Análise da série American Crime Story (1ª temporada) – The People v. O. J. Simpson


American Crime Story é uma série antológica do canal estadunidense FX que tem como premissa contar histórias reais de crimes que chocaram os Estados Unidos. A primeira temporada, The People v. O. J. Simpson (O Povo contra O.J. Simpson), retrata um duplo homicídio ocorrido em Los Angeles, cujo principal suspeito é O.J. Simpson (Cuba Gooding Jr.), um jogador de futebol americano aposentado e admirado por grande parte da população estadunidense.

Em 1992, dois anos antes dos acontecimentos do caso narrado na série, quatro policiais foram absolvidos após serem filmados agredindo repetidamente um homem desarmado na madrugada do dia 3 de março de 1991. O alvo das agressões era Rodney King, um taxista afro-americano que estaria dirigindo em alta velocidade. Este emblemático caso gerou grandes revoltas nas ruas de Los Angeles – época em que a cidade vivia crescentes casos de tensão racial envolvendo o departamento de polícia. Esta introdução feita pela série é importante para entendermos os desdobramentos do caso de O.J. Simpson.

Dia 13 de junho de 1994, Nicole Brown e Ron Goldman são encontrados mortos. No local do crime (casa de Nicole) os policiais localizam uma luva, um boné e um envelope. No quintal da propriedade, marcas de rastro de sangue no chão indicavam que o criminoso fugiu pelos fundos da propriedade. Pelas marcas no chão, os policiais também concluiriam que o autor do crime estava com um sangramento na mão esquerda. Como Nicole era ex-mulher de O.J. Simpson, os policiais decidem ir até a casa do atleta para lhe comunicar o ocorrido. Chegando na residência, o detetive Mark Fuhrman (Steven Pasquale) encontra um Ford Bronco branco parado na rua: no carro haviam marcas de sangue. No quintal da casa de O. J., Mark encontra outra luva, par daquela que estava na residência de Nicole.

Sedo o principal suspeito, O. J. contrata Robert Shapiro (John Travolta) para ser seu advogado. Após conversar com seu cliente, Shapiro convida para Robert Kardashian (David Schwimmer), amigo íntimo de O. J., para também atuar na sua defesa. Os advogados até começam um bom trabalho, mas quando um mandado de prisão é expedido, O. J. perde a cabeça e decide fugir da polícia. No momento de sua fuga já surgiam os primeiros apoios ao ex-astro da NFL, com pessoas segurando cartazes e gritando seu nome. Depois de várias horas de perseguição, O. J. acaba se entregando. Posteriormente, Lee Bailey (Nathan Lane) e Johnnie Cochran (Courtney B. Vance) também passam a integrar o time de defesa de O. J. Simpson.

No momento em que Johnnie Cochran passa a ser um dos advogados de O. J., a estratégia da defesa muda radicalmente. Johnnie começa a ligar o caso de O. J. com as atitudes violentas da polícia de Los Angeles contra negros. Em uma das cenas mostradas na série, Cochran estava dirigindo um carro com suas filhas quando foi abordado pela polícia, o motivo: um negro estava dirigindo um carro muito bom. Quando os advogados, em uma grande operação, conseguem com que o tribunal da Carolina do Norte liberasse fitas com gravações do detetive Mark Fuhrman pronunciando frases racistas, a estratégia de defesa atinge o seu auge. Como O. J. era uma pessoa muito famosa nos EUA, seu caso ganhou grande repercussão na imprensa, ao ponto dos canais de TV transmitirem, ao vivo, a fuga do esportista e trechos do seu julgamento. Com toda esta exposição, a defesa sobre explorar muito bem os veículos mídia, criando uma grande massa de apoio a O. J. Com Johnnie ganhando cada vez mais espaço na condução do caso, Robert Shapiro se desentende com parte da equipe de defesa, mas, apesar disso, nos momentos cruciais, todos estavam no mesmo barco.

Do lado oposto, representando o Estado da Califórnia, estavam os promotores Marcia Clark (Sarah Paulson) e Christopher Darden (Sterling K. Brown). Depois de algumas críticas sofridas pela imprensa, o jovem promotor William Hodgman (Christian Clemenson) passa a fazer parte da acusação. Marcia Clark, promotora principal do caso, sofreu várias críticas em relação ao seu visual, gerando uma verdadeira humilhação pública, algo que abala o seu psicológico. Enquanto a defesa tentava associar o caso de Simpson ao racismo e abusos cometidos pela polícia de Los Angeles, a acusação tinha provas suficientes para levar O. J. a uma condenação: na cena do crime haviam sangue e cabelos de O. J., na luva existia vestígios de sangue das duas vítimas e de O. J., na casa de O. J., novos objetos com sangue das vítimas são encontrados. A equipe de promotores, no entanto, cometeu dois erros cruciais: arrolar Mark Fuhrman como testemunha de acusação e pedir para que O. J. experimentasse as luvas usadas no crime perante o juri. A conclusão do julgamento é que venceu quem contou a melhor história.

Considerações finais
O julgamento de O. J. Simpson é, sem dúvidas, um dos mais emblemáticos da história dos Estados Unidos: não é à toa que o mesmo foi considerado o “julgamento do século”. Baseada no livro de Jeffrey Toobin, repórter que cobriu o julgamento para a revista New Yorker, a primeira temporada de American Crime Story reproduz com maestria os acontecimentos reais duplo homicídio pelo qual O. J. Simpson foi acusado. Os roteiristas souberam conduzir bem a narrativa durante os seus dez episódios, principalmente se formos considerar que na vida real, o processo de julgamento de O. J.  demorou mais de um ano para ser concluído. Tudo é apresentado de uma maneira muito dinâmica, despertando facilmente no telespectador o desejo para assistir o próximo episódio. Além do racismo e do abuso de poder por parte da polícia de Los Angeles, a série ainda retrata temas como a violência doméstica e o machismo.

Além de uma boa história, fotografia e direção, uma série só consegue se destacar se possuir um bom elenco. Neste ponto, além de escalar atores de renome, houve uma preocupação a mais na escolha de cada um dos personagens (já que todos se parecem fisicamente com as pessoas que estiveram envolvidos com o caso real). Destaco, em especial, os trabalhos de Sarah Paulson, David Schwimmer, Christian Clemenson, Courtney B. Vance  e John Travolta, que encarnam verdadeiramente seus personagens. Diante de tantas qualidades aqui apontadas, é difícil não recomendar American Crime Story: The People v. O. J. Simpson.

Nota
★★★★★ – 5 – Excelente

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Criador e editor do Portal E7, Herbert é advogado, amante de games e séries. Gamertag/ID: "HerbertVFV".
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