Análise do filme A Voz Suprema do Blues
Antes de qualquer coisa, A Voz Suprema do Blues (no original, Ma Rainey’s Black Bottom) já é uma obra especial por ser o último filme gravado por Chadwick Boseman. Mais do que isso, Boseman desempenha uma performance notável junto com Viola Davis, sendo o trabalho dos dois atores o principal destaque do longa, que é uma adaptação da peça de teatro homônima de 1984, escrita por August Wilson.
Ambientado em 1927, Ma Rainey (Viola Davis) é uma cantora negra muito famosa, principalmente no sul dos Estados Unidos. Considerada a mãe do blues, Ma vai realizar uma sessão de gravação do seu novo álbum em Chicago, no estúdio controlado por Mel Sturdyvant (Jonny Coyne). Como todo produtor, Sturdyvant visa lucros, mas ele prefere que o dinheiro seja proveniente de músicas gravadas por artistas brancos. O racismo da época não é a temática principal, mas acaba se mostrando presente em diversas partes do longa-metragem.
No horário marcado, Toledo (Glynn Turman), Cutler (Colman Doming) e Slow Drag (Michael Potts), os membros da banda, chegam no estúdio. A ausência de Ma começa a irritar Sturdyvant, e Irvin (Jeremy Shamos), empresário da cantora, tenta contornar a situação. Pouco depois, o trompetista Levee Green (Chadwick Boseman), que havia acabado de comprar um sapato se junta a eles. Diferente dos demais, Levee quer construir sua própria carreira solo, motivo pelo qual ele havia entregado algumas de suas composições para Sturdyvant. Criticado por seus companheiros, que estavam confortáveis na posição em que se encontravam, Levee tinha esperança que aquelas canções fossem suficientes para convencer o produtor a gravar seu primeiro álbum.
Acompanhada da namorada, Dussie Mae (Taylour Paige), e do sobrinho, Sylvester (Dusan Brown), Ma chega ao local uma hora atrasada. De personalidade forte, ela deixa bem claro que as coisas seriam feitas da forma que ela quer, e não como seu empresário e seu produtor haviam decidido previamente. Rejeitando a versão mais animada de Levee, Ma define que seu sobrinho fará a introdução da música “Black Bottom”, que será gravada na sua forma tradicional. O problema é que o garoto tem gagueira, o que acaba dificultando um pouco as coisas.
Em meio a falta de uma Coca-Cola e de outros problemas que acabam surgindo no processo de gravação, temos as flertadas de Levee com Dussie Mae e o desabafo de Ma sobre sua carreira: mesmo sendo uma artista famosa, seu empresário e seu produtor estão interessados apenas na sua voz, enquanto todo o resto pouco importa para eles. O enredo do filme não vai muito além disso, embora apresente alguns desdobramentos interessantes na sua reta final.
A Voz Suprema do Blues conta com ótimos diálogos, principalmente quando Levee está participando, mas em outros momentos vemos algumas repetições de assuntos já abordados anteriormente. A atração conta com uma excelente caracterização de época e um breve retrato de como era a sociedade nos EUA no final da década de 1920. É aí que percebemos que, mais de noventa anos depois, algumas questões ainda se mostram bastantes atuais.
Considerações finais
Dirigido por George C. Wolfe, A Voz Suprema do Blues é um filme que se destaca pelo desempenho excepcional de Chadwick Boseman e Viola Davis: os dois conseguem transmitir muito bem a variedade de emoções de seus personagens ao longo da história. Ela dá vida a uma artista determinada e com uma personalidade extremamente forte, que não aceita ordens de ninguém, muito menos de homens brancos que só estão interessados em lucrar com seu trabalho. Já ele interpreta um trompetista que tem o sonho de construir uma carreira de sucesso no meio musical, mesmo com todas as dificuldades impostas pela sociedade. O restante do elenco também executa ótimos trabalhos, mas acabam ficando em segundo plano.
O ponto mais fraco do filme é o seu enredo. A película está longe de ter uma história ruim, mas também não apresenta nada de muito especial, ficando na média nesse quesito. Falta uma maior profundidade no desenvolvimento de personagens, como a própria Ma Rainey. Por outro lado, uma simples garrafa de Coca-Cola e uma porta acabam tendo significados muito especiais. Tal como no teatro, o filme faz uso de poucas locações, concentrando sua trama quase exclusivamente no estúdio de gravação. A ambientação é extremamente bem construída e consegue transmitir muito bem para o público as nuances de outra época, bem como o calor que estava fazendo no dia em que tudo acontece.
Nota
★★★★☆ – 4 – Ótimo
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