Análise da minissérie Nada Ortodoxa
Desde que era muito pequena, Esther (Shira Haas) foi criada pela avó materna. Sua família faz parte de uma comunidade de judeus ortodoxos em Williamsburg, no Brooklyn, região da cidade de Nova York. Seguindo uma rígida doutrina religiosa, o grupo não tem quase nenhum contato com a tecnologia, assim como não é adepto a vários costumes modernos. Visando repor as perdas do holocausto, o papel da mulher é basicamente voltado para a procriação. Mesmo tendo crescido nesse ambiente, Esty, como todos a chamam, decide largar tudo para tentar recomeçar sua vida em Berlim, onde sua mãe mora.
O processo, no entanto, será mais difícil do que ela tinha imaginado. Depois de ver sua mãe beijando outra mulher, Esty desiste de fazer qualquer tipo de contato. Com isso, a jovem de 19 anos acaba ficando sem abrigo, em um país completamente desconhecido, e com um orçamento reduzido. Uma luz começa a aparecer no final do túnel quando Esty conhece Robert (Aaron Altaras) em uma cafeteria. Ao ajudá-lo a levar alguns copos de café até um conservatório de música, ela tem contato com os amigos de Robert que estavam no local para ensaiar. Embora sejam pessoas que levam um estilo de vida bem diferente daquele com que ela estava acostumada, Esty cria um certo vínculo com eles, que passam a ser as pessoas mais próximas dela na capital alemã.
Depois de ser pega passando a noite em uma das salas do conservatório, a protagonista é encorajada a tentar uma bolsa de estudos que é concedida pela instituição a pessoas que se encontram em dificuldades financeiras ou em outras circunstâncias difíceis. A aprovação, no entanto, exige que o candidato demonstre um alto domínio musical. Enquanto morava em Nova York, Esty fez aulas de piano, mas será que isso será o suficiente? Essa parte da narrativa tem reviravoltas interessantes e termina com um desfecho surpreendente e emocionante.
Nos Estados Unidos, ao perceber que a esposa havia desaparecido, Yanky Shapiro (Amit Rahav) rapidamente procura a ajuda de seus pais. Quando a família descobre para onde Esty havia ido, o Rabino (Eli Rosen) pede para que o primo de Yanky, Moishe Lefkovitch (Jeff Wilbusch), viaje com ele até a Europa e o ajude a trazer sua esposa de volta. Acontece que Moishe não é uma pessoa que segue estritamente os costumes judaicos. Tal como ocorre com Esty, Yanky também passa a ter contato com situações antes inimagináveis.
A trama de Nada Ortodoxa (Unorthodox, no original) é complementada com cenas de flashbacks: além de mostrar como Yanky e Esty se conheceram, os eventos no passado retratam os preparativos para o casamento, a celebração religiosa e os dilemas enfrentados pelo casal durante o primeiro ano vivendo juntos. É uma boa oportunidade para ter um contato, ainda que mínimo, com a cultura dos judeus ortodoxos. Os diálogos envolvendo o núcleo judaico são todos em iídiche, o que de certa forma aumenta a imersão.
Como se trata de uma minissérie, eu estava esperando um final que respondesse todas as questões que surgiram ao longo da história. Quando os créditos começaram a aparecer, até olhei se não havia uma cena pós crédito, já que fiquei com a sensação de ter faltado algo para concluir a narrativa. O fato de a personagem escolher voltar para os EUA ou permanecer na Alemanha (que se torna o ponto central da trama) tem sim um desfecho bem claro, mas o resultado do teste da personagem no conservatório musical, por exemplo, fica implícito.
Considerações finais
Baseada no livro autobiográfico Nada Ortodoxa: Uma História de Renúncia à Religião, escrito por Deborah Feldman, a minissérie conta a história de uma jovem judia que decide romper com seus costumes para dar um novo rumo na sua vida. A atriz israelense Shira Haas, que dá vida a protagonista de Nada Ortodoxa, desempenha um trabalho fenomenal; ela chegou até mesmo a raspar os cabelos em decorrência do papel, cena mostrada no segundo episódio. Amit Rahav é outro que também se destaca. No geral, o elenco executa bons trabalhos.
Escrita por Anna Winger e Alexa Karolinski, a minissérie da Netflix transmite sua história mesclando cenas do presente com o passado. O enredo é muito bem conduzido ao longo dos quatro episódios, com aproximadamente cinquenta minutos cada, mas o encerramento abrupto acabou me decepcionando um pouco – é uma questão de detalhe, pode ser que você não tenha a mesma percepção minha. Maria Schrader mandou muito bem na direção da atração, que conta com uma fotografia muito bonita.
Nota
★★★★☆ – 4 – Ótimo
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