Análise da série Dark (3ª temporada)

“A pergunta não é de que tempo, mas de qual mundo”. A última linha de diálogo da segunda temporada diz muito sobre como Dark caminharia para o seu terceiro e última ciclo. Se você já achava muito a existência de cinco linhas temporais, se prepare para descobrir um mundo paralelo, onde a figura de Jonas (Louis Hofmann/Andreas Pietschmann) simplesmente não existe. Seria essa uma versão de como as coisas aconteceriam se Mikkel (Daan Lennard Liebrenz) não tivesse viajado para o passado? Independente de qual seja a resposta, fato é que o apocalipse acontece nos dois mundos, mas em dias diferentes. Confuso? Seria estranho se não fosse!
Quem assume o papel central no novo mundo é Martha (Lisa Vicari/Nina Kronjäger), que inclusive toma posse do conhecido casaco amarelo de Jonas. O episódio de estreia da terceira temporada funciona quase que como uma releitura de vários fatos retratados no primeiro ano da série. Embora existam diferenças significantes entre os mundos de Martha e de Jonas, algumas coisas acontecem em ambos, como é o caso dos desaparecimentos de Erik Obendorf (Paul Radom), em 2019, e de Mads Nielsen (Valentin Oppermann), em 1986, e do próprio apocalipse, já mencionado anteriormente.
É para esse universo paralelo que Martha leva Jonas segundos antes de a cidade de Widen ser devastada pelo apocalipse. Em uma continuação direta dos eventos retratados no final da segunda temporada, os dois vão parar na famosa caverna e lá ela explica para ele que aquele era o dia em que tudo tinha começado, o dia que eles se encontraram pela primeira vez, e que havia um nó inseparável que unia os dois mundos. Sem dar maiores explicações, Martha faz uma nova viagem no tempo e deixa Jonas livre para explorar o seu mundo. Cabe a ele agora encontrar uma forma de impedir que a catástrofe aconteça nos dois universos. Como tudo é novo para Jonas (e para nós), junto com o personagem é que vamos descobrindo os primeiros mistérios da temporada final de Dark.
Da mesma forma que Jonas tinha objetivos para serem cumpridos, Martha não estava fazendo tudo aquilo por acaso. Quem dita os seus passos é Eva (Barbara Nüsse), a sua versão mais velha – assim como Adam (Dietrich Hollinderbaumer) faz com Jonas. O nome dos dois é uma clara referência aos personagens bíblicos Adão e Eva, envolvidos na história do pecado original. Eva, inclusive, tem dois quadros fixados na parede de sua casa que retratam o acontecimento narrado no livro do Gênesis. Tal como Adam, Eva quer colocar um fim em todo esse loop, cada um, obviamente, com suas motivações e crenças pessoais. Não podemos esquecer que Claudia (Julika Jenkins/Lisa Kreuzer), carinhosamente apelidada de diabo branco, é outra importante personagem que também deseja ajeitar as coisas. A pergunta é: qual dos três estaria certo?
Dark continua não entregando respostas fáceis para seus espectadores e os criadores da série, Baran bo Odar e Jantje Friese, vão além e buscam ideias ainda mais ousadas para a conclusão da história. As viagens no tempo se tornam cada vez mais frequentes e desta vez vão além das até então cinco linhas temporais. Como agora existem dois mundos, é preciso ter atenção redobrada para não misturar o que acontece em cada universo. E isso não é tudo: no sexto episódio, “Luz e sombra”, um novo elemento introduzido torna todos os acontecimentos relativos, expandindo ainda mais os universos da atração. A partir desse momento é que a porta do desfecho de toda essa aventura começa a ser aberta. Essa quantidade absurda de teorias mirabolantes sobre o tempo e o espaço explicam por que a versão mais velha de Jonas não conheceu a Martha da realidade alternativa. Pela primeira vez parece que as coisas não estavam acontecendo como deveriam ser. Até o sétimo episódio eu não tinha a mínima noção de como as coisas acabariam, mas o oitavo e último capítulo, por sorte, entregou respostas satisfatórias.
Ainda que algumas questões talvez não tenham recebido as respostas que desejávamos, é interessante observar como a série se preocupou em dar maior espaço para alguns personagens, completando a confusa árvore genealógica da trama. O misterioso Noah (Mark Waschke/Max Schimmelpfennig), por exemplo, ganhou grande destaque no penúltimo episódio, “Entretempo”, ocasião em que conhecemos melhor como foi sua relação com Elisabeth (Sandra Borgmann) e o que o motivava durante todos esses anos. Todo viajante no tempo tinha uma missão, ninguém fazia nada por acaso. No fim de tudo, Dark é um conjunto de histórias sobre o amor.
Considerações finais
Cada um dos oito episódios da terceira temporada é uma jornada de descobertas e redescobertas. Mesmo contando com capítulos maiores (somente três têm duração menor do que uma hora), a série conseguiu desenvolver bem a sua trama audaz e não se mostrou cansativa em nenhum momento. Em função da inserção de novos elementos, foi necessário fazer uma introdução no meio da história que já conhecíamos. Em um primeiro momento, pode parecer que tal escolha destoa um pouco de tudo o que vinha sendo praticado na atração, mas não demora muito para as coisas estarem novamente nos seus devidos lugares (se é que isso é possível em Dark). Gostei muito do episódio de estreia da terceira temporada: identificar as semelhanças e diferenças entre os dois mundos foi uma experiência que eu, particularmente, achei bem legal.
Assim como tudo o que foi construído ao longo desses três anos, o encerramento da história também é bem elaborado, apresentando um desfecho convincente e coerente com os universos da série. As pistas para a conclusão foram inseridas nos episódios anteriores, mas era difícil de se imaginar que tais detalhes seriam o fator principal para que as coisas fossem finalmente consertadas. Fotografia e direção mais uma vez se mostraram impecáveis, entregando belíssimas imagens para o público. O elenco, extremamente bem escolhido, novamente desempenha ótimas interpretações. A trilha e os efeitos sonoros se encaixam perfeitamente e ajudam a construir todo o mistério. Destaco ainda a atenção nos mínimos detalhes para fazer a distinção entre os dois mundos. Dark encerra sua trajetória se consolidando como uma das melhores atrações já produzidas pela Netflix – que bom que a plataforma ofereceu os recursos necessários e deu tempo para que essa bela história fosse desenvolvida e concluída com maestria. “O que sabemos é uma gota; o que ignoramos é um oceano.” – Isaac Newton.
Nota
★★★★★ – 5 – Excelente
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Criador e editor do Portal E7, Herbert é advogado, amante de games e séries. Gamertag/ID: "HerbertVFV".
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