Análise da série Twin Peaks (1ª temporada)

Trinta anos depois da ABC exibir a temporada de estreia de Twin Peaks, aqui estou eu assistindo a série criada por Mark Frost e David Lynch pela primeira vez. Penso que quando uma atração é bem feita, ela pode ser facilmente apreciada em qualquer época e por qualquer pessoa. Limitações de tecnologia logicamente existem (para se ter ideia, eu não era nem nascido em 1990), mas não é algo que compromete a experiência com a obra. A curiosidade por conhecer uma série que marcou a TV dos Estados Unidos foi maior do que qualquer tipo de barreira temporal.
De início já adiando que Twin Peaks apresenta a maior quantidade de personagens esquisitos que eu já vi em uma série. Não encare essa afirmação como algo negativo, já que tudo funciona muito bem dentro do universo da trama, que por sinal é muito bem construído. A série vai liberando os segredos dos seus personagens em doses homeopáticas, garantindo um tom constante de mistério em todos os oito episódios da temporada.
Tudo começa em fevereiro de 1989, quando o corpo de Laura Palmer (Sheryl Lee) é encontrado embrulhado em um plástico, à beira de um rio, por Pete Martell (Jack Nance). O xerife Harry Truman (Michael Ontkean) é chamado e prontamente comparece ao local, junto com sua equipe, para averiguar o ocorrido. Assim que os familiares e amigos são comunicados, a polícia começa a realizar interrogatórios de pessoas próximas a Laura para tentar descobrir quem seria o autor do crime.
A pequena cidade de Twin Peaks já estava abalada quando a polícia é novamente contatada sobre o desaparecimento de uma outra jovem. Por sorte, a segunda garota foi encontrada viva e levada para um hospital, onde entrou em coma. Com uma corda amarrada no braço, a jovem apresentava sinais de que havia sido violentada sexualmente. Teria alguma ligação entre os dois crimes? Quem aparece para dar uma força nas investigações é o agente Dale Cooper (Kyle MacLachlan), do FBI. Cooper é uma figura: apreciador de um bom café, ele está sempre registrando notas de voz para Diane com seu gravador de fita cassete. No caminho até a cidade, ele ficou encantado com as árvores que cercavam a estrada e faz questão de ressaltar isso logo quando conhece Truman.
Quando tem o primeiro contato com o corpo de Laura, Cooper examina com cuidado suas mãos e acaba encontrando um pedaço de papel com a letra R debaixo de uma de suas unhas. Nesse instante, o agente percebe que pode haver uma conexão entre a morte de Laura e o assassinato de uma outra garota ocorrido há um ano. Todos os acontecimentos narrados até agora são retratados no episódio “Piloto”, também chamado de “Northwest Passage”. Com noventa minutos de duração, mais que o dobro dos demais episódios da temporada (que giram em torno de quarenta minutos), o episódio de estreia de Twin Peaks cumpre muito bem o seu papel de apresentar para o público um panorama inicial da sua intrigante história. Quem teria matado Laura?
A série tem uma trama com desenvolvimento lento, mas em nenhum momento se mostra cansativa. A narrativa fica muito mais interessante depois que Cooper tem um sonho extremamente estranho onde detalhes sobre o crime lhe foram revelados. Entretanto, para conseguir compreender as mensagens, antes é preciso decifrá-las. Ao longo da temporada, descobrimos que Laura tinha muitos segredos, o que acaba dificultando o trabalho da polícia. Ao mesmo tempo, James Hurley (James Marshall) e Donna Hayward (Lara Flynn Boyle), as duas pessoas mais próximas de Laura, tentam compreender o que aconteceu com a jovem de apenas dezessete anos. E eles não são os únicos, já que existem outras pessoas que também parecem estar interessadas nos fatos relacionados à morte de Laura.
Considerações finais
Twin Peaks acerta em cheio em criar um universo rico, repleto de personagens marcantes e com histórias curiosas. Qual é a da Senhora do Tronco (Catherine Coulson)? E aquela história de Nadine (Wendy Robie) e o trilho de cortina que não faz barulho? Nenhuma das duas são personagens principais, mas suas aparições, ainda que breves, são sempre marcantes. Todo o mérito fica com os criadores da série, já que tramas envolvendo personagens secundários muitas vezes surgem apenas para tapar buracos ou enrolar a história. Aqui, além de serrem atrativas, as subtramas se encaixam perfeitamente ao misterioso mundo da série.
Outro elemento de destaque na atração é excelente trilha sonora de Angelo Badalamenti. Temos uma série de faixas marcantes (inclusive na abertura) que cumprem muito bem o papel de transmitir diversos tipos de emoções para o expectador. A fotografia e a direção são ótimas, principalmente quando olhamos a época em que o seriado foi produzido. Finalizando, deixo também meus elogios para as excelentes atuações do elenco: talvez tenha havido alguns pequenos exageros, mas nada suficiente para comprometer a experiência.
Nota
★★★★★ – 5 – Excelente
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Criador e editor do Portal E7, Herbert é advogado, amante de games e séries. Gamertag/ID: "HerbertVFV".
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