Análise do filme Dois Papas
Com a morte do Papa João Paulo II, a Igreja Católica se via em uma via de mão dupla na escolha do seu sucessor: seguir à risca seu dogma ou repensar alguma de suas posições. O cardeal alemão Joseph Aloisius Ratzinger (Anthony Hopkins) era o favorito ao para assumir o comando da igreja e assim aconteceu: em abril de 2005, Bento XVI se tornou Papa. No conclave, o argentino Jorge Mario Bergoglio (Jonathan Pryce) foi o segundo cardeal mais bem votado.
De uma forma leve e descontraída, Dois Papas (no original, The Two Popes) mostra a relação entre Bento XVI e o cardeal Bergoglio (que viria a se tornar o Papa Francisco) antes e depois de sua renúncia ao papado, ocorrida em fevereiro de 2013. Apesar de ser inspirado em fatos reais, grande parte do que é mostrado no filme é ficção. Não há registros, por exemplo, que indicam que Bergoglio teria ido visitar Bento XVI, elemento central na construção do enredo do filme.
No longa, Bergoglio escreve uma carta para o Papa requisitando sua aposentadoria. Ao tomar conhecimento do pedido, Bento XVI resolve se encontrar pessoalmente com cardeal na residência de verão do Papa, onde eles acabam conversando sobre suas posições contrárias em diversos temas relacionados ao dogma cristão. Apesar de parecer algo simples, os encontros e diálogos entre os dois papas são o ponto alto do filme. Apesar das divergências, ambos têm o mesmo propósito: levar adiante os ensinamentos de Cristo. Esses diálogos são recheados com pequenas pitadas de humor que acabam funcionando muito bem.
Mais centrado em Francisco, Dois Papas conta parte da história de Bergoglio, mostrando em flashbacks sua juventude na Argentina, quando quase se casou com uma mulher, sua atuação como líder dos Jesuítas durante a ditadura militar (talvez o ponto mais polêmico de toda a sua história) e o seu envolvimento em obras sociais. Já o passado de Bento XVI, que cresceu durante um período extremamente complicado na Alemanha, quase não ganha espaço no filme.
As atuações de Anthony Hopkins e Jonathan Pryce são, de longe, os grandes destaques do longa da Netflix. A semelhança física da dupla com os papas na vida real já é algo digno de elogio. A ideia do filme não é explorar as polêmicas vividas pela Igreja Católica, ainda que elas apareçam de formas sutis, mas sim mostrar um lado mais humano de Bento XVI e Francisco, que assim como todos nós cometem erros. A dupla de atores consegue transmitir muito bem esse lado mais pessoal dos personagens, exteriorizando as angústias vivida por cada um deles.
Dois Papas foi dirigido pelo brasileiro Fernando Meirelles, responsável por Cidade de Deus e O Jardineiro Fiel, filmes que lhe renderam indicações ao Oscar e Globo de Ouro, respectivamente; o roteiro é de Anthony McCarten (Bohemian Rhapsody e O Destino de Uma Nação).
Considerações finais
Dois Papas encanta por apresentar com simplicidade diálogos entre as duas figuras mais importantes da Igreja Católica: o Papa Francisco e o Papa Emérito Bento XVI. Embora seja um filme focado nos líderes religiosos, o longa pode ser facilmente assistido por qualquer pessoa. Isso porque a atração não preocupa-se em abordar um lado mais humano dos personagens do que propriamente focar-se inteiramente em debates religiosos.
Anthony Hopkins e Jonathan Pryce estão simplesmente incríveis em seus papéis. A ambientação do filme, edição e fotografia também são dignas de elogio. As câmeras conseguem captar bem os belíssimos cenários do filme, valorizando ainda mais a produção. Talvez o grande pecado do filme tenha sido não explorar a história de Bento XVI como fez com Francisco. Independentemente disso, trata-se de grata surpresa da Netflix.
Nota
★★★★☆ – 4 – Ótimo