Análise do jogo God of War Ragnarök
Alguns anos se passaram desde que Atreus, junto com Kratos, embarcou em uma jornada para realizar o último desejo de sua mãe: jogar as suas cinzas do pico mais alto dos Nove Reinos. O salto temporal fica evidente logo que iniciamos o game, a fisionomia de Atreus mostra que ele deixou de ser uma criança. Mais maduro, o adolescente quer ir atrás de respostas, mas seu pai está relutando em seguir em frente depois das mortes que eles causaram em God of War (2018). O intenso encontro com Freya nos cinco primeiros minutos de gameplay demonstram que de certa forma o espartano tem um pouco de razão, ele sabe que a qualquer momento será preciso voltar ao campo de batalha. Pensando nisso, Kratos cuidou de preparar seu filho para enfrentar o que vem por aí, mas como Atreus está descobrindo mais sobre si mesmo, ele ainda não está completamente pronto.
A visita repentina de Thor e Odin à residência de Kratos no começo de God of War Ragnarök é um claro indicativo de que as coisas estavam ficando sérias. Kratos já é bem experiente para saber que ações geram consequências e que tudo o que foi feito não seria resolvido com um simples acordo. Na conversa com os deuses, o guerreiro de Esparta descobre que seu filho estava praticando ações sem o seu conhecimento, algo que diz muito sobre o amadurecimento do jovem. Atreus quer ir atrás de informações sobre o seu nome de gigante, Loki, e a desobediência às ordens de seu pai passa a não ser um caso isolado na nova aventura. Os questionamentos e a convicção de Atreus são responsáveis por ditar o rumo da narrativa, levando-os a embarcar em uma jornada mágica repleta de mistérios.
Diferente do jogo anterior, em Ragnarök o filho de Kratos deixa de ser uma espécie de assistente e divide o protagonismo junto com o pai, tanto é que em ocasiões específicas assumimos o controle total de Atreus. Essa alternância entre os dois personagens possibilita a exploração de outros aspectos da história, dando ao jogador uma visão ampla de tudo o que está acontecendo. Misturando drama com humor, o enredo do game é bem trabalhado e conta com algumas reviravoltas surpreendentes. Novos personagens são introduzidos de forma natural e há uma exploração maior de nomes já conhecidos, como é o caso de Freya e os irmãos Brokk e Sindri. Grande parte do mérito da narrativa se deve ao elenco de personagens variados e carismáticos, incluindo os antagonistas.
Quando estavam prestes a concluir a aventura passada, Atreus e seu genitor se depararam com gravuras que descreviam tudo o que eles tinham feito até então. A existência de profecias é um elemento recorrente em God of War Ragnarök, tendo importância no desenvolvimento da trama e na motivação dos protagonistas em praticar certas ações. Seja seguindo o que foi descrito ou escolhendo ignorar esses fatos e trilhar seu próprio caminho, é interessante observar a maneira que os personagens reagem a aquilo que pode ser o destino de cada um.
Se em God of War havia um objetivo bem claro para ser alcançado, Ragnarök é marcado por idas e vindas. Lidar com deuses e com o fim do mundo não é uma tarefa tão simples, por isso a jornada de Kratos e Atreus é moldada conforme eles viajam pelos Nove Reinos e descobrem novas informações. Como o feitiço de proteção existente na região em que o espartano e seu filho residiam foi quebrado, foi necessário encontrar um novo lugar seguro para ficar. Os dois então se hospedam na casa de Sindri, local que serve como ponto de encontro e base de operações durante todo o jogo.
Aproveitando o que foi estabelecido por seu predecessor, God of War Ragnarök apresenta novas mecânicas que tornam a jogabilidade mais variada. Bastante úteis durante os confronstos, as Lâminas do Caos também servem para escalar rapidamente estruturas, realizar saltos, agarrar estruturas e oponentes e resolver novos tipos de puzzles. O Machado Leviatã, por sua vez, é útil em abrir caminhos e resolver quebra-cabeças. Essas duas armas, combinadas com as flechas mágicas, oferecem novas opções para avançar na história e cumprir tarefas secundárias. Além disso, agora conseguimos efetuar ataques aéreos enquanto estamos realizando saltos e podemos utilizar o escudo para interromper a execução de ataques especiais. Posteriormente, Kratos recebe uma arma inédita que proporciona outras maneiras de explorar os ambientes e enfrentar os oponentes. Tudo o que mencionei é introduzido aos poucos, à medida que avançamos na história, o que significa que não conseguimos acessar muitas coisas em uma área durante a primeira visita.
O combate segue sendo um dos pontos de maior destaque do game. As batalhas estão ainda mais viscerais, apresentam novas animações e oferecem um certo desafio quando é preciso lidar com vários oponentes ao mesmo tempo, por isso é sempre bom estar atento aos avisos que são dados por nossos aliados para não ser surpreendido. O título conta com uma vasta quantidade de criaturas, resultando em um bestiário recheado de informações; como cada inimigo tem uma forma de agir, é preciso identificar a melhor forma de encará-los e qual arma é mais eficaz.
O fato de Atreus ter crescido faz com que ele tenha uma maior participação nos confrontos, seja como parceiro de seu genitor ou nos momentos em que efetivamente assumimos o seu controle. Agora, Kratos e seu filho ganham experiência de forma separada durante os combates, o que significa que só conseguimos desbloquear novas habilidades para os personagens com base no XP que cada um conquistou. Os pontos de experiência também servem para melhorar os ataques rúnicos leve e pesado, a fúria espartana e a invocação rúnica de Atreus. Podemos ainda adicionar símbolos de modificação em algumas habilidades, algo que na prática não percebi grandes diferenças.
Quando o assunto é criação e melhoria de armas, recorremos aos irmãos Sindri e Brokk. Recolhendo os materiais necessários, é possível aprimorar os atributos dos equipamentos e das peças da armadura de Kratos, preparando-o para encarar oponentes mais fortes. A vida e a barra de fúria são aumentadas coletando as maçãs de Idunn e os frascos de Hidromel Sangrentos, respectivamente, nos Baús Nornir, que apresentam novos tipos de desafios. Como se pode observar, nesse quesito não houve grandes novidades em relação ao jogo de 2018, apenas um aperfeiçoamento do que já havia sido estabelecido.
God of War Ragnarök segue mesclando ação intensa com trechos mais calmos e contemplativos. Isso é bom não só para o desenvolvimento do enredo, mas também por tornar a jogabilidade variada. Geralmente quando estamos nos deslocando para algum lugar, Mímir ou outro personagem sempre tece diálogos abordando os acontecimentos recentes e a mitologia nórdica. Com a chegada do Fimbulwinter, muitos locais estão congelados, proporcionando o deslocamento por meio de um trenó puxado por lobos. Também utilizamos o barco e um outro meio de transporte para percorrer os ambientes.
Ragnarök impressiona quando olhamos para os elementos audiovisuais. Com cenários belíssimos, cada um dos Nove Reinos são extremamente bem trabalhados e possuem suas próprias características. Em Vanaheim, por exemplo, é preciso ficar atento à ação das plantas para não sofrer danos. É perceptível que os ambientes foram construídos pensando no jogador, que sempre é recompensado ao explorar cada canto do mapa. As animações e caracterização dos personagens são de um alto primor técnico, em especial os rostos. A trilha sonora é um espetáculo e sempre chama a atenção nos momentos em que aparece com maior intensidade. Também não posso deixar de registrar o belo trabalho efetuado pela equipe de dublagem brasileira.
Algo que me deixou surpreso é como God of War Ragnarök é um jogo bem maior do que o seu antecessor em termos de escala e conteúdo. Fazendo algumas secundárias junto com as missões principais, gastei 38 horas para chegar até o final. Agora que concluí a história, posso continuar explorando os reinos e cumprir tudo o que deixei para trás (e não foi pouca coisa). O Santa Monica Studio entregou um título de alto nível e que é capaz de render diversão por um vasto período de tempo.
No seu lançamento, o game apresentava alguns problemas de desempenho. Jogando em uma RTX 3060, antes das primeiras atualizações o título estava rodando próximo aos 50 FPS, com configurações gráficas no ultra. A parte mais crítica foi os momentos de entrada no portal místico para viajar entre os reinos, quando a taxa de quadros caía para próximo de 30. Não era algo que comprometia a experiência, uma vez que nessa parte apenas realizamos caminhadas, mas isso indicava que faltava uma melhor otimização. Depois de várias atualizações esse problema foi corrigido e Ragnarök está rodando praticamente a 60 FPS, com oscilações tanto para cima quanto para baixo dependendo do local em que estamos. No geral, minha experiência foi bem satisfatória, sem bugs e outros problemas que pudessem gerar uma percepção negativa.
Lançado originalmente em 2022, God of War Ragnarök está disponível para PlayStation 4, PlayStation 5 e PC. Esta análise foi feita com base na versão de PC com uma cópia fornecida pela equipe da PlayStation Brasil.
Especificações do computador utilizado para a análise: Ryzen 7 5700X, RTX 3060 12 GB, 32 GB de memória RAM DDR4 3200Mhz.
Considerações finais
Se antes Atreus precisava segurar nas costas de seu pai durante as escaladas, agora ele é capaz de subir pelas estruturas sozinho e sem receber nenhum tipo de ajuda. Essa independência do jovem é vista em outros momentos, principalmente quando ele tenta resolver certas situações por conta própria. Em God of War Ragnarök o filho de Kratos deixa de ser um mero ajudante e passa verdadeiramente a participar da aventura. Ainda que não sigam juntos pelo mesmo caminho durante todo o tempo, ambos estão dispostos a fazer o seu melhor para proteger um ao outro e evitar que o pior aconteça nos Nove Reinos.
Mesmo sendo diferente do jogo de 2018 em alguns aspectos, o que é positivo, o elevado padrão de qualidade foi mantido. Ragnarök conta com uma narrativa rica e dinâmica, que aprofunda a história de personagens já conhecidos e nos introduz outros nomes extremamente carismáticos. Com um nível de dificuldade balanceado, a já excelente jogabilidade foi refinada e oferece uma maior variedade para o jogador, tudo isso em ambientes variados e ricos em detalhes. Depois de concluir a aventura, fica claro que o Santa Monica Studio sabe muito bem o que faz com a franquia, entregando novamente um game muito acima da média.