Porque o filme A Bruxa de Blair ainda merece sua atenção
No ano de 1999 chegou aos cinemas um filme que revolucionaria todo o gênero de terror. Com orçamento de “apenas” 60 mil dólares, A Bruxa de Blair acabou arrecadando cerca de 250 milhões de dólares nas bilheterias. Divulgado inicialmente como um filme verídico, a produção tentou convencer o espectador de que as imagens nele contidas eram filmagens encontradas em uma floresta, onde um grupo de jovens havia desaparecido. Analisando hoje, mais de vinte anos após o seu lançamento, a estratégia de marketing pode até parecer louca.
Como durante todo o longa as filmagens parecem ser completamente amadoras, já que a câmera era segurada por algum dos personagens (que tem uma justificativa na narrativa para filmarem os acontecimentos), não seria muito difícil transmitir a ideia de que se tratava de uma história real. Em alguns momentos, fica implícito a existência de alguma criatura sobrenatural na floresta, que seria a suposta bruxa, personagem que foi baseada em uma lenda urbana dos Estados Unidos. Como todos acontecimentos, mesmo os mais absurdos, poderiam ter sido armados por pessoas comuns, até os mais descrentes na existência do paranormal poderiam acreditar na veracidade dos acontecimentos retratados no filme.
Nos dias de hoje, sabemos que toda a história retratada na floresta não é real. Entretanto, se fizermos um esforço e tentarmos assisti-lo com um pouco da visão que as pessoas tinham na época, não é difícil perceber que a produção dedicou-se em mantê-lo o mais realista possível. Estamos falando do final do século XX, quando a internet ainda era um recurso limitado; questionar a veracidade de um filme como A Bruxa de Blair era algo muito mais difícil.
Outra escolha ousada tomada pelos produtores foi assustar os atores durante as filmagens. A técnica foi utilizada para que o elenco incorporasse os personagens da forma mais eficaz. Em razão do pouco conhecimento que tinham do roteiro, enquanto gravavam na floresta os atores não sabiam o que era parte do filme e o que era real, motivo pelo qual muitas das expressões de medo do filme são espontâneas. Isso fez com que o elenco literalmente vivesse grande parte dos passos dos seus personagens.
Apesar de não ser o primeiro filme a adotar esse tipo de gravação, foi com A Bruxa de Blair que o estilo found-footage se popularizou no cinema. Após o seu lançamento, uma série de outros filmes com o mesmo estilo de gravação surgiram na indústria, dando origem a franquias de sucesso, como é o caso de REC. Apesar disso, é difícil ver algum outro longa que conseguiu transmitir para o público a sensação de realismo e tensão que A Bruxa de Blair entregou. Mesmo após toda a mentira por trás do filme ter sido descoberta, o longa ainda merece sua atenção por entregar uma experiência diferente, ainda que a sensação proporcionada hoje seja completamente diferente. É um filme que mantém um clima sólido de suspense do início ao fim.