Senhora, de José de Alencar: resumo e estudo do livro
Romance urbano que tematiza as contradições entre o sentimento e a necessidade de ‘subir na vida’, um dos famosos ‘perfis de mulher’ de José de Alencar.
1. NARRADOR
Narrado em terceira pessoa, por um narrador-observador, o romance Senhora tem na observação de detalhes exteriores, que iluminam a personalidade e os lances da vida, uma de suas fortes características.
Com esse recurso, podemos perceber a preocupação com a psicologia dos personagens e também a mistura do romanesco e da realidade, que fazem desta obra um exemplo de literatura romântica na qual se procura imprimir certos traços realistas.
Estes traços, assim como o estilo mais denso de alguns romances urbanos de JA, especialmente Lucíola e Senhora, revelam a influência de Balzac, o mestre do realismo francês. O conflito psicológico em Senhora coloca uma questão central para o romance realista, contextualizado no mundo capitalista e burguês: a questão do dinheiro, da necessidade de ‘subir na vida’, em oposição ao ideal da realização amorosa.
Vamos iniciar a nossa análise observando como se coloca o narrador perante a história e tentando compreender o seu ponto de vista diante dos personagens que a vivem.
Observe que Aurélia Camargo, a protagonista do romance, é idealizada como uma rainha, como uma heroína romântica, pelo narrador. De régia fronte, coroada do diadema de cabelos castanhos, de formosas espáduas, esta personagem no entanto é ao mesmo tempo fada encantada e ninfa das chamas, lasciva salamandra.
Ao estereótipo da ‘mulher-anjo’ romântica o narrador acrescenta, assim, um elemento demoníaco, elemento que, em vez de explicitar, deixa sugerido, sob as pregas do roupão de cambrais que a luz do sol não ilumina, e também sob a voz bramida, o gesto sublime, escondendo um frêmito que lembrava o silvo da serpente, ou quando o braço mimoso e torneado faz um movimento hirto para vibrar o supremo desprezo…
A contradição entre o anjo e o demônio, a bela e a fera, constitui um elemento de grande importância neste romance.
Numa cena o narrador descreve o comodismo, a indolência, a postura aristocrática de Fernando Seixas – que contracena no romance com Aurélia Camargo. Também através de detalhes, de elementos exteriores vai se configurando o perfil deste personagem, modesto na condição, mas fino no trato, nos gostos, hábitos.
Concluindo os comentários que fizemos sobre o narrador, cabe acrescentar, à sua posição de observador, o fato de recair sobre Aurélia Camargo – a heroína do romance – o seu ponto de vista.
Moça pobre trocada por Fernando Seixas, a quem amava, por um dote de trinta contos de réis, esta personagem recebe uma herança e com ela decide comprar o homem que lhe destruiu o coração a fim de, maltratando-o, provar-lhe a abjeção da conduta.
Aurélia Camargo centraliza, assim, a temática e a construção do romance, no qual tanto os conflitos vividos pelos personagens quanto a preocupação de desnudar-lhes o caráter constituem, como dissemos elementos realistas que serão combinados com elementos românticos.
2. ENREDO
Os títulos das quatro partes em que se divide o romance – O preço, Quitação, Posse e O Resgate – anunciam a problemática da contradição entre o dinheiro e o amor desenvolvida no enredo, na medida em que constituem palavras relacionadas às fases de uma transação comercial.
Primeira parte – O preço
Aurélia Camargo aparece como um ‘nova estrela’, que ‘raiou no céu fluminense’. Jovem, bela, extremamente rica, vive cercada de admiradores, a quem trata com um desprezo satânico, avaliando cada um pelo preço de sua cotação no rol dos que pretendem contrair com ela a empresa nupcial.
A extrema graça e a sensualidade, a inteligência brilhante, a nobreza de alma que se percebem em Aurélia não condizem com a ironia, o sarcasmo e o escárnio presentes em seus atos, principalmente quando relacionados ao dinheiro.
Morando num palacete em Laranjeiras em companhia de uma parenta afastada, D. Firmina Mascarenhas, e tendo como tutor o tio, Senhor Lemos, é na verdade Aurélia quem decide a sua vida, apesar de ter entre l8 e l9 anos.
A principal ação desta primeira parte do romance começa quando Aurélia pede ao tio que ofereça ao jovem Fernando Seixas, recém-chegado na corte após uma longa viagem ao Nordeste, a sua mão em casamento. Entretanto, uma aura de mistério cobre o pedido, pois Fernando não deve saber a identidade da pretendente e além disso a quantia do dote proposto deve ser irrecusável: cem contos de réis ou mais, se necessário.
A habilidade mercantil de Lemos, que chega a ser caricata, e a péssima situação financeira de Fernando – moço elegante mas pobre, que gastou o espólio deixado pelo pai e que precisava restituí-lo à família para a compra do enxoval da irmã – fazem com que deem certo os planos de Aurélia.
Fernando, envergonhado por aceitar um casamento de conveniência, é apresentado à futura esposa e descobre ser ela uma antiga paixão, a maior de sua vida, que abandonara pelo dote de trinta contos de réis de outra moça, Adelaide Amaral, filha de um empregado da Alfândega.
Assim, Fernando acredita estar unido amor e fortuna quando se casa com Aurélia, que nada demonstra de suas intenções até consumar-se a cerimônia.
Na noite de núpcias, recolhidos ao rico aposento das Laranjeiras destinado aos noivos, Aurélia desacata Fernando e a ‘comédia’ daquele casamento, afirmando ser ela uma mulher traída e ele um homem vendido…Termina, assim, a primeira parte do romance.
Segunda parte – Quitação
Aqui há um flash-back, um retorno a acontecimentos anteriores da vida de ambos os protagonistas, o que explica ao leitor o procedimento cruel de Aurélia em relação a Fernando.
Dois anos antes do casamento singular, vivia Aurélia com a mãe, pobre, enferma e viúva, D. Emília Camargo.
A história desta mulher é trágica e exemplarmente romântica: quando moça, apaixonara-se por um estudante, Pedro de Souza Camargo, filho ilegítimo de um rico fazendeiro, que por não ter sido oficialmente reconhecido pelo pai é recusado como pretendente de Emília.
Ela, então, abandona a família e secretamente casa-se com Pedro, passando a ser considerada morta pelos parentes, que ignoravam a união.
Lourenço Camargo, ao receber notícia de que o filho morava com uma rapariga, manda chamá-lo e o prende na fazenda. Pedro era fraco e não foi capaz de relatar ao pai que se casara. Vivem, então, os esposos, separados e marginalizados por doze anos, recebendo Emília eventualmente a visita de Pedro, a quem tudo perdoava pelo amor e com quem teve dois filhos: Emílio e Aurélia.
Quando Lourenço Camargo tenta forçar o casamento de Pedro com uma rica herdeira, este se desespera e é acometido de uma febre cerebral, que o mata.
Emília escreve ao sogro, que sem a prova do casamento não acredita em suas palavras, mandando-lhe de forma rude e seca um conto de réis
O irmão de Aurélia, Emílio, frágil e pouco desenvolto para o trabalho, de espírito ‘curto e tardio’ e irresoluto como o pai, consegue a profissão de caixeiro de um corretor de fundos. No entanto, é Aurélia, viva e inteligente, quem trabalha por ele.
Um resfriado o mata, acentuando o desamparo das duas mulheres. Emília , que pressente a própria morte, passa a pressionar a filha para que esta, sempre fechada dentro de casa, arrume um bom casamento.
Nesta situação de aparecer na janela para chamar a atenção dos homens, situação que abominava, Aurélia conhece e se apaixona por Fernando Seixas. Por ele, recusa outros pretendentes, inclusive Eduardo Abreu, moço rico e dos mais distintos da corte.
Embora tivesse chegado a pedir a mão de Aurélia, devido à insistência de Emília em conhecer-lhe as intenções, Fernando a abandona, pelos motivos que já conhecemos.
Nesta ocasião, Lourenço Camargo, o avô de Aurélia, fica sabendo de toda a verdade sobre o filho. Visita então a nora e a neta, reconhece a ambas e deixa nas mãos de Aurélia um testamento.
Emília e Lourenço falecem, Aurélia transforma-se numa rica herdeira, a herdeira universal dos bens do avô, e começa assim a vingar-se da sociedade que tanto a maltratara. A vingança culmina com a conversa entre ela – mulher traída – e Fernanda Seixas – homem vendido – em plena câmara nupcial.
Terceira parte – Posse
Em Posse assistimos à punição que Aurélia infrige a Fernando e à reabilitação dele, seduzido pela grandeza e pelo fascínio de Aurélia. Fiel à palavra dada, o moço reage, com resignação e firmeza que não possuía, aos maus tratos da mulher, que tudo faz para humilhá-lo ao mesmo tempo que em alguns momentos não consegue esconder que ainda o ama.
Quarta parte – O resgate
Nesta parte intensificam-se os caprichos e as contradições do comportamento de Aurélia, ora ferina, mordaz, insaciável na sua sede de vingança, ora ciumenta, doce, apaixonada. Intensifica-se também a transformação de Fernando, que não usufrui da riqueza de Aurélia, tornando-se modesto nos trajes, assíduo na repartição onde trabalhava, e assim adquirindo, sem perder a elegância, uma dignidade de caráter que nunca tivera.
No final, Fernando, um ano após o casamento, negocia com Aurélia o seu resgate. Devolve-lhe os vinte contos de réis, que correspondiam ao adiantamento do montante total do dote com o qual possibilitava o casamento da irmã, e mais o cheque que Aurélia lhe dera, de oitenta contos de réis, na noite de núpcias
Separam-se, então, a esposa traída e o marido comprado, para se reencontrarem os amantes, a última recusa de Seixas sendo debelada quando Aurélia lhe mostra o testamento que fizera, quando casaram, revelando-lhe o seu amor e destinando-lhe toda a sua fortuna.
O enredo deste romance mostra claramente a mistura de elementos romanescos e da realidade.
A história de Emília, mãe de Aurélia, é um exemplo típico do romanesco: pelo homem que ama abandona a tudo e a todos e sucumbe, sem uma queixa contra ele, cuja fraqueza a transforma em mártir do amor, em grande heroína de um romance ultra-romântico.
A história de Aurélia embora se tinja de cores e de momentos românticos, como o seu happy end, como a dignidade e o heroísmo com que ama Fernando, possui alguns elementos realistas, conforme veremos estudando mais profundamente os personagens do romance.
3. PERSONAGENS
Principais
A necessidade de obter dinheiro para ‘subir na vida’ afasta Fernando Seixas – de origem modesta mas elegante e ambicioso – da mulher amada, levando-o a realizar um ‘casamento de conveniência’, espécie de transação mercantil institucionalizada pela sociedade capitalista.
Em contraposição `a maleabilidade do caráter de Fernando perante tal sociedade, da qual afirma no final do romance ser um furto, uma consequência, temos o desprendimento, a sublime devoção ao amor, o horror ao interesse, de Aurélia.
No entanto, traída em sua sensibilidade, em sua adoração a um ser que se revela abjeto, indigno, ela não o perdoa e mais do que isso, é capaz de usar exatamente o que mais detesta – o dinheiro – para vingar-se.
A densidade humana de Aurélia Camargo avoluma-se assim a nossos olhos, e percebemos nela uma mistura de anjo e demônio, de bondade e de maldade, que a distância do maniqueísmo – a rígida separação entre o bem e o mal – dos romances puramente românticos.
Entretanto, o poder regenerador do sentimento amoroso, o chamado à honra e à virtude que dele faz parte, é capaz de alterar, romanticamente, o caráter de um ‘ator de sala’ transformando-o num homem, como ocorre a Fernando Seixas através da conduta perversa mas apaixonada de Aurélia Camargo.
Assim, tanto o marido comprado quanto a mulher traída, os protagonistas de Senhora, movem-se vertiginosamente entre o sublime e o sórdido, constituindo verdadeiros tipos humanos representativos das contradições do mundo capitalista.
Secundários
Verificamos a existência de um descompasso entre a ‘seriedade’ dos assuntos tratados pelos protagonistas – o amor, o dinheiro, o interesse – e a desenvoltura com que se movimentam os personagens secundários, impunemente transitando entre o vício e a virtude.
O velho Lemos, por exemplo, embora tenha procurado se aproximar de Aurélia, em sua fase de maior pobreza, a fim de empresariá-la na prostituição, embora tenha interferido perante o pai de Adelaide Amaral para afastar Fernando de Aurélia, mandando uma carta à moça – sem assinatura, mas cujo autor ela logo reconheceu – que denunciava a traição de Fernando ao seu amor, embora fosse detestável aos olhos de Aurélia, não passou pelo seu crivo crítico, servindo-lhe aos interesses como tutor.
Do mesmo modo, não aparece no romance nenhum reparo ao fato de o avô de Aurélia ser pai de um filho natural, de este filho fazer um curso para o qual não tinha vocação ou revelar-se incapaz de assumir o próprio casamento: de Emília, mãe de Aurélia, abandonar a família pelo seu amor, de esta família recusar-se a aceitar o romance de Emília, de serem boas mães e não pessoas hipócritas as senhoras da sociedade que não gostam dos procedimentos de Aurélia, de os rapazes não se ofenderem com a sua cotação no rol de seus pretendentes.
Assim, parece haver uma medida para os personagens principais, de cunho universalista, e outra para os personagens secundários, cuja lógica – local – revela-se diferente: a da degradação transformada em ‘coisas da vida’.
O estudo a respeito de Senhora culmina com a reflexão sobre uma cultura como a brasileira, que não só copia as novas feições da arte europeia mas também as copia segundo a maneira europeia, o que produz as dissonâncias que verificamos entre o ‘modelo europeu’ e a ‘cor local’.
Tais dissonâncias vão construindo elementos que nos permitem compreender a dialética do cosmopolitismo e do localismo – de que Senhora, de José de Alencar, constitui precioso documento histórico e artístico.
4. TEMPO/ESPAÇO
Em termos de tempo, podemos destacar o contraponto, no livro, entre o passado, que corresponde à segunda parte – Quitação – e o presente, ao qual estão mais diretamente ligadas as outras três partes.
O passado se associa com a ‘cor local’, na medida em que nele predomina a pobreza de Aurélia e com ela o provincianismo, o acanhamento, a ‘brutalidade’ singela, simples.
Quanto ao presente, podemos relacioná-lo com o lado cosmopolita, refinado, europeu, do romance, cujo cenário[espaço] é a sociedade fluminense, em várias passagens criticada, pelo narrador, por sua submissão aos costumes estrangeiros.
5. LINGUAGEM
A força de Alencar fica provada pelo fato de ainda estimarmos os seus livros apesar do açucaramento, que acabou por enfastiar, ao fim de duas gerações.
Os seus diálogos, na maioria excelentes quanto à distribuição e à dosagem, denotam igual tendência para idealizar. Talvez correspondam ao esforço de dar estilo e tom a uma sociedade de hábitos pouco refinados, composta na maioria de comerciantes enriquecidos ou provincianos em pleno ajustamento[…]. A verdade e a eloquência de muitos de seus personagens provêm menos da capacidade de análise, que de certos toques estilísticos de força divinatória, que se revelam por meio da roupa, da voz, dos detalhes do ambiente.
6. QUESTÕES
1. Qual a função da segunda parte do romance Senhora, de José de Alencar, denominada Quitação, para o contexto geral da narrativa?
2. Que relação há entre o final de Senhora e o final da primeira parte deste romance, O preço?
3. Que relação há entre o título do romance Senhora e a sua protagonista, Aurélia Camargo?
4. Que aspecto do romance Senhora é revelado pelo personagem Lemos, cuja grande ciência da vida resumia-se em esperar a ocasião e aproveitá-la?
5. (PUC-SP) A questão central, proposta no romance Senhora, de José de Alencar, é a do casamento. Considerando a obra como um todo, indique a alternativa que não condiz com o enredo do romance:
a) O casamento é apresentado como uma transação comercial e, por isso, o romance estrutura-se em quatro partes: preço, quitação, posse, resgate.
b) Aurélia Camargo, preferida por Fernando Seixas, compra-o e ele, contumaz caça-dote, sujeita-se ao constrangimento de uma união por interesse.
c) O casamento é só de fachada e a união não se consuma, visto que resulta de acordo no qual as aparências sociais devem ser mantidas.
d) A narrativa marca-se pelo choque entre o mundo do amor idealizado e o mundo da experiência degradante governado pelo dinheiro.
e) O romance gira em torno de intrigas amorosas, de desigualdade econômica, mas, com final feliz, porque, nele, o amor tudo vence.
6. (FATEC) “Seixas aproximou-se do toucador, levado por indefinível impulso; e entrou a contemplar minuciosamente os objetos colocados em cima da mesa de mármore; lavores de marfim, vasos e grupos de porcelana fosca, taças de cristal lapidado, jóias do mais apurado gosto.
À proporção que se absorvia nesse exame, ia como ressurgindo à sua existência anterior, a que vivera até o momento do cataclismo que o submergira. Sentia-se renascer para esse fino e delicado materialismo, que tinha para seu espírito aristocrático tão poderosa sedução e tão meiga voluptuosidade.
Todos esses mimos da arte pareciam-lhe estranhos e despertavam nele ignotas emoções; tal era o abismo que o separava do recente passado. Era com uma sofreguidão pueril que os examinava um por um, não sabendo em qual se fixar. Fazia cintilar os brilhantes aos raios de luz; e aspirava a fragrância que se exalava dos frascos de perfume com um inefável prazer.
Nessa fútil ocupação demorou-se tempo esquecido. Porventura sua memória atraída pelas reminiscências que suscitavam objetos idênticos a esses, remontava o curso de sua existência, e descendo-o, depois o trazia àquela noite fatal em que se achava e à pungente realidade desse momento.
Recuou com um gesto de repulsão.” (José de Alencar, Senhora)
Considerando este trecho no contexto da obra a que pertence, é correto afirmar que, nele, a personagem Fernando Seixas:
a) rejeita os objetos que o cercam, porque deseja conquistar posição elevada em ambientes
b) dá-se conta de que aqueles objetos, que tanto valorizara, nesse momento eram a comprovação dos erros que praticara.
c) experimenta o fascínio por objetos luxuosos que não são seus e decide lutar para conseguir possuí-los.
d) sente renascer nele a revolta por não dispor de meios econômicos para possuir objetos
luxuosos.
e) relembra infantilmente sua existência anterior, quando podia usufruir do luxo que agora perdia, e lamenta sua situação atual.
7. (ITA) O romance Senhora (1875) é uma das obras mais representativas da ficção de José de Alencar. Nesse livro, encontramos a formulação do ideal do amor romântico: o amor verdadeiro e absoluto, quando pode se realizar, leva ao casamento feliz e indissolúvel. Isso se confirma, nessa obra, pelo fato de:
a) o par romântico central — Aurélia e Seixas — se casar no início do romance, pois se apaixonam assim que se conhecem.
b) o amor de Aurélia e Seixas surgir imediatamente no primeiro encontro e permanecer intenso até o fim do livro, quando o casal se une efetivamente.
c) o casal Aurélia e Seixas precisar vencer os preconceitos sócio-econômicos para se casar, pois ela é pobre e ele é rico.
d) a união efetiva só se realizar no final da obra, após a recuperação moral de Seixas, que o torna digno do amor de Aurélia.
e) o enriquecimento repentino de Aurélia possibilitar que ela se case com Seixas, fatos que são expostos logo no início do livro.
8. (UNIFESP) Leia o trecho a seguir, de José de Alencar.
Convencida de que todos os seus inúmeros apaixonados, sem exceção de um, a pretendiam unicamente pela riqueza, Aurélia reagia contra essa afronta, aplicando a esses indivíduos o mesmo estalão.
Assim costumava ela indicar o merecimento relativo de cada um dos pretendentes, dando-lhes certo valor monetário. Em linguagem financeira, Aurélia contava os seus adoradores pelo preço que razoavelmente poderiam obter no mercado matrimonial.
O romance Senhora, ilustrado pelo trecho:
a) representa o romance urbano de Alencar. A reação de ironia e desprezo com que Aurélia trata seus pretendentes, vistos sob a ótica do mercado matrimonial, tematiza o casamento como forma de ascensão social.
b) mescla o regionalismo e o indianismo, temas recorrentes na obra de Alencar. Nele, o escritor tematiza, com escárnio, as relações sentimentais entre pessoas de classes sociais distintas, em que o pretendente é considerado pelo seu valor monetário.
c) é obra ilustrativa do regionalismo romântico brasileiro. A história de Aurélia e de seus pretendentes mostra a concepção do amor, em linguagem financeira, como forma de privilégio monetário, além de explorar as relações extraconjugais.
d) denuncia as relações humanas, em especial as conjugais, como responsáveis por levar as pessoas à tristeza e à solidão dada a superficialidade e ao interesse com que elas se estabelecem. Trata-se de um romance urbano de Alencar.
e) tematiza o adultério e a prostituição feminina, representados pelo interesse financeiro como forma de se ascender socialmente. Essa obra explora tanto aspectos do regionalismo nacional como os valores da vida urbana.
9. (UEL) Sobre o romance Senhora, de José de Alencar, é correto afirmar:
a) Representando a chamada primeira geração romântica indianista, a obra tem como características mais relevantes a volta ao passado histórico, o medievalismo, a criação do herói nacional e a religiosidade.
b) Alguns ingredientes do Romantismo que podem ser apontados no romance Senhora são: personagens dominadas por instintos, preocupação com classes sociais marginalizadas e apresentação de uma condição biológica do mundo.
c) É evidente o paralelo temático entre Senhora e Inocência, romances de José de Alencar e Visconde de Taunay, respectivamente. Em ambos, o recurso à paisagem, à fauna e à flora destina-se a compor as personagens e serve para circunscrever a essência da prosa realista brasileira.
d) O livro Senhora origina-se das propostas nacionalistas do movimento romântico porque apresenta uma tendência à representação da cultura popular e propõe a volta às origens da nação brasileira.
e) Nesse romance os protagonistas mantêm um conflito ao longo da narrativa, revelando uma oposição entre o mundo do amor e o do dinheiro. Com isso, a obra traz marcas da sociedade burguesa brasileira em formação.
10. (UNEAL 2007) A voz da moça tomara o timbre cristalino, eco da rispidez e aspereza do sentimento que lhe sublevava o seio, e que parecia ringir-lhe nos lábios c omo aço.
— Aurélia! Que significa isto?
— Representamos uma comédia, na qual ambos desempenhamos o nosso papel com perícia consumada.
Podemos ter esse orgulho, que os melhores atores não nos excederiam. Mas é tempo de pôr termo a esta cruel mistificação, com que nos estamos escarnecendo mutuamente, senhor. Entretemos na realidade por mais triste que ela seja; e resigne-se cada um ao que é, eu, uma mulher traída; o senhor, um homem vendido.
— Vendido! Exclamou Seixas ferido dentro d’alma.
— Vendido sim; não tem outro nome. Sou rica, muito rica, sou milionária; precisava de um marido, traste indispensável às mulheres honestas. O senhor estava no mercado; comprei-o. Custou-me cem mil cruzeiros, foi barato; não se fez valer. Eu daria o dobro, o triplo, toda a minha riqueza por este momento.
Aurélia proferiu estas palavras desdobrando um papel no qual Seixas reconheceu a obrigação por ele passada ao Lemos. José de Alencar, Senhora
O texto acima está contido na primeira parte do romance Senhora, de José de Alencar. Sobre o trecho e sobre esse romance, analise os enunciados abaixo.
1) O livro se divide em quatro partes, sendo a primeira delas intitulada “O Preço”, de onde foi retirado o texto; nela, Aurélia revela a Fernando Seixas que o comprara pelo valor de um dote.
2) As partes intituladas “O Preço”, “Quitação”, “Posse’ e “”Resgate” remetem o leitor ao universo capitalista de mercado e compreendem, ao mesmo tempo, a história do romance, ao sugerir que as relações sociais são mediadas pelo valor de troca.
3) No texto, ao dizer a Seixas que os dois estão representando uma comédia, Aurélia demonstra sua lucidez por meio do sarcasmo: como todos no meio social, ela e o esposo representarão felicidade para os demais, apesar de não se sentirem felizes.
4) Embora analise as relações sociais sob uma perspectiva mais realista, o romance Senhora trai sua condição romântica, na medida em que, no desfecho, a protagonista esquece o passado em nome do verdadeiro amor.
Estão corretas:
a) 1 e 3 apenas
b) 2, 3 e 4 apenas
c) 3 e 4 apenas
d) 1, 2, 3 e 4
e) 1, 2 e 4 apenas
11. (UFMG) “O vestido de Aurélia encheu a carruagem e submergiu o marido; o que lhe aparecia do semblante e do busto ficava inteiramente ofuscado […]. Ninguém o via…” ALENCAR, José de. Senhora. São Paulo: DCL, 2005. p. 96. (Grandes Nomes da Literatura)
Considerando-se o personagem referido – Fernando, o marido de Aurélia –, é CORRETO afirmar que a passagem transcrita contém a imagem
a) da anulação de sua individualidade, transformado que fora, como marido, em objeto ou mercadoria.
b) da sua tomada de consciência da futilidade da sociedade, que preza sobretudo a beleza física e a riqueza.
c) do ciúme exacerbado, ainda que secreto, que sente da esposa, por duvidar de que ela realmente o ame.
d) do orgulho que sente da beleza deslumbrante da esposa, ressaltada nessa ocasião por seus trajes luxuosos.
12. (UFMG) No romance Senhora, ocorrem choques entre “duas almas, que uma fatalidade prendera, para arrojá-las uma contra outra…” (ALENCAR, Senhora, p.131.)
Assinale a alternativa em que o par de idéias conflitantes NÃO se entrelaça, na narrativa, aos choques entre Aurélia e Seixas.
a) Amor idealizado X casamento por interesse
b) Condição modesta de vida X ostentação de riqueza
c) Contemplação religiosa X divertimento mundano
d) Qualidades morais elevadas X comportamentos aviltantes
13. (UFBA) Daí o terror que sentia ao ver-se próxima desse abismo de abjeções, e o afastamento a que se desejava condenar. Bem vezes revoltavam-lhe a alma as indignidades de que era vítima, e até mesmo as vilanias cujo eco chegava a seu obscuro retiro. Mas que podia ela, frágil menina, em véspera de orfandade e abandono, contra a formidável besta de mil cabeças?
Quando a riqueza veio surpreendê-la, a ela que não tinha mais com quem a partilhar, seu primeiro pensamento foi que era uma arma. Deus lha enviava para dar combate a essa sociedade corrompida, e vingar os sentimentos nobres escarnecidos pela turba dos agiotas.
Preparou-se pois para a luta, à qual talvez a impelisse principalmente a idéia do casamento que veio a realizar mais tarde. Quem sabe, se não era o aviltamento de Fernando Seixas que ela punia com o escárnio e a humilhação de todos os seus adoradores?
ALENCAR, José de. Senhora. In: COUTINHO, Afrânio et al. (Org.). José de Alencar: ficção completa e outros escritos. 3. ed. Rio de Janeiro: Aguilar, 1965. v. I, p. 742. (Biblioteca Luso-Brasileira. Série Brasileira).
A partir da leitura do romance e de acordo com o fragmento transcrito, pode-se concluir:
(01) Aurélia se sente aterrorizada diante da possibilidade de viver na miséria.
(02) O dinheiro, para Aurélia, funciona como instrumento de combate à torpeza de um meio social sem valores éticos.
(04) O texto prenuncia a mudança de atitude da personagem, que se submete ao poder da fortuna.
(08) Aurélia, ao rejeitar o assédio de seus pretendentes, está desdenhando o homem a quem ama.
(16) Existe um contraste entre a visão que Aurélia tem da sociedade carioca e os princípios morais que ela defende.
(32) O narrador, falando de Aurélia, antecipa fatos que se concretizarão no futuro.
(64) Aurélia, desiludida com a crueldade do mundo, decide afastar-se do convívio social.
Soma:
Respostas
1. Esta parte do romance é um flash-back, um retorno no tempo que conta a história da pobreza de Aurélia Camargo, protagonista de Senhora, explicitando ao leitor os motivos de sua crueldade com o marido comprado, Fernando Seixas. Nesta parte, ficamos sabendo que Fernando, embora amasse Aurélia, a troca por um dote de trinta contos de réis; podemos entender, assim, porque esta personagem o compra, vingando-se de sua fraqueza de caráter.
2. No final da primeira parte do romance Senhora, de JA, o jovem elegante e mundano Fernando Seixas, que aceita um casamento de conveniência com Aurélia Camargo, é desacatado por ela em plena noite nupcial, quando Aurélia o chama de homem vendido e moralmente o destrói. No final do romance, Fernando devolve a Aurélia o montante do dote que recebera e negocia, assim, seu resgate. Desta forma, fica provada a alteração em seu caráter pelo amor com que Aurélia o submetera às piores humilhações, fazendo dele um homem digno e honrado. Ocorre, então, um happy end: o marido e a mulher traída, que se despedem, são substituídos por dois corações apaixonados, que definitivamente e mutuamente se entregam.
3. A relação é extremamente irônica. Embora fosse pobre e desamparada até os dezoito anos, Aurélia Camargo repentinamente enriquece, herdando a fortuna de seu avô. Torna-se, assim, uma senhora, cercada de adoradores a quem despreza, como despreza o dinheiro que possui. Em relação a Fernando Seixas, o marido que compra com um dote de cem contos de réis, Aurélia Camargo é senhora primeiro por exercer o seu domínio sobre ele, por humilhá-lo, e, num sentido mais profundo, por conseguir transformar-lhe o caráter, depurar-lhe a personalidade, até ele se tornar digno de seu amor.
4. Lemos é um velho capitalista, interesseiro e obcecado pelo dinheiro. Tutor e tio de Aurélia Camargo, Lemos revela um aspecto fundamental do romance: a contradição entre a ‘amoralidade’ de sua conduta, extensiva à de outros personagens secundários, e a ‘moralidade’ da conduta das personagens principais. Tal contradição pode ser interpretada como uma consequência do ‘ajuste’ entre a ‘a cor local’, manifestada nos personagens secundários, e o ‘modelo europeu’, percebido nos personagens principais. Enquanto os primeiros vivem num universo doméstico, sem julgamentos, nem condenações, os segundos vivem a degradação humana causada pelo dinheiro, que transforma as pessoas e seus sentimentos em mercadorias.
5. c
6. b
7. d
8. a
9. e
10. d
11. a
12. c
13. Soma = 58 (02+08+16+32)
Créditos: Algo Sobre Vestibular & Passei Web
Considerando a obra como um todo qual é a questão central proposta no romance senhora?
Diana x responda por favor o mais rápido possivel
Amei, amei, amei…. bjs
Me ajudou muito!! Parabéns pelo domínio de conteúdo! Melhor site
Análise do primeiro capítulo por favor.
Preciso pra amanhã.Mim ajudem