Análise do filme Nomadland

Depois de ter ganhado prêmios importantes no Globo de Ouro e no Critics’ Choice Awards, eu rapidamente incluí Nomadland na minha lista de filmes para assistir. Dirigido, editado e roteirizado pela chinesa Chloé Zhao, a película é baseada no livro da jornalista Jessica Bruder, Nomadland: Surviving America in the Twenty-First Century, que retrata o estilo de vida adotado por alguns estadunidenses mais velhos após a Grande Recessão (crise financeira de 2007-2008). Enfrentando dificuldades para encontrar empregos, essas pessoas começam a viajar pelos EUA em busca de serviços sazonais para sobreviver.
Em Nomadland acompanhamos a história de Fern (Frances McDormand), uma mulher que trabalhou por anos, junto com o marido, em uma fábrica de gesso na cidade de Empire, no estado de Nevada. Com o agravamento da crise, em 31 de janeiro de 2011 o empreendimento foi obrigado a fechar, gerando grandes consequências para a região. Empire se tornou uma cidade fantasma e teve o seu CEP cancelado. Além de ficar sem emprego, Fern ainda precisou lidar com a morte de seu esposo.
Com a situação ficando cada vez mais difícil, a protagonista decide vender a maior parte de seus pertences e compra uma van para morar e viajar pelo país em busca de trabalho. É desta forma que ela consegue um emprego temporário em um centro de distribuição da Amazon. Nas instalações da gigante do e-commerce, Fern encontra Linda (Linda May), uma amiga que também estava trabalhando no local. Enquanto conversavam sobre as dificuldades recentes, Linda convida Fern para conhecer um local de treinamento para nômades iniciantes, organizado por Bob Wells, no deserto do Arizona. Apesar de inicialmente negar o convite, Fern muda de ideia quando o clima esfria e ela não consegue encontrar um novo emprego.
A partir do momento em que a personagem chega ao EDR (encontro de desabrigados sobre rodas) é que o filme começa a ter um desenvolvimento mais interessante, ocasião em que Fern tem contato com outras pessoas que se encontram na mesma situação. É bonito ver que, mesmo com tão pouco, os nômades ainda são solidários entre si e, sempre que podem, estão dispostos a ajudar o próximo. Uma forma de fazer isso é se desfazer daquilo que não tem mais utilidade: como em um veículo não há espaço para guardar muita coisa, objetos que não estão sendo utilizados podem ser doados ou trocados com outras pessoas.
Como cada um tem planos para tentar seguir adiante, os encontros entre os personagens acontecem de formas ocasionais. Dentro desse lapso temporal, diversas coisas podem acontecer, já que ninguém sabe qual será o seu destino. Durante a sua primeira passagem pelo acampamento, Fern estabeleceu um contato mais próximo com Swankie (Charlene Swankie) e David (David Strathairn), com quem ela acaba compartilhando detalhes da sua vida. A personagem também se abre com Bob Wells, que sempre está disposto a escutar e ajudar as pessoas.
Embora conte com Frances McDormand no papel principal, parte do elenco de Nomadland é formado por atores não profissionais. Mais do que isso, Charlene Swankie e Linda May são pessoas nômades na vida real e interpretam a si mesmas no filme. Zhao fez pouquíssimas alterações na história dessas pessoas, talvez a mais profunda seja o fato de Swankie não ter nem nunca ter tido câncer. De resto, os relatos são feitos por pessoas que têm propriedade para falar sobre esse tipo de vida. Além das duas, Bob Wells realmente realiza encontros anuais para reunir pessoas que vivem em vans ou trailers. Isso explica o fato do filme ter uma abordagem tão intimista.
Considerações finais
Nomadland apresenta para o público um lado pouco conhecido dos Estados Unidos, o das pessoas que precisam percorrer o país em busca de empregos temporários para conseguirem sobreviver. Mais do que isso, o filme busca transmitir uma experiência sensorial, em que muitas das vezes uma imagem diz mais do que as cenas de diálogo. O longa incorpora um ar melancólico, expressado pelo sofrimento estampado no semblante de cada personagem e pela fotografia que explora os ambientes inóspitos ao longo das estradas e o local onde o acampamento de Bob Wells é instalado.
Frances McDormand desempenha uma atuação excepcional ao dar vida à protagonista Fern. O mesmo se pode dizer dos relatos honestos de suas duas companheiras de acampamento, que embora não sejam atrizes profissionais, são profundas conhecedoras daquilo que o longa almeja transmitir. Nomadland não apresenta uma história muito elaborada, o seu foco maior está em retratar um estilo de vida decadente e solitário. A direção é um espetáculo à parte, assim como a excelente trilha sonora. Se não fosse pelas premiações, talvez teria sido um filme que eu nunca fosse assistir. Valeu a pena a experiência!
Nota
★★★★☆ – 4 – Ótimo
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Criador e editor do Portal E7, Herbert é advogado, amante de games e séries. Gamertag/ID: "HerbertVFV".
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