Análise da série The Sinner (2ª temporada)
Junto com Bess McTeer (Ellen Adair) e Adam Lowry (Adam David Thompson), o jovem Julian Walker (Elisha Henig) estava viajando rumo às cataratas do Niágara, localizada na divisa dos Estados Unidos com o Canadá. No meio do caminho, o carro de Adam apresenta um problema e eles são obrigados a passar a noite em um hotel. No dia seguinte, logo cedo, Julian vai tomar o café da manhã sozinho e volta para o quarto com duas canecas de chá, uma para Bess e outra para Adam. Pouco depois de beberem o líquido, os dois começam a passar mal e falecem no local. Uma das mortes, ocorrida no banheiro, me lembrou uma clássica cena do filme Psicose, de Alfred Hitchcock.
A detetive Heather (Natalie Paul) é chamada para investigar o ocorrido, mas como ainda era muito jovem na carreira policial, ela teme que uma má condução em um caso de homicídio duplo possa comprometer o seu futuro profissional. Heather então entra em contato com o detetive Harry Ambrose (Bill Pullman), que ganhou grande notoriedade após o caso de Cora, para pedir ajuda. Além de ter nascido e crescido na região, Harry era um grande amigo do pai de Heather, Jack Novack (Tracy Letts), o que torna tudo muito mais fácil.
Algo que chama a atenção logo no começo é que no carro não havia nenhum objeto pertencente a Julian. Como alguém vai viajar sem roupas e itens básicos de higiene pessoal? O que será que o casal queria fazer com ele? Qual a motivação de Julian para envenenar essas pessoas? Temos muitas perguntas e poucas respostas para esse mistério. Nas primeiras conversas que tem com Heather e Harry, Julian aparenta ser um pré-adolescente com problemas emocionais; ele confessa o crime, responde poucas perguntas e tem um surto quando Heather tenta entender suas falas enigmáticas.
Quando Vera Walker (Carrie Coon) aparece na delegacia se identificando como mãe do garoto, The Sinner começa a apresentar para o público maiores detalhes sobre a história da sua segunda temporada. Vera e Julian residem na comunidade de Mosswood, o mesmo local em que as duas vítimas do homicídio moravam. Os moradores de Mosswood não são bem vistos pelos habitantes da cidade de Keller por razões bem claras: além de parecer existir uma espécie de culto religioso na comunidade, os seus membros possuem comportamentos bem estranhos.
Assim que Mosswood passa a ser um local relevante para a investigação, Heather começa a ter lembranças de algo que aconteceu no passado: ela perdeu contato com alguém especial quando essa pessoa começou a frequentar a comunidade. As cenas de flashback mostram em detalhes esse fato e criam um grande pano de fundo para as histórias de Julian, Vera e outros personagens importantes da narrativa. São tramas bem construídas e surpreendentes, mas o desfecho não correspondeu às expectativas que foram criadas.
Na primeira temporada, o detetive Ambrose revelou para Cora que existia algo em comum entre eles, mas não entrou em detalhes. A fala de Ambrose faz muito mais sentido agora, quando a atração nos revela um evento traumático da sua infância. Essa experiência do passado é importantíssima para ajudar Ambrose mais uma vez a dominar a situação com a qual ele é obrigado a lidar. Sua honestidade com Julian e os relatos de suas experiências fazem com que o policial ganhe a confiança do garoto, algo importantíssimo, já que Vera exerce grandes influências sobre o filho.
Considerações finais
Depois de uma ótima primeira temporada, o criador da série, Derek Simonds, tinha o grande desafio de apresentar para o público uma sequência que, ao menos, mantivesse o mesmo nível de qualidade visto anteriormente. A história de Julian começa de uma forma bem intrigante, assim como foi a de Cora, mas o desenvolvimento da trama deixa a desejar. A sensação que tive foi que houve uma preocupação em criar uma série de elementos na tentativa de tornar a história complexa e, no fim, as soluções apresentadas não são condizentes com tudo o que foi construído.
Diferente do caso de Cora, quando ficou bem evidente a razão de sua conduta, aqui a motivação da ação de Julian ficou implícita, apesar de ser facilmente compreendida pelo espectador. O culto existente em Mosswood, talvez a parte mais interessante da história, teve uma introdução promissora e ficou só nisso mesmo, já que o restante dos eventos seguem uma outra pegada. Além disso, no capítulo final temos uma revelação totalmente desnecessária no meu ponto de vista, não farei maiores comentários para não estragar a experiência daqueles que ainda não terminaram a temporada. Mesmo com essas falhas, a série conseguiu prender a minha atenção até o seu encerramento. Os destaques positivos ficam por conta do excelente elenco, bela fotografia e direção muito bem executada.
Para finalizar, gostaria apenas de fazer uma reflexão sobre o sistema processual penal dos Estados Unidos, que julga um jovem de 13 anos como se ele fosse um adulto. A diferença entre um mesmo caso ser julgado pela vara criminal ou ser tratado como uma questão de família mostra o quão perverso o sistema pode ser com os menores infratores, não é à toa que os Estados Unidos possuem a maior população carcerária do mundo. Colocar em uma penitenciária todos aqueles que praticam crimes é uma solução muito mais cômoda para o Estado do que realmente enfrentar o problema.
Nota
★★★☆☆ – 3 – Bom
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