisse) é um desses jovens, sendo abordado pela polícia no dia seguinte. Com apenas 14 anos, Yusef é convidado a ir até a delegacia. Seu amigo Korey Wise (Jharrel Jerome), de 16 anos, decide acompanhá-lo. Esses dois, junto com Kevin Richardson (Asante Blackk), Raymond Santana (Marquês Rodriguez) e Antron McCray (Caleel Harris), que haviam sido presos pela polícia na operação no parque, tornam-se os principais suspeitos do crime.

Em poder das autoridades policiais e com participação da promotora de justiça Linda Fairstein (Felicity Huffman), os cinco jovens são submetidos a coação moral e violência, sendo interrogados sem a presença de seus pais ou de um adulto responsável por várias horas. Com estas terríveis atitudes, a polícia consegue cinco confissões contraditórias sobre o fato. Em meio toda esta turbulência, o caso ganha a atenção dos principais veículos de mídia dos Estados Unidos. Em imagens reais da época, o então apresentador Donald Trump pede na TV o retorno da pena de morte ao Estado de Nova Yorque, gastando ainda US$ 25 mil para colocar anúncios em paginais inteiras de jornais, incitando o discurso de ódio contra os cinco jovens. Trump é o reflexo claro da intolerância racial vivida pelos Estados Unidos na década de 1980. Quem obviamente sofre com toda essa história sãos os familiares dos jovens, em especial suas mães, algo que é muito bem retratado pela minissérie.

Mesmo com confissões contraditórias e sem haver nenhum outro tipo de prova que pudesse ligá-los ao crime, os cinco jovens são considerados culpados pelo júri, sendo consequentemente condenados pelo poder judiciário A produção então retrata a vida dentro de prisão e as consequências que uma condenação penal pode gerar na vida das pessoas. A minissérie é bem clara ao mostrar como o próprio Estado não contribui nem um pouco para a reinserção dessas pessoas na sociedade. Pessoas pobres com passagem pelo sistema prisional, por mais que queiram, nunca mais conseguirão ter uma vida normal.

Como Korey Wise tinha 16 anos na época dos fatos, ele é levado para uma penitenciária comum nos Estados Unidos. A parte final de Olhos que Condenam acompanha tormentosa passagem de Korey pelas penitenciárias dos Estados Unidos, onde cumpriu mais de onze anos de pena. Entre pedidos de transferências e dificuldades para manter contato com sua família, em razão de questões financeiras, Korey vive verdadeiros pesadelos dentro das prisões. Depois de muito sofrimento, por uma ironia do destino (assim como foi sua prisão), é justamente nesse ambiente que o caso ganha uma enorme reviravolta e ele é posto em liberdade.

Considerações finais
Dividida em quatro episódios, Olhos que Condenam, produção original da Netflix, não demora muito para causar desconforto em quem a assiste. Logo no seu primeiro episódio, ao retratar os abusos cometidos pela polícia e promotoria de justiça, a minissérie mostra como pessoas que possuem poder podem mudar completamente a realidade dos fatos. Essa revoltante história é apenas um reflexo da sociedade racista em que estamos inseridos: apesar de ser um fato ocorrido no final da década de 1980, essa história ainda se mostra muito atual. Os Estados Unidos ainda é um país racista, e o Brasil, infelizmente, não pode se orgulhar de assumir esse mesmo posto.

Ava DuVernay entregou uma excelente minissérie, capaz de levantar muitas reflexões. A narrativa é contada de uma forma bem dinâmica, apresentando um grande desenvolvimento já no seu primeiro capítulo. A história dos principais personagens é muito bem trabalhada, fator que te prende ainda mais em tudo o que é contado. As atuações, fotografia e trilha sonora são outros pontos positivos da minissérie.

Nota
★★★★★ – 5 – Excelente

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Criador e editor do Portal E7, Herbert é advogado, amante de games e séries. Gamertag/ID: "HerbertVFV".
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