Análise do jogo Assassin’s Creed Mirage
Após viver o seu auge durante a sétima geração de consoles, a franquia Assassin’s Creed passou por um período conturbado nos anos seguintes, com lançamentos problemáticos e um certo desgaste da fórmula. Almejando recuperar o prestígio da série, a Ubisoft decidiu implementar uma profunda modificação na jogabilidade, abandonando mecânicas clássicas e transformando os jogos em RPGs de ação. Assassin’s Creed Mirage deixa de lado o que vinha sendo seguido por seus antecessores e busca retomar o estilo que fez a saga dos assassinos se tornar tão bem-sucedida.
Antes de propriamente começar a falar do jogo, acho interessante mencionar que Mirage foi originalmente idealizado como uma expansão de Assassin’s Creed Valhalla. No processo de desenvolvimento, o projeto foi totalmente retrabalhado e acabou se transformando em um novo jogo da franquia. Mirage é o primeiro título desenvolvido pela Ubisoft Bordeaux, estúdio que antes havia apenas prestado apoio em outros games da companhia francesa.
Ambientado na cidade de Bagdá no século IX, Assassin’s Creed Mirage tem como protagonista Basim, personagem que foi introduzido em Valhalla. Basim é um ladrão de rua que deseja se juntar aos Ocultos, embora nunca tenha conseguido impressioná-los a ponto de receber um convite. Ao descobrir que a irmandade já havia perdido dois homens tentando conseguir um baú secreto, o protagonista decide provar o seu valor e vai atrás do artefato. As coisas, no entanto, não saem exatamente como o planejado e resultam na morte do califa, fato que deixa toda a cidade em alerta. Roshan, integrante dos Ocultos, ajuda Basim a fugir e finalmente decide conceder a ele uma chance, tornando-se sua mentora.
Ao longo de dois meses, o protagonista passa por treinamentos na base de Alamut até estar efetivamente preparado para se juntar aos Ocultos. Concluída a jornada de iniciação, Basim retorna à Bagdá com a missão de investigar as ações que estão sendo praticadas pela Ordem dos Anciões na cidade. A Ordem é composta por um grupo de pessoas misteriosas que têm uma forte influência sobre o califado. Durante o jogo temos que descobrir quem são essas pessoas e acabar com o domínio e o poder que elas exercem na região. Para isso, Basim entra em contato com outros grupos almejando conseguir informações e ajudá-los em suas próprias lutas. É por intermédio de diversas investigações que aos poucos conseguimos aniquilar pessoas que são importantes para a Ordem.
Algo que chama a atenção no enredo é o fato de Basim ter pesadelos com um djinn. A princípio o djinn se manifestava apenas à noite, mas com o desenrolar da história o protagonista também passa a ter visões que o atormentam sempre que executa um alvo. Essas visões vão se tornando cada vez mais assustadoras e causam um profundo incômodo no personagem, o que o motiva a querer conhecer mais sobre si mesmo. O enredo é morno na maior parte do tempo, ficando os melhores momentos na reta final.
Particularmente eu não conhecia detalhes sobre a Idade de Ouro Islâmica, época em que o game se passa. O já costumeiro belo trabalho de pesquisa da Ubisoft novamente se mostra presente, apresentando ao jogador diversas características desse período histórico. À medida que exploramos o mundo, descobrimos informações sobre pessoas e locais que tinham importância naquela sociedade. Para uma melhor contextualização, acessando o códice no menu é possível encontrar mais dados. A ambientação bem feita contribui para a imersão, tal como a utilização de expressões em árabe nos diálogos; ainda há a possibilidade de acompanhar a aventura com o áudio totalmente em árabe. Nesse ponto, gostaria de destacar o ótimo trabalho feito pela equipe de dublagem brasileira.
Como mencionei na introdução, Assassin’s Creed Mirage retoma a jogabilidade clássica da franquia, trazendo de volta o parkour e a furtividade. Bagdá está repleta de prédios e estruturas que facilitam o deslocamento, embora muitas das vezes as coisas não sejam tão dinâmicas como eu desejava, devido a movimentação um pouco travada e a impossibilidade de escalar algumas paredes. Já nas abordagens furtivas podemos nos esconder em diversos locais, assobiar para atrair inimigos e incapacitá-los com a lâmina no pulso. Além disso, é possível desbloquear e melhorar ferramentas, como as facas arremessáveis, dardos tranquilizantes, bombas de fumaça, armadilhas e criadores de ruído. Seguindo uma tendência já vista na saga, a inteligência artificial dos inimigos não impressiona.
O combate corpo a corpo, por sua vez, incorpora características dos títulos recentes, exigindo o uso com frequência do botão de esquiva e a tomada de decisão dos melhores momentos para atacar, uma vez que existem soldados que só levam dano nas costas. No começo do jogo, como não temos praticamente nenhuma habilidade desbloqueada e nem melhoria nas armas, enfrentar três inimigos pode não ser a melhor das escolhas. Mais para frente as coisas se tornam mais equilibradas, mas ser cercado por muitos inimigos ainda representa um certo perigo, principalmente pelo fato da estamina de Basim ser consumida rapidamente. Acredito que nesse tipo de jogo, o combate nos moldes de Assassin’s Creed Syndicate funcionaria melhor, mas essa é uma opinião pessoal; lá eu percebia que havia um maior equilíbrio entre os dois tipos de abordagem. Ainda falando do combate, é possível utilizar o foco do assassino e realizar eliminações em sequência, sendo que cada execução consumirá uma barra dessa mecânica.
Além das missões principais, temos objetivos secundários para serem concluídos, como os contos de Bagdá (eventos aleatórios que encontramos pelo mapa), os contratos de facção, a resolução de enigmas e o furto de objetos. Encontrar um ponto de observação, subir até o topo e realizar a sincronização revela os pontos de interesse próximos. Para a exploração também podemos utilizar o Enkidu, uma águia que pode marcar a posição de inimigos e encontrar segredos e os objetivos de uma missão.
Assassin’s Creed Mirage conta com um sistema de notoriedade que espalha cartazes de Basim pela cidade conforme o seu nível de procurado aumenta. Se não rasgarmos esses cartazes, as pessoas irão reconhecer o protagonista e chamar os guardas para capturá-lo. Assim como a vida de Basim só se regenera consumindo elixires ou se alimentando com frutas e comidas, o nível de procurado também só irá diminuir arrancando os cartazes ou procurando um NPC que é capaz de anular a notoriedade em troca de um pagamento.
Concluindo missões ganhamos pontos de experiência que podem ser utilizados para desbloquear habilidades. A árvore de habilidades é dividida em três categorias, fantasma, trapaceiro e predador, e todas de alguma forma aprimoram a jogabilidade. Também podemos melhorar ou trocar o traje do personagem e as suas armas de mão, uma espada e uma adaga. Embora haja uma descrição de quais são os atributos dos trajes e armas, não notei grandes diferenças no gameplay.
Mirage é um jogo cross-gen, tendo sido lançado para consoles da oitava e nona geração. No Xbox One o desempenho deixa um pouco a desejar: o game sofre com constantes quedas na taxa de quadros, resultando em leves travadas durante a jogatina. Em uma das últimas missões, houve um travamento mais brusco que chegou até mesmo a fechar o jogo. Quando Assassin’s Creed IV: Black Flag chegou ao mercado, também joguei o título na antiga geração e não tive uma experiência tão problemática, o que mostra que a Ubisoft já fez um trabalho melhor em uma situação semelhante. Levando em conta as limitações de um console lançado em 2013, o visual do jogo é bonito, com cenários detalhados e uma cidade incrivelmente viva, com muitas pessoas nas ruas. Há sim alguns problemas de texturas, mas nada que tenha me incomodado muito.
Assassin’s Creed Mirage foi lançado em 5 de outubro de 2023 para PC, PlayStation 5, PlayStation 4, Xbox One e Xbox Series. Esta análise foi feita com base na versão do Xbox One com uma cópia que nos foi fornecida pela Ubisoft Brasil, a quem registramos o nosso agradecimento.
Considerações finais
Olhando para os últimos títulos da franquia, Assassin’s Creed Mirage é um jogo menor e mais contido, e de forma alguma isso é ruim. Ao longo de aproximadamente 20 horas, tive uma experiência que não chega a ser propriamente marcante, porém é divertida como os jogos mais antigos costumavam ser. O game tem sim os seus momentos empolgantes em termos narrativos, mas no geral diria que ele fica na média quando comparado com outros títulos da série. Quem gosta da fórmula clássica provavelmente encontrará aqui muitos momentos de diversão.
Em termos de jogabilidade, o grande destaque de Mirage é, sem dúvidas, a abordagem furtiva. Além das ferramentas que temos à nossa disposição, o cenário colabora para que Basim se esconda e ataque os inimigos de surpresa. A ambientação me impressionou, principalmente pela grande quantidade de NPCs que encontrei enquanto percorria Bagdá. É uma pena que o desempenho no Xbox One deixe a desejar com as constantes quedas na taxa de quadros. Apesar desses problemas, ainda é um bom jogo.
Nota
★★★☆☆ – 3 – Bom
➜ Você pode ler análises de outros jogos clicando aqui.