Análise da série Halo (1ª temporada)
Baseada em uma das franquias de jogos mais famosas da Microsoft, a história de Halo começa nos apresentando um trágico evento em Madrigal, planeta habitado por humanos rebeldes que tentam se libertar do domínio do Comando Espacial das Nações Unidas, ou simplesmente UNSC na sigla em inglês. Em um dia aparentemente normal, forças do Covenant chegam até o planeta em busca de um artefato e iniciam um ataque contra um posto avançado. Sem preparo algum para lidar com essas criaturas, os humanos sofrem um grande número de baixas em pouquíssimo tempo. Os Spartans, supersoldados do UNSC, até chegam para conter o combate, mas não são capazes de evitar uma catástrofe: Kwan Ha (Yerin Ha), filha do líder rebelde, foi a única sobrevivente.
Após a breve batalha, Master Chief (Pablo Schreiber), também conhecido como John 117, encontra em uma caverna o artefato que os alienígenas estavam procurando. Ao tocar no objeto, Chief tem visões que parecem ser lembranças do seu passado, algo que gera preocupação na Dra. Halsey (Natascha McElhone), cientista responsável por criar os Spartans. Enquanto retornava ao planeta Reach com Kwan, John recebe uma ordem de militares do alto escalão do UNSC para matar a jovem. Entendendo que isso não era o certo a se fazer, o protagonista ignora seus superiores e decide levar Kwan para um local seguro. A insurreição de Chief complica ainda mais a situação da Dra. Halsey, que já sofria pressão para interromper sua nova pesquisa baseada em inteligência artificial. Apesar das dificuldades, a cientista aproveita o ocorrido para dar um importante passo e colocar em prática aquilo que ela estava desenvolvendo. Halsey acredita que suas ações podem mudar o mundo, ainda que seja necessário haver sacrifícios.
Master Chief logo percebe que precisava de mais informações para entender qual é a sua ligação com o artefato, razão pela qual decide se entregar. O fato de estar tendo flashes da sua infância abre espaço para a série explorar o passado do personagem e nos mostrar detalhes da execução do programa de criação dos Spartans, incluindo as suas polêmicas. A partir do momento em que retira o seu regulador emocional, John passa a ter uma maior liberdade para trilhar uma jornada de autodescobrimento e assimilar melhor aquilo que acontece ao seu redor. Ainda temos outro fato envolvendo o regulador emocional, o que deixa claro como se tornar um supersoldado retira toda a humanidade desses indivíduos. Um dos aspectos mais legais de Halo é justamente mostrar os Spartans tendo contato com sentimentos e emoções pela primeira vez na fase adulta.
Se você conhece Halo de outras mídias sabe que John tem uma grande aliada, a Cortana (Jen Taylor). Na série, Cortana foi criada como um mecanismo ainda mais sofisticado para controlar os Spartans e foi apresentada a Chief mediante um implante neural. A princípio o protagonista demonstra não gostar de ter uma voz falando na sua cabeça, mas ele logo percebe o quanto Cortana poderia ser útil. Nesse ponto da história é interessante observar o comportamento da inteligência artificial: ao mesmo tempo em que tenta ganhar a confiança de John, Cortana se reporta diretamente à Dra. Halsey. No começo tudo funciona bem, mas há um momento em que a IA precisa decidir de qual lado ficará.
Estando em um local desconhecido, em High Charity somos apresentados à base e ao comando da organização Covenant. Lá, descobrimos que os alienígenas convivem com Makee (Charlie Murphy), uma humana que foi capturada quando ainda era apenas uma criança e também é capaz de ativar os artefatos. Identificada como “Abençoada” em razão da sua habilidade, foi ela quem conseguiu prever a localização da relíquia em Madrigal. No momento em que descobre que havia outra pessoa capaz de interagir com os misteriosos objetos, Makee claramente demonstra interesse nessa situação, embora tenha um objetivo claro para ser alcançado: pegar o artefato que está com o UNSC. Makee é uma personagem enigmática e durante boa parte da série não dá para saber quais são suas reais intenções. Se deparando com muitas coisas novas, a jovem se vê obrigada a tomar decisões importantes em momentos de elevada tensão.
Em termos narrativos, a parte mais fraca do enredo é a subtrama envolvendo Kwan Ha. A personagem até tem uma boa introdução, mas os acontecimentos subsequentes parecem desconectados do universo da série. Nesse ponto, vale mencionar que o sétimo episódio é totalmente dedicado a esse arco, ou seja, não faltou tempo para uma maior integração. A luta de Madrigal para se tornar independente do UNSC dá lugar a uma jornada intimista de Kwan, oportunidade em que ela tenta descobrir segredos ligados aos seus antepassados. No fim das contas, nenhum dos dois pontos envolvendo a personagem tem um desenvolvimento satisfatório.
Considerações finais
Foram quase dez anos de espera: anunciada em 2013, Halo teve a primeira temporada exibida apenas em 2022. No processo de adaptação para a TV foram feitas algumas escolhas narrativas, sendo a principal delas a de estabelecer uma nova linha do tempo que não se comunica com o cânone dos jogos, permitindo que os roteiristas desenvolvessem todo o universo sem nenhum tipo de barreira ou conflito. Gostaria que toda essa liberdade criativa tivesse sido bem aproveitada, mas não foi exatamente isso o que aconteceu: algumas coisas funcionaram, outras nem tanto.
O fato de vermos o rosto de Master Chief pela primeira vez foi uma decisão acertada e contribuiu para a construção do personagem; não acho que o resultado seria tão bom se John sempre aparecesse com seu tradicional capacete. Os eventos envolvendo Chief e o Covenant no geral funcionam bem, já a parte dedicada a Kwan Ha deixa muito a desejar. A ideia de reservar o sétimo capítulo exclusivamente para a subtrama de Kwan, além de representar uma quebra de ritmo justamente no momento em que a narrativa começa a ficar mais interessante, não acrescenta nada à história principal.
Contando com efeitos especiais aceitáveis, a série faz referências aos jogos em diversos momentos e traz muitos dos seus elementos para a tela, o que não deixa de ser algo legal. Em meio a erros e acertos, Halo tem uma boa temporada de estreia, mas tinha potencial para ser muito melhor.