O recomeço exemplar de Brinquedo Assassino

Recomeçar uma franquia famosa e já consagrada definitivamente não é uma tarefa fácil, mas essa foi a proposta de Brinquedo Assassino (2019), reboot da sangrenta saga de Chucky, que começou há mais de 30 anos e não tem prazo para ser finalizada. Na TV, Chucky terá uma série que dará sequência aos eventos vistos nos filmes antigos, o que acabou abrindo espaço para que o brinquedo tivesse um recomeço nos cinemas.
Se normalmente os reboots de filmes clássicos ficam extremamente presos ao material original, fazendo referências a ele tempo todo, Brinquedo Assassino vai pelo lado contrário. Apesar da proposta do filme ser a mesma do antigo, a trama foi completamente renovada. Até mesmo Chucky tem uma nova origem, agora não sendo mais um homem com a alma dentro do boneco, mas sim um brinquedo altamente tecnológico e com sérios defeitos de fábrica. Para quem estavam esperando ver o filme antigo com um novo elenco e um visual melhorado, a nova produção não deve ter causado uma boa impressão, já que a proposta era renovar essa franquia, o que o filme conseguiu fazer surpreendentemente bem. 
É impressionante como os realizadores do longa-metragem não tiveram medo de alterar os conceitos já estabelecidos. O filme conseguiu se desvencilhar totalmente de tudo o que já vimos, sem perder a essência do slasher clássico dos anos 80. Chucky ainda tem um humor bizarro e continua causando o caos, porém todo o ambiente está diferente. Agora a tecnologia é um ponto chave, sendo utilizada para que os assassinatos de Chucky não sejam ridículos. Como o brinquedo tem funções bem parecidas com os assistentes pessoais que temos na vida real, ele consegue influenciar o ambiente para ter uma maior vantagem sobre suas vítimas.  
Brinquedo Assassino poderia facilmente beirar o ridículo com cenas absurdas de um pequeno brinquedo assassinando pessoas normais, mas a execução é tão bem feita que o filme passa longe disso. A equipe de produção parece ter estudado todos os problemas do filme original, criando um slasher sangrento, mas que não é desnecessário e nem fica tentando apelar para assassinatos extremamente sangrentos e que agradam os fãs de gore. Tudo flui perfeitamente e o sangue aparece quando realmente deve, sem nenhuma forçação de barra.
Talvez a coisa mais absurda do longa seja a inteligência de Chucky – que não é nada normal. É difícil acreditar que um boneco defeituoso se torna um assassino, mas ainda estamos falando de um filme slasher que se chama “Brinquedo Assassino”, sendo mais fácil do público relevar esse ponto. No fim, as qualidades da produção se sobressaem tanto que quase não paramos para pensar nos problemas, que são realmente mínimos. Ainda assim, provavelmente haverá pessoas que não gostarão desse estilo mais Black Mirror da produção, algo que já estava claro desde os trailers. 
 
Outro ponto muito importante de Brinquedo Assassino é que o filme consegue ser fácil de se assistir, mesmo sendo bastante pesado – irônico, não? Os personagens são muitos legais e é fácil de se envolver com eles. A trama tem um ritmo muito bom e consegue construir uma grande tensão, ao mesmo tempo que se desenrola de uma forma bem rápida. É uma produção muito dinâmica, você senta para assistir e nem vê o tempo passar. Isso se deve ao equilíbrio entre o terror e a comédia, que é muito bem feito e se aproxima bastante dos primeiros filmes (mesmo que talvez não consiga alcançar a qualidade deles nesse aspecto). 
No fim, Brinquedo Assassino pode ser uma viagem bem nostálgica para os fãs do filme original, que verão Chucky novamente com toda sua glória, mas em um cenário completamente novo e com circunstâncias totalmente renovadas. Para os novatos na franquia, as portas ficam completamente abertas: o filme é um ótimo recomeço e trabalha bem seus personagens. Desde que não esteja buscando uma obra profunda ou um filme idêntico ao clássico de 88, você provavelmente irá se divertir com Brinquedo Assassino
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