Análise da minissérie Inacreditável

O estupro é um tipo de crime que traumatiza suas vítimas. Por disso, durante a investigação do ocorrido, a polícia precisa ser extremamente cautelosa na hora de colher do depoimento da vítima de agressão sexual. Em Inacreditável (no original, Unbelievable) vemos como as diferentes maneiras de abordagens da levam a desfechos completamente diferentes em um mesmo tipo de crime. A série critica o sistema de justiça dos Estados Unidos, escancarando a falta de integração entre as delegacias do país.

Em agosto de 2008, em uma cidade do estado de Washington, os detetives Parker (Eric Lange) e Pruitt (Bill Fagerbakke) estão atendendo um chamado de estupro. A vítima em questão é a adolescente Marie Adler (Kaitlyn Dever), que passou por diversos lares adotivos e hoje mora em um pequeno apartamento de um programa de serviços sociais. Sem encontrarem muitas provas no local, Marie é obrigada a contar diversas vezes para os policiais o que havia acontecido. Ao ser levada até um hospital, a jovem é novamente obrigada a falar sobre o ato. Foram tantos interrogatórios que levaram a própria vítima a dar declarações controversas sobre o que havia acontecido.

Três anos depois, no estado do Colorado, a detetive Karen Duvall (Merritt Wever) assume a investigação de um crime de estupro. A forma como conduz seu caso contrata diretamente com a dupla de detetives que atenderam a solicitação de Marie; Karen se aproxima da vítima e tenta deixá-la o mais confortável possível para falar sobre o ocorrido. A única pista concreta que Duvall consegue é a informação de que o agressor tem uma pinta na panturrilha esquerda. Sem deixar vestígios, o criminoso demonstra ser uma pessoa cuidadosa, com um perfil diferente dos estupradores tradicionais. À noite, ao chegar em casa e conversar com seu marido, que também é polícia, Duvall descobre que há um caso semelhante em uma cidade vizinha.

Duvall então contacta a detetive Grace Rasmussen (Toni Collette), responsável pela investigação do outro crime. Mesmo com um começo conturbado, as duas investigadores decidem reunir suas equipes para tentar solucionar os crimes. Não demora muito para elas descubram que existe uma série de outros casos em que o estuprador possui o mesmo “modus operandi”. No entanto, levantar todos esses dados não será uma tarefa fácil, já que as delegacias da região não compartilham informações entre si, o que deixa o estuprador um passo à frente da polícia.

A partir do segundo episódio, a minissérie passa a contar com dois arcos. O primeiro mostra as consequências sofridas por Marie após ser acusada de denunciação caluniosa pela polícia. A jovem foi obrigada a conviver com a exposição do seu caso na mídia local, o que fez com que ela perdesse amizades, encontrasse dificuldades no trabalho e tivesse problemas de relacionamento com seus antigos lares temporários, de onde ainda recebia apoio. Já o segundo arco é centrado nas investigações de Duval e Rasmussen, bem como a relação profissional que surge entre as duas. As investigadoras são mulheres completamente diferentes, mas estão unidas em prol de um objetivo em comum.

Criada por Susannah Grant, Ayelet Waldman e Michael Chabon, a minissérie consegue transmitir muito bem sua história dramática sem ter que recorrer a cenas pesadas e violentas. O que sabemos sobre os estupros é proveniente dos depoimentos comoventes das vítimas. Cenas do ato de violação sexual são mostradas constantemente na perspectiva da vítima: como o agressor sempre vendava os olhos delas, nada é mostrado explicitamente para o espectador.

Considerações finais
Inacreditável é baseada em uma reportagem de autoria de T. Christian Miller e Ken Armstrong, publicada pelo ProPublica e vencedora do prêmio Prêmio Pulitzer. Muito embora tenha um desenvolvimento lento no começo, a narrativa vai se tornando extremamente interessante ao longo dos demais episódios. A série basicamente mostra como é essencial que os envolvidos em crimes desta espécie tenham bastante cautela ao lidarem com as vítimas. A desconfiança das alegações nos primeiros estágios da investigação nunca é o melhor caminho a ser seguido, já que cada pessoa apresenta um tipo de reação após o evento traumático.

O grande destaque da minissérie reside nas excelentes atuações das atrizes Kaitlyn Dever, Merritt Wever e Toni Collette, que são responsáveis por dar vida as três protagonistas da atração. A excelência de seus trabalhos eleva muito a qualidade da minissérie, que conta com uma boa direção e uma trilha sonora discreta. Assim como Olhos que Condenam, outra minissérie da Netflix de 2019, Inacreditável retrata uma triste história em que os abusos cometidos por pessoas teoricamente capacitadas levam o sistema policial e judiciário a cometer erros inaceitáveis.

Nota
★★★★☆ – 4 – Ótimo

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Criador e editor do Portal E7, Herbert é advogado, amante de games e séries. Gamertag/ID: "HerbertVFV".
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