Análise do filme Um Lugar Silencioso

O silêncio pode nunca ter feito tanto sentido em um filme. Ambientado no ano de 2020, mas em uma realidade alternativa pós-apocalíptica, em Um Lugar Silencioso (A Quiet Place, no original) o planeta Terra foi invadido por estranhas criaturas que possuem hipersensibilidade ao som. Apesar de serem cegas e não sentirem cheiro, as criaturas atacam qualquer coisa que faça barulho, ainda que o som venha de uma longa distância. Os únicos locais seguros são ambientes com barulhos constantes, como rios e cachoeiras. A velocidade com que esses seres se locomovem aumenta ainda mais o desafio para a manutenção da segurança. Como esse cenário provocou a morte de grande parte da população humana e de outros seres vivos, é essencial encontrar novas formas para sobreviver.


Dirigido por John Krasinski e com roteiro de Bryan Woods, Scott Beck e do próprio Krasinski (que também atua), na película acompanhamos a vida de uma família na zona rural dos Estados Unidos. O casal Lee Abbott (John Krasinski) e Evelyn Abbott (Emily Blunt) possuem três filhos, Regan (Millicent Simmonds), Marcus (Noah Jupe) e Beau (Cade Woodward). Conhecemos os cinco personagens no dia 89, ou seja, há quase três meses eles tiveram suas vidas transformadas completamente. Não há uma explicação clara para o surgimento das criaturas, o foco é retratar o que as pessoas precisam fazer para se manterem seguras. Recortes de jornais, em cenas mais adiante, revelam que meteoros caíram na terra, fato que pode ter dado origem aos monstros.

Um Lugar Silencioso inicia mostrando a família Abbott procurando itens em um mercado abandonado. No local, Beau vê um ônibus espacial e demonstra o desejo de levá-lo para casa. Quando percebe que o filho mais novo está segurando algo que pode fazer barulho, Lee imediatamente toma o brinquedo de suas mãos, retira as pilhas e o adverte do perigo que aquilo poderia causar para todos. No momento em que estavam indo embora, Regan entrega a nave para o irmão. Ficando sozinho no mercado, Beau pega as pilhas e segue, junto com os pais, o caminho para casa. Não é preciso utilizar mais palavras para dizer que tal ação gerará consequências.

Passados mais de um ano, agora, no dia 472, Evelyn está grávida e todos se preparam para a chegada de um novo integrante da família. Os desafios para ganhar e criar um bebê em um mundo onde deve-se fazer constantemente silêncio são enormes, razão pela qual ações são necessárias para garantir que tudo ocorrerá bem. Lee construiu um sistema de segurança, com câmeras que registram imagens dos arredores de onde estão, enquanto seus filhos pregam papel na parede em uma tentativa de criar um local acusticamente isolado. É sabido que na região onde eles estão instalados há a confirmação de três criaturas, aumentando ainda mais o risco do parto. Posteriormente, no dia 473, o longa nos apresenta o desfecho de toda essa situação.

Como são poucas as falas ditas durante 1 hora e 30 minutos de filme, é extremamente necessário que você preste atenção em todos os detalhes que são exibidos na tela, seja nas comunicações dos personagens, feitas na sua maioria por língua de sinais (devidamente legendadas para permitir ao público compreender as interações), as expressões faciais, anotações e recortes de jornais. Mesmo com a ausência dos diálogos tradicionais, o longa-metragem consegue apresentar e conduzir muito bem a sua história, ao mesmo tempo que cria situações inusitadas, como o fato da personagem Regan ser surda. Pense no desafio para uma criança viver sem poder escutar os sons, algo que é primordial na nova realidade. Um detalhe interessante é que a atriz Millicent Simmonds realmente tem deficiência auditiva, o que refletiu muito na performance da sua personagem, além de ser uma excelente oportunidade de inclusão.

O filme tem uma ótima ambientação e consegue transmitir bem para o público como a sociedade foi devastada. Elementos como os caminhos de areia, criados para garantir deslocamentos seguros e silenciosos, e o sistema de alerta desenvolvido por Lee, com as lâmpadas, se encaixam perfeitamente no universo do filme. O trabalho de criação das temidas criaturas é extremamente bem feito, seus dentes afiados e o sistema aguçado de audição são os principais destaques.

Considerações finais
Nos acostumamos tanto com o silêncio durante o filme que qualquer barulho pode resultar em pequenos sustos. É de se elogiar todo o clima que é criado, grande parte disso em razão do excelente trabalho de mixagem de som. A discreta trilha sonora, inserida de forma cirúrgica em poucas cenas, complementa bem a experiência que Um Lugar Silencioso se propõe a entregar. O trabalho de ambientação do mundo pós-apocalíptico é ótimo, assim como o elenco desempenha atuações dignas de elogios.

Duas situações, entretanto, me incomodaram. A primeira delas é a falta de contextualização que algumas pessoas podem ter com o filme. Como mencionei anteriormente, um recorte de jornal informa que meteoros atingiram a Terra, o que provavelmente explica o surgimento das criaturas. Esse é um detalhe que pode facilmente passar batido, já que na versão que eu assisti sequer havia legenda na cena que mostra a manchete do jornal que informa o ocorrido. Outra coisa que me causou estranhamento foi o fato das criaturas escutarem barulhos a longas distâncias, mas não serem capazes de captar os sons da respiração ofegante de Evelyn em ambientes fechados, onde não havia qualquer outra onda sonora. Tirando esses detalhes, estamos diante de um dos melhores filmes de terror e suspense dos últimos anos.

Nota
★★★★☆ – 4 – Ótimo

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Criador e editor do Portal E7, Herbert é advogado, amante de games e séries. Gamertag/ID: "HerbertVFV".
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