Análise da série Elite (4ª temporada)
Atenção! O texto a seguir contém spoilers da terceira temporada de Elite.
Antes do lançamento da quarta temporada de Elite, a Netflix disponibilizou alguns conteúdos extras, chamados pela plataforma de histórias breves. O objetivo era criar uma maior conexão entre o terceiro e o quarto ano da série espanhola. Como parcela da turma concluiu o ensino médio, era esperado que uma mudança maior fosse acontecer na narrativa, já que os personagens que permaneceram em Las Encinas teriam que conviver com novos colegas de classe. Mas nem todos que regressaram estavam lá para estudar: após ter se formado, Cayetana (Georgina Amorós) conseguiu um emprego como auxiliar de limpeza na escola.
A trama tem início com uma alteração nos quadros estruturais do colégio: sob o argumento de que a instituição de ensino não estava sendo bem conduzida, a mãe de Ander (Arón Piper) é demitida e quem assume a direção é Benjamín (Diego Martín), um importante empresário europeu, que endurece as regras da escola. Viúvo, Benjamín possui três filhos: Ari (Carla Díaz), Patrick (Manu Ríos) e Mencía (Martina Cariddi). Como Mencía é muito inteligente, ela pôde ser adiantada na escola, o que justifica o fato dela estar estudando no mesmo ano que seus irmãos gêmeos. Originários da Inglaterra, o trio passa a fazer parte da mesma sala em que estão os personagens que já conhecemos.
Cada um dos filhos de Benjamín se envolve em relacionamentos com mais de uma pessoa. Logo no começo da temporada, Ari demonstra gostar de Guzmán (Miguel Bernardeau) e, mais adiante, também se aproxima de Samuel (Itzan Escamilla). Esse fato dá origem a uma disputa extremamente boba entre os dois rapazes, representando uma clara regressão no desenvolvimento de Guzmán, que por sinal precisa lidar com problemas do seu relacionamento com Nadia (Mina El Hammani). Patrick passa a participar dos encontros do casal Ander e Omar (Omar Ayuso) e também se envolve com cada um deles de forma separada; a sua presença basicamente funciona como uma espécie de teste de resistência para o namoro dos dois estudantes. Por fim, Mencía rapidamente se identifica com Rebeka (Claudia Salas), mas também realiza encontros com Armando (Andrés Velencoso) em troca de dinheiro. Dentre os irmãos, Ari é a que possui o melhor relacionamento com o pai, enquanto Mencía, tida como a filha rebelde, é a mais deslocada de todos. A prova disso é que a caçula tenta, desde o início, se entrosar com a turma, enquanto os gêmeos demonstram uma resistência inicial.
Outro personagem novato é Phillipe (Pol Granch), um descendente da realeza franco-espanhola e o segundo herdeiro mais jovem da Europa. A chegada do príncipe em Las Encinas muda completamente o ambiente no colégio: câmeras são instaladas nos corredores e o protocolo de segurança do local é reforçado, desagradando a grande maioria dos alunos. Phillipe não estava ali por acaso, ele foi mandado para a Espanha para abafar os boatos em que ele estava envolvido no seu país natal. A única pessoa que parece estar realmente feliz com a sua presença é Cayetana, que assim como Phillipe também tem interesse por moda. Não demora muito para os dois começarem a sair juntos, mas Cayetana parece não saber no que ela está se metendo. Eu imaginei que a polêmica envolvendo Phillipe seria mais explorada, mas ela acabou ficando em segundo plano.
O grande mistério da temporada envolve Ari, que é encontrada desacordada boiando em um lago durante a festa da virada do ano. Transferida para um hospital, Ari sofre uma parada cardíaca, mas os primeiros flashforwards parecem indicar que ela irá sobreviver. Como já fez em temporadas anteriores, a atração da Netflix tenta criar no público um ar de mistério antes de revelar, no último episódio, o que realmente aconteceu com a filha de Benjamín. Mais uma vez tivemos o envolvimento da polícia, mas ao contrário dos outros anos, o trabalho dos investigadores foi completamente ignorado na conclusão desse arco. Assistimos a alguns breves interrogatórios e… fica por isso mesmo. O fato motivador para o que aconteceu com a jovem se encaixa muito bem com a trama, apesar de ser algo previsível.
Desde a primeira temporada eu tenho criticado a superficialidade do enredo de Elite. Infelizmente, nesta quarta temporada a parte narrativa é ainda mais fraca. Ao invés de trabalhar melhor o desenvolvimento dos personagens, a série gasta muito tempo com cenas sensuais e de sexo. Nesse ponto, podemos ver Ander entrando em contradição com aquilo que ele próprio defendeu para Omar. Enquanto isso, alguns temas interessantes são introduzidos e abandonados no meio da narrativa, como é o caso da ajuda que Benjamín vinha dando para Samuel, o campeonato de argumentação, como Rebeka encara o fato de a mãe ainda estar traficando drogas, os primeiros trabalhos de Cayetana no mundo da moda, o relacionamento de Mencía com o pai e o mistério em torno de Phillipe (mencionado anteriormente).
Considerações finais
Com a adição de novos personagens, parecia que o ar da série ia ser renovado, mas no fim das contas o que temos é mais do mesmo, nada muito diferente do que foi retratado pela própria atração em temporadas passadas. Se Elite já tinha problemas relacionados com a profundidade da sua narrativa, a situação aqui é ainda pior. Até vemos algumas situações interessantes surgirem, mas elas são mal aproveitadas ou não ganham sequência, fazendo a série parecer uma grande colcha de retalhos.
Outra coisa que me incomodou foram algumas cenas muito manjadas: assim que certos fatos eram retratados, eu tinha certeza que personagens específicos estariam em algum lugar presenciando tudo. A série continua com uma boa trilha sonora, fotografia bonita e um ótimo trabalho por parte dos atores. Por outro lado, a trama deixa muito a desejar, o que faz dessa a pior temporada do seriado. No fim, as histórias breves se mostraram mais interessantes do que o próprio enredo do quarto ano.
Nota
★★☆☆☆ – 2 – Regular
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