No fim da década de 2000, os jogos de alto orçamento pareciam cada vez menos criativos, o que não os impedia de alcançarem sucesso. Tudo indicava que o mercado bilionário dos videogames se tornaria um lugar onde apenas grandes empresas poderiam conquistar espaço, mas um jogo, que inicialmente era desenvolvido por apenas uma pessoa, conseguiu se destacar. Minecraft se tornou uma referência da década de 2010, conquistando o posto de game mais vendido de todos os tempos.
No início dos anos 2010, a plataforma de vídeos YouTube ainda estava engatinhando e ganhar a vida fazendo vídeos para internet era algo completamente fora da realidade. Postar conteúdo de game na internet ainda era algo complicado, que podia resultar em punições dentro do próprio YouTube, assim como as empresas de videogame não estavam preparadas para o consumo e compartilhamento massivo de vídeos. A Mojang, desenvolvedora de Minecraft, desde o início adotou uma postura mais liberal, não impedido que as pessoas compartilhassem trechos de suas jogatinas na internet. O estúdio viu que esta era uma forma de divulgação gratuita, o que fez com que a popularidade de seu jogo crescesse rapidamente.
Depois de mudar a maneira com que parte das empresas encarava o compartilhamento de vídeos de seus jogos na internet, Minecraft começou uma nova revolução: a popularização dos jogos independentes. Até hoje os jogos de alto orçamento são predominantes no mercado, mas os jogos independentes antes atingiam um público muito pequeno de jogadores. Quando Minecraft conseguiu atingir número de vendas superior ao de grandes lançamentos, parte da comunidade passou a abrir os olhos para os jogos de menor orçamento. O game da Mojang também criou uma certa esperança nos desenvolvedores independentes, que viram que seus projetos também poderiam alcançar sucesso. Nesta mesma época, títulos como Braid, Limbo e World of Goo tornaram-se bem-sucedidos, abrindo caminho para mais tarde Bastion, Fez, Undertale e muitos outros títulos encantarem os jogadores.
Minecraft também teve a façanha de mudar a forma com que muitas desenvolvedoras planejavam seus jogos. O processo de criação de um game passou a contemplar que os jogos fossem atrativos não só para quem joga, mas também para quem assiste.
Minecraft provou os espectadores via internet podem potencialmente se tornarem futuros adquirentes do produto. Muitos jogos miraram nessa onda de compartilhamento de conteúdo online, que também é uma forma de entretenimento, e acabaram obtendo sucesso. Podemos citar como exemplo
Goat Simulator,
Getting Over It e
Untiled Goose Game. Parte do sucesso desses três títulos certamente se devem ao compartilhamento massivo de seus gameplays na internet.
Minecraft influenciou ainda a criação de um gênero de jogo que se tornou febre em 2017 e segue fazendo sucesso até os dias de hoje, os battle royales. Entre 2011 e 2012, um modo de jogo chamado “survival games” vinha se popularizado nos servidores online de Minecraft, mas o que poucos se lembram é que ele incorporava parte dos elementos que marcam presença nos battle royales. A ideia de colocar diversos jogadores em um mapa que vai diminuindo com o passar do tempo era uma das características dos “survival games”, além de haver, mesmo de forma bem primitiva, um sistema de loot com os baús do jogo que ficavam espalhados pelo mapa. Obviamente todas essas ideias foram aprimoradas pelos battle royales, mas não se pode tirar o mérito de que os conceitos base para este modo de jogo surgiram antes em Minecraft.
Passados mais de dez anos do seu lançamento, Minecraft segue sendo um dos games com mais jogadores ativos mensalmente, chegando a superar a marca de 100 milhões de players, marca que é impressionante até mesmo para jogos gratuitos. Minecraft também vem se expandindo constantemente e uma nova versão que dá suporte ao cross play entre PlayStation 4, Xbox One, PC e Nintendo Switch foi lançada. Um spin off, Minecraft: Dungeons, chegará nesse ano e promete levar a franquia para novos horizontes.