Análise do jogo Tom Clancy’s The Division

Em plena black friday de 2015, um vírus é propositalmente colocado em notas de dinheiro e rapidamente se espalha por toda a cidade de Nova York. O que a princípio parecia uma variante inédita da gripe, mais tarde se revelou ser um surto de varíola. Para tentar frear a contaminação, a metrópole foi isolada e o caos tomou conta das ruas e avenidas. Com a situação completamente fora de controle, um grupo de agentes de elite, identificados como Division, é chamado para tentar restabelecer a ordem no local. A Division é formada por pessoas que seguem suas vidas normalmente, mas quando são requisitados precisam largar tudo para atender ao chamado. No jogo, assumimos o controle de um dos agentes da segunda onda da Division.
Logo que a cena inicial é apresentada, temos a liberdade para customizar o visual do protagonista. Além de escolher o sexo e as características básicas (como o formato do rosto, a cor da pele e a cor da íris), também há opções para o cabelo, marcas/cicatrizes e acessórios. Não espere encontrar uma enorme variedade de opções, os formatos de rosto, por exemplo, são apenas oito. De qualquer forma, isso acaba sendo a parte menos relevante do jogo, já que independente do personagem que você escolher, o efeito prático será o mesmo.
Depois de executar algumas pequenas missões no Brooklyn e deixar a situação no local sob controle, o protagonista, junto com a agente Faye Lau e outros agentes, recebe orientação para se deslocar para Manhattan. No momento em que ia embarcar no helicóptero da Division, a aeronave foi atingida e uma explosão causou a morte de todos os que estavam no seu interior, deixando o personagem principal e Faye feridos. Apesar do imprevisto, o trabalho tem que continuar. Como Faye sofreu graves ferimentos, as atividades nas ruas deverão ser feitas pelo personagem controlado pelo jogador. Nosso principal aliado será a Joint Task Force (JTF), coalizão surgida após a epidemia, formada por policiais, bombeiros, voluntários civis, dentre outros.
O objetivo inicial consiste em reativar a base de operações e colocar as alas médica, de segurança e de tecnologia em funcionamento. Para isso, será necessário encontrar as pessoas certas para chefiar cada um desses setores, momento em que entramos em ação. As primeiras missões principais consistem em resgatar a médica virologista Jessica Kandell do Hospital de Campo do Madison; localizar o engenheiro desaparecido da JTF, Paul Rhodes, e ajudá-lo a restaurar a energia da área; e auxiliar o comandante da JTF, o capitão Roy Benitez, durante um ataque e trazê-lo de volta à base de operações. Enquanto jogamos as missões, recebemos informações de Faye e Isac. Faye constantemente nos passa orientações, via rádio, e estabelece conexões com outras pessoas importantes durante a execução das operações. Já Isac, a avançada inteligência artificial da Division, nos avisa sobre a presença de oponentes e também fornece outros tipos de alerta.
Durante a aventura, o jogador precisa lidar com quatro grupos de inimigos: os Rikers, ex-detentos do Complexo Prisional Rikers Island; os Rioters, formado por ladrões e assassinos que tentam sobreviver na cidade; os Cremadores, um grupo de ex-trabalhadores da área da limpeza que acredita que somente o fogo é capaz de matar o vírus que assolou a sociedade; e  o LMB, coalizão formada por ex-agentes das tropas governamentais que se uniram para tentar proteger os interesses dos grandes empresários no começo da disseminação do vírus. Os oponentes possuem uma boa inteligência artificial e, sempre que possível, vão tentar te cercar. Em locais mais abertos, é sempre bom dar uma olhada regular no ambiente para não ser surpreendido.
A jogabilidade de Tom Clancy’s The Division é muito boa. Como não há mira automática, percebemos facilmente, através dos recuos após os disparos, as diferenças existentes entre cada uma das várias armas disponíveis no arsenal. O protagonista é capaz de portar até três armas de fogo, sendo duas delas livremente escolhidas pelo jogador, enquanto a terceira precisa ser obrigatoriamente uma pistola. Durante os conflitos, também podemos fazer uso de até três habilidades, que são desbloqueadas melhorando as alas da base. As habilidades também se subdividem em médica, tecnologia e segurança, mas você não precisa necessariamente utilizar todas as classes. Eu, por exemplo, quase não defini habilidades de segurança durante as minhas jogatinas.
Como o título adota elementos de RPG, é preciso ficar atento aos equipamentos do personagem. Os itens podem ser comprados, fabricados, melhorados e coletados de inimigos mortos. Tudo o que você recolhe é guardado na mochila, que tem espaço para sessenta e quatro objetos. As armas e itens que não estão sendo usados podem ser vendidos ou desmontados. Outro detalhe importante é o nível do agente: o ideal é que o personagem esteja, ao menos, no level indicado em uma missão antes de iniciá-la. Como o nível do agente sobe com base na experiência ganha, o jogo basicamente te obriga a cumprir as missões secundárias para upar o personagem. Enquanto os objetivos principais são maiores e variados, os secundários são curtos e repetitivos.
Exigindo conexão constante com a internet, The Division foi pensado para ser jogado com outras pessoas. Até quatro jogadores podem se reunir para completar qualquer tipo de missão. Nada te impede de progredir sozinho, mas jogar com amigos torna a experiência muito mais divertida. Certifique-se apenas de conferir se os personagens estão em níveis próximos, caso contrário as partidas serão muito difíceis para alguém, já que o jogo define a dificuldade com base no agente com o level mais alto do grupo. Também é possível jogar com pessoas aleatórias, basta deixar o seu grupo aberto. Nesse caso, o próprio jogo seleciona players com níveis próximos ao nosso. Destaque para a ótima qualidade do servidor do jogo, todos os problemas de conexão que enfrentei foram ocasionados por oscilações na minha internet.
O game é inteiramente cooperativo, com exceção da zona cega, local onde não há regras, ou seja, agentes da sua equipe ou de outras equipes podem te matar e roubar os itens que você estiver carregando. Como a zona cega é uma área contaminada, tudo que é extraído de lá precisa passar por um processo de desinfecção. Por vez, até nove equipamentos podem ser carregados. Tudo o que coletamos na zona cega não se mistura imediatamente com o que pegamos na parte “normal” de Nova York. Antes, os objetos precisam ser extraídos em áreas específicas do mapa. Só depois de serem descontaminados é que esses equipamentos poderão ser utilizados.
Tom Clancy’s The Division me impressionou com seus belíssimos gráficos. A recriação de Nova York, a neve, os lixos espalhados pelas ruas, o vapor saindo dos bueiros… dá para perceber que a Ubisoft soube trabalhar muito bem o aspecto visual. Não é aquele gráfico absurdo que vimos nos trailers e demonstrações de gameplay exibidas na E3 e em outros eventos, mas ainda assim temos um visual muito bonito. A trilha sonora durante as missões é discreta e muito boa. Me chamou a atenção os efeitos sonoros, com destaque especial para o som delicioso quando você mata um inimigo com um tiro na cabeça.
Desenvolvido pela Massive Entertainment, Ubisoft Red Storm, Ubisoft Reflections e Ubisoft Annecy, Tom Clancy’s The Division foi lançado em 2016 e está disponível para PlayStation 4, Xbox One e Windows. Esta análise foi feita com base na versão do Xbox One.
Considerações finais
Tom Clancy’s The Division entrega uma experiência agradável, misturando elementos de RPG com combate tático. Como foi pensado para ser jogado em modo cooperativo, a diversão proporcionada pelo título da Ubisoft será muito maior se o jogador tiver companhia enquanto tenta retomar o controle de Nova York. O game apresenta um grau razoável de dificuldade, sendo que nas missões principais é bastante comum enfrentar inimigos muito mais resistentes (espécies de chefes). Nunca iniciei uma missão com o nível abaixo do recomendado e ainda assim eu e meu amigo nos deparamos com alguns momentos complicados. Depois de ter concluído a campanha, voltamos e refizemos todas as missões principais no modo difícil: agora, como nossos agentes já estavam no level máximo e possuíamos equipamentos muito melhores, foi relativamente fácil completá-las.
A narrativa é bem elaborada e repleta de mistérios. Detalhes sobre o que aconteceu em NY são revelados através dos coletáveis espalhados pela cidade. The Division tem apenas um problema crítico, as missões secundárias extremamente repetitivas. Como precisamos subir o nível do agente, jogar as secundárias acaba sendo algo obrigatório. Existem muitas missões desse gênero espalhadas pelo mapa, mas infelizmente os objetivos são sempre os mesmos, variando apenas o local em que as ações acontecem – a única vantagem é que elas podem ser rapidamente concluídas. Por outro lado, as missões da campanha apresentam boas variações e transmitem uma sensação positiva ao serem superadas.
Para finalizar, queria apenas deixar registrado que zerar um game, durante a pandemia do novo coronavírus (covid-19), que tem como pano de fundo a disseminação descontrolada de uma doença em humanos foi uma sensação estranha. Houve momentos em que a ficção era parecida demais com a nossa realidade.
Nota
★★★★☆ – 4 – Ótimo
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Criador e editor do Portal E7, Herbert é advogado, amante de games e séries. Gamertag/ID: "HerbertVFV".
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