Análise da série F1: Dirigir para Viver (1ª temporada)
F1: Dirigir
para Viver (em inglês, Formula 1: Drive to Survive) é uma série documental
da Netflix que mostra a Fórmula 1 de uma forma como nunca vimos. Somos levados
até o interior dos boxes das equipes e conhecemos um pouco da vida pessoal dos pilotos e diretores de oito times da competição. Infelizmente, duas das
principais forças da categoria, Mercedes e Ferrari, não aceitaram participar da
produção. Como a série foi desenvolvida juntamente com a Liberty Media,
detentora dos direitos de transmissão da Formula 1, o produtor James Gay-Rees
teve acesso às belíssimas imagens oficiais da temporada de 2018.
dez episódios, acompanhamos de perto muitos dos dramas vividos pelas equipes e pilotos,
algo que não chega ao conhecimento de quem está assistindo as corridas pela TV. Vários
são os assuntos abordados, mas o que gera maior reflexo nas pistas é a
desigualdade de orçamento entre os times. Quando se é uma equipe ainda novata
no grid, como é o caso da Haas, as coisas podem ser ainda mais desafiadoras. As veteranas também não escapam: a Williams, que ganhou dezesseis prêmios nas décadas de 1980 e 1990 (somando os títulos de pilotos e construtores), hoje tem que se contentar com a última fila do grid. Em poucos anos, a equipe deixou de lutar por vitórias e foi parar nas últimas posições do grid. Ver a equipe fundada por sua família não conseguir ser competitiva é uma situação frustrante para Claire Williams.
Outra grande equipe que vive um momento complicado é a McLaren. Mesmo tendo Fernando Alonso, um piloto bicampeão mundial, o carro da escuderia inglesa não consegue ser competitivo e apresenta falhas constantes, algo inaceitável para uma equipe do porte da McLaren. A falta de resultado nas pistas acaba deixando o clima totalmente tenso dentro do time, momento em que o diretor da equipe, Zak Brown, precisa agir para conseguir melhorar o que ainda é possível. Quando se tem um piloto como Alonso, que se mostra competitivo em cada segundo dentro da pista, a frustração pela falta de desempenho é ainda maior. No fim, pouco adianta ter um piloto do porte do Alonso se a equipe para quem ele pilota não é capaz de lhe oferecer um carro que brigue por vitórias.
A Formula 1 é um esporte onde as coisas podem mudar em uma fração de segundos. As previsões antes de uma corrida podem vir a nunca se concretizarem, o que faz com que as equipes alterem as estratégia durante a prova. Problemas podem aparecer em qualquer momento e, por mais que se tenha um carro superior, existem momentos em que o piloto simplesmente tem que aceitar as limitações momentâneas e tentar manter sua posição no braço. Uma batida pode custar para equipe perda de pontos preciosos, que, ao final do campeonato, certamente farão grande diferença na disputa do mundial de construtores. A forma com que os times lidam com seus pilotos também é algo fundamental, afinal, apresar de ser um esporte coletivo, os pilotos sempre querem ficar à frente do seu companheiro de equipe.
As trocas de motores e de pilotos também ganham espaço. F1: Dirigir para Viver mostra em detalhes os motivos que levaram a Red Bull a trocar, para a temporada 2019, o motor Renault pelo Honda, bem como a resposta que a equipe francesa deu ao time austríaco, contratando para a próxima temporada o piloto Daniel Ricardo, que não estava totalmente satisfeito com a Red Bull. O longo contrato que a RBR ofereceu à Max Verstappen fez com que Daniel se sentisse desprestigiado dentro da equipe, o que motivou sua saída (ainda que o novo destino seja uma equipe com um carro inferior). A ida de Charles Leclerc para a Ferrari e a falta de confiança enfrentada por Romain Grosjean durante a temporada são outros temas abordados na série documental.
Nos episódios cinco e seis acompanhamos o fim da equipe Force India e o surgimento da Racing Point. O que motivou essa transição foram as acusações de fraude enfrentadas por Vijay Mallya, até então dono da Force India, no seu país de origem. Impedido de deixar o Reino Unido, as limitações impostas a Vijay acabaram refletindo na sua equipe, que passou a ter problemas financeiros. Com isso, a Force India passou a ter um administrador judicial até ser vendida para Lawrence Stroll, pai de Lance Stroll, atual piloto da Williams. Além da perda financeira que a Williams sofreria no ano seguinte, os dois pilotos da Racing Point sabiam que um deles não estaria na equipe para a próxima temporada.
F1: Dirigir para Viver é a oportunidade perfeita para você, que assim como eu, não é do mundo do automobilismo e não tem acesso aos boxes das equipes de Fórmula 1. Em resumo, você pode ler uma infinidade de notícias sobre a categoria e assistir todas as corridas da temporada, mas nada disso se compara ao que a série documental da Netflix entrega. Na atração, somos levados ao lado mais íntimo das equipes e pilotos e acompanhamos de perto as diversas emoções e desafios enfrentados por todos eles ao longo da temporada de 2018.
A série mostra que nos bastidores da Fórmula 1 se escondem disputas tão interessantes como as que vemos dentro das pistas. A pressão nesse esporte está espalhada por todo o ambiente, local em que a cobrança por resultados é muito alta. Mesmo sabendo o resultado final da temporada e já tendo visto todas as disputas emocionantes durante as corridas, Dirigir para Viver ainda consegue entregar uma boa dose de adrenalina para os amantes do esporte ao expor as situações dramáticas enfrentadas fora das pistas. É realmente uma pena que Mercedes e Ferrari não tenham participado.
Nota
★★★★★ – 5 – Excelente
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