Análise da série Stranger Things (1ª temporada)

Stranger Things faz jus ao seu nome logo nos primeiros minutos do episódio de estreia, quando acompanhamos uma sequência de fatos bem esquisitos. A história tem início com um cientista tentando fugir do laboratório do Departamento de Energia dos Estados Unidos, localizado na cidade de Hawkins, o que claramente mostra que algo de errado estava acontecendo. Na sequência, após ter jogado uma partida de Dungeons & Dragons junto com seus amigos Mike (Finn Wolfhard), Lucas (Caleb McLaughlin) e Dustin (Gaten Matarazzo), Will (Noah Schnapp) se depara com uma criatura estranha enquanto voltava para sua residência. Ele até consegue chegar em casa, mas como não havia ninguém para ajudá-lo, o jovem misteriosamente desaparece. No dia seguinte, uma menina (Millie Bobby Brown) com roupa hospitalar e cabelos raspados aparece fugindo de homens fortemente armados. Identificada apenas como Onze, de cara dá para perceber que ela não é uma pessoa normal.

Sem ter ideia de onde o Will estava, Joyce (Winona Ryder) vai até a delegacia comunicar o desaparecimento de seu filho. Depois de encontrar a bicicleta do garoto e perceber algo estranho ao visitar a residência da família, o delegado Hopper (David Harbour) ordena o início de uma busca na região. Como foram proibidos de ajudar, Mike, Lucas e Dustin decidem sair à noite para tentar encontrar o amigo, horário em que as atividades policiais já haviam sido encerradas. Andando pela mata, o trio encontra Onze, que pouco antes quase havia sido capturada em uma lanchonete. Os meninos levam a garota para a casa de Mike, onde ela passa a noite com segurança e permanece escondida. Sem saber se realmente podia confiar naquelas pessoas, Onze revela pouquíssimas informações sobre si e apenas diz que pessoas más estavam atrás dela.

Enquanto isso, fenômenos estranhos começam a acontecer na casa de Will, fazendo com que sua mãe fique ainda mais desesperada. Tudo começa quando Joyce atende uma ligação e acredita ter ouvido a voz de seu filho. Durante a chamada, o telefone sofre um curto-circuito e para de funcionar, fato que se repete mais de uma vez e geralmente é seguido de luzes piscando. Outros eventos incomuns são vistos na residência, mas é difícil para Joyce fazer com que as pessoas acreditem naquilo que ela presenciou. O próprio delegado Hopper parecia não estar encarando o caso com a seriedade que ele merecia e só segue adiante devido a insistência de Joyce. Sem ter notícias concretas sobre o paradeiro de seu filho, ela tenta de todas as formas fazer algum tipo de contato com Will. Com o desenrolar da história, Hopper acaba se sensibilizando com o comportamento de Joyce, principalmente por relembrar um trauma do passado, e dá o seu máximo para tentar solucionar esse mistério.

Além de Will, o desaparecimento de outra jovem gera trabalho para a polícia e deixa os moradores de Hawkins apreensivos. A irmã de Mike, Nancy (Natalia Dyer), convenceu sua amiga Barbara (Shannon Purser) a acompanhá-la em uma festa na casa de Steve (Joe Keery). No instante em que estava sentada sozinha à beira da piscina, Barbara some sem deixar vestígios. Logo de cara não dá para entender o que aconteceu com ela, mas a presença da mesma criatura que perseguiu Will mostra que existe uma conexão entre os dois casos. O que mais chama a atenção é a rapidez com que os ataques ocorrem, provocando o desaparecimento em uma fração de segundos. A prova disso é que o irmão de Will, Jonathan (Charlie Heaton), estava espionando a festa e registrando algumas fotos. Em um brevíssimo momento de distração, a criatura agiu sem que Jonathan notasse qualquer coisa estranha, tornando tudo ainda mais enigmático.

No começo do terceiro episódio, quando Barbara acorda dentro de uma piscina vazia e suja, temos a primeira imagem do mundo invertido, uma dimensão alternativa que definitivamente não é um lugar seguro para os seres humanos. Essa nova realidade tem algum tipo de ligação com o Laboratório de Hawkins, e é graças a Onze que os personagens passam a entender o que de fato estava acontecendo na cidade. Mais do que simplesmente falar sobre o mundo invertido, ela consegue demonstrar para os seus novos amigos que as suas afirmações eram verdadeiras. Gostei muito da forma com que Stranger Things apresenta e desenvolve essa temática, fazendo com que o espectador embarque em uma jornada de descobrimento junto com os outros personagens. Esse é aquele tipo de série que te leva a fazer muitas perguntas e revela os detalhes por trás dos mistérios em doses homeopáticas.

Criando uma atmosfera de suspense desde o início, a parte mais legal de Stranger Things é que você nunca sabe o que virá na sequência. Isso faz com que sejamos constantemente surpreendidos e a sensação é que algo de ruim vai acontecer a qualquer momento. Em meio a essa tensão, a atração criada pelos irmãos Matt e Ross Duffer desenvolve os seus personagens, abordando os desafios que cada um enfrenta. Se Mike, Lucas e Dustin estão vivendo uma aventura tentando desvendar um mistério, Onze está descobrindo os sentimentos humanos e a forma com que nos relacionamos em sociedade. Joyce beira a loucura e isso acaba comovendo Hopper, que pouco a pouco percebe que aquele era um caso diferente de tudo o que ele já havia trabalhado. Ainda temos um espaço reservado para o que podemos categorizar como a parte adolescente da trama, ocasião em que acompanhamos as ações dos destemidos Nancy, Steve e Jonathan.

Considerações finais
Stranger Things é uma carta de amor aos anos 80, não só pela excelente caracterização de época, mas também pelas inúmeras referências que estão espalhadas ao longo dos oito episódios. Partindo desse ponto, a série constrói o seu próprio universo, que é centrado em uma cidade no interior dos Estados Unidos e conta com algumas pitadas de fatos sobrenaturais e conspiração governamental. Mesmo que existam momentos que possam provocar pequenos sustos, a atração mantém um tom constante de suspense e apreensão ao explorar o desconhecido. Quando parecia que toda a questão em torno do desaparecimento de Will havia sido resolvida, somos pegos de surpresa com uma cena final que deixa bem claro que aquilo era só uma parcela do problema.

Toda boa história é composta por personagens marcantes, e aqui não é diferente. O trabalho excepcional dos atores, com destaque para a parte mais jovem do elenco, representa uma grande importância no elevado padrão de qualidade da série, resultando em vários personagens carismáticos. Mesmo com foco no suspense, a presença das crianças acaba dando um tom leve e algumas vezes até cômico. Direção, fotografia e trilha sonora também desempenharam um papel crucial para o sucesso da produção. Como já imaginava, muitas questões ainda estão em aberto: espero que a segunda temporada mantenha o mesmo padrão e nos entregue as respostas que estamos esperando.

Nota
★★★★★ – 5 – Excelente

Veja mais sobre Stranger Things:

└ Análise da série Stranger Things (2ª temporada)
└ Análise da série Stranger Things (3ª temporada)

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Criador e editor do Portal E7, Herbert é advogado, amante de games e séries. Gamertag/ID: "HerbertVFV".
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