Análise da série Lovecraft Country (1ª temporada)

Depois de assistir Lost, sempre que vejo J. J. Abrams envolvido em algum projeto, isso por si só já me chama a atenção. Para a minha surpresa, além de Abrams, Lovecraft Country também tem Jordan Peele, roteirista e diretor do ótimo filme Corra!, como produtor executivo. Não há como negar que as referências são boas, mas será que a série da HBO faz jus a elas? Criada por Misha Green e baseada no livro homônimo de Matt Ruff, a atração é ambientada na década de 1950, nos Estados Unidos, e explora a segregação racial que existia na época.

Na história, ao retornar para sua cidade natal, Atticus (Jonathan Majors), um veterano da Guerra da Coreia, descobre que o pai, Montrose (Michael K. Williams), está desaparecido. Andando por Chicago e conversando com familiares e conhecidos, todos relatam não ter visto Montrose nas últimas semanas. Apesar de nunca ter tido uma boa relação com seu genitor, Tic quer descobrir qual é o seu paradeiro. Sua única pista é uma carta em que o pai menciona ter descoberto a origem da família de sua esposa e pedia o retorno do filho para que os dois fossem juntos até um determinado lugar. Na correspondência, também estava escrito que Atticus supostamente tinha um legado secreto, um direito de nascença que lhe foi retirado.

A localidade citada por Montrose está no “Território Lovecraft”, um conjunto de áreas no estado de Massachusetts em que H. P. Lovecraft se baseou para criar suas histórias. Para tentar desvendar a carta, Tic procura o tio George (Courtney B. Vance), que está acostumado a percorrer os Estados Unidos e escreve, junto com sua esposa, um guia de viagens seguras para negros. Realizando algumas pesquisas, George encontra a provável localização do lugar mencionado pelo irmão e decide ir junto com o sobrinho até lá. Quem também participa da viagem é Letitia (Jurnee Smollett), uma antiga amiga de infância de Tic. A princípio, Leti não estava muito envolvida com a investigação, mas depois de tudo o que eles passam juntos, ela começa a desempenhar um papel fundamental na trama.

No caminho até a cidade de Ardham, os três encaram situações discriminatórias e presenciam uma série de fatos estranhos, como um acidente misterioso na estrada e monstros que atacam humanos e possuem vulnerabilidade à luz. Essa sequência de eventos é inteiramente retratada no excelente episódio de estreia, que já nos dá uma bela amostra do que presenciaremos nos nove capítulos restantes. O destino final do grupo é uma bela mansão, onde são bem recepcionados por um homem loiro de olhos azuis, que estava esperando por Tic. Na casa, aos poucos o trio descobre detalhes envolvendo uma sociedade secreta conhecida como Filhos de Adão e qual é a ligação de Atticus com a organização. Eles também são apresentados a Samuel Braithwhite (Tony Goldwyn), atual líder da ordem, e sua enigmática filha Christina (Abbey Lee). O tom de mistério é um elemento presente em toda a série, fazendo com que nunca saibamos quais são as reais intenções de Christina, que exerce o papel de antagonista.

Além dos nomes mencionados anteriormente, outros personagens de destaque são Ruby (Wunmi Mosaku) e Hippolyta (Aunjanue Ellis). Ruby é meia-irmã de Leti e tenta ganhar a vida como cantora. No decorrer da história, ao fazer uso de magia, ela sente na pele todos os privilégios que uma mulher tinha simplesmente por ter nascido branca. Já Hippolyta é casada com George e gosta muito de astronomia, mas sempre foi impedida de fazer aquilo que realmente queria. Realizando sozinha alguns atos, Hippolyta encara uma surpreendente jornada multidimensional no sétimo episódio. Após alguns desdobramentos, ambas se envolvem com o arco dos antepassados de Tic e a busca de Christina pela imortalidade.

Um fato interessante a ser observado é a forma com que Lovecraft Country constrói e desenvolve sua narrativa. Cada episódio tem suas próprias características, o que inclui o foco em determinados personagens e a forma singular com que o enredo é trabalhado. Mais do que proporcionar diferentes tipos de abordagem, essa escolha faz com que a série seja dinâmica e constantemente nos surpreenda. Como resultado, a atração da HBO transita por diversos gêneros, como aventura, terror, fantasia e ficção científica, contando também com um capítulo inteiramente ambientado na Coreia, oportunidade em que explora a mitologia local.

Considerações finais
Acredito que o maior mérito de Lovecraft Country seja a forma com que a série lida com várias questões em apenas dez episódios. Tocando em temas que infelizmente são atuais até hoje, como preconceito, violência policial e racismo estrutural, a produção faz uso de uma excelente ambientação de época para explorar como era a vida das pessoas negras na metade do século passado nos Estados Unidos. Junto com a ficção, também há espaço para que eventos reais sejam retratados, como é o caso do Massacre de Tulsa e a Guerra da Coreia.

O excelente trabalho dos atores é complementado pela parte técnica impecável, o que inclui a fotografia, direção, efeitos especiais e maquiagem. Mesmo navegando por diferentes estilos, a atração tem um bom ritmo narrativo, mas pode deixar os espectadores confusos em alguns momentos por não se aprofundar tanto em certos pontos da história. Embora tenha sido cancelada pela HBO, a trama principal foi encerrada no décimo episódio, o que significa que a série não possui um final aberto. Havia sim uma margem para continuação, mas o desfecho apresentado é bem satisfatório.

Nota
★★★★☆ – 4 – Ótimo

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Criador e editor do Portal E7, Herbert é advogado, amante de games e séries. Gamertag/ID: "HerbertVFV".
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