Análise da série Noite Adentro (2ª temporada)
Atenção! O texto a seguir contém spoilers da primeira temporada de Noite Adentro.
Ao descobrir que a luz do sol estava matando as pessoas, um pequeno grupo de sobreviventes inicia uma arriscada jornada de voos noturnos rumo a oeste. A cada aterrissagem, era preciso agir rapidamente para executar reparos na aeronave e encontrar combustível e comida. Essa rotina desgastante parecia estar com os dias contados, já que no final da temporada de estreia, o grupo conseguiu localizar um bunker subterrâneo da OTAN, na Bulgária, local em que aparentemente poderiam ter uma vida um pouco mais tranquila. Isso, no entanto, não significa que eles estarão livres de problemas, uma vez que precisarão lidar com novas questões e receberão ordens de outras pessoas.
O início do segundo ano de Noite Adentro (Into the Night, no original) aborda o processo de adaptação das pessoas às suas novas vidas, como é a rotina no bunker e o que está sendo feito para tentar solucionar o problema dos raios solares. Os militares e os dois embaixadores que vivem no local mantêm contato com outras pessoas ao redor do mundo, ao passo que Horst (Vincent Londez) trabalha em uma pesquisa cujo objetivo é fazer com que os ratos consigam sobreviver ao sol. Caso obtenha êxito com o experimento, a humanidade poderia ter uma pequena esperança de que dias melhores virão.
Apesar das regras rígidas existentes em qualquer instalação militar, o convívio inicial entre os grupos parece ser amistoso. Tudo muda quando Ines (Alba Gaïa Bellugi) e o soldado Heremans (Coen Bril) se envolvem em uma confusão e provocam um pequeno incêndio que destrói parte considerável dos suprimentos que estavam armazenados. Com mais bocas para serem alimentadas e sem poder consumir nada que cresce na superfície, a única opção que eles tinham era ir até um cofre subterrâneo de sementes na Noruega. Se tudo desse certo, o grupo poderia tentar cultivar plantas no interior do bunker, aliviando a questão da alimentação.
Antes de viajarem para o país nórdico, os sobreviventes enfrentam uma situação dramática na instalação. Ao tentar capturar um rato para a pesquisa de Horst, Dominik (Nicolas Alechine) discute com sua mãe e ambos ficam presos na sala dos geradores quando Zara (Regina Bikkinina), ao tentar segurar seu filho, sem querer fecha a porta. Mesmo com a reviravolta revelada no episódio final, achei a construção dessa cena bem ruim. Para não morrerem com o calor existente no local, Zara teve que desligar os geradores, que não poderão ficar sem funcionar por um longo período de tempo, já que eles são essenciais para a sobrevivência de todos no bunker. Como ninguém encontra a chave da porta, começa uma corrida contra o tempo para tentar salvar a vida dos dois. Esse evento, que se estende por dois episódios, é um indicativo de que a segunda temporada é mais centrada nos personagens do que na sobrevivência no apocalipse.
O tom de mistério volta a ganhar espaço quando Sylvie (Pauline Etienne) e Jakub (Ksawery Szlenkier) encontram o avião que eles haviam utilizado completamente destruído. Pelo tamanho do estrago na área e o tremor de terra que foi sentido por todos, a base aérea provavelmente havia sido atingida por algum míssil ou bomba. Diante do ocorrido, o coronel Łom (Borys Szyc) começa a desconfiar que aquilo poderia ser resultado de um ataque efetuado pelos russos. Enquanto parcela do grupo encontra novos meios para ir atrás das sementes, alguns militares estão mais preocupados em realizar um julgamento quando descobrem os fatos que antecederam a morte do oficial Terenzio (Stefano Cassetti). Com tantas coisas acontecendo ao mesmo tempo, chega a ser irônico pensar que a promoção de uma espécie de vingança pessoal seja o principal foco dos soldados.
A segunda temporada de Noite Adentro apresenta um enredo com menos foco na ficção científica e um maior destaque para questões que poderiam ter ganhado uma ênfase menor. Em muitos momentos, nem parece que estamos assistindo uma série apocalíptica. Além disso, a forma com que a atração lida com o desfecho não me agradou muito. É bastante comum fazer uso de elementos narrativos para criar ganchos para a próxima temporada, despertando no espectador a curiosidade em saber o que acontecerá na sequência. Noite Adentro soube fazer isso bem no seu primeiro ano, mas desta vez parece que a história acabou antes da hora. A sensação que eu tive é que faltou algo para amarrar tudo o que foi retratado, talvez mais alguns minutos seriam o suficiente para deixar as coisas mais harmônicas.
Considerações finais
Em seu segundo ano, Noite Adentro caminha por novos campos, deixando um pouco de lado os fatos relacionados com os raios solares. Com a nova abordagem, não há mais aquela tensão em saber se o grupo conseguirá ou não alcançar o próximo objetivo. O foco maior nos personagens até parecia interessante, mas as situações em que eles estão inseridos não me agradaram muito. Os roteiristas poderiam ter apostado em fatos que valorizassem a ficção científica e o universo da série, principalmente agora que sabemos que existem outras pessoas vivas ao redor do mundo, mas preferiram focar em intrigas que acrescentam muito pouco para a trama. No início de cada capítulo, seguimos acompanhando detalhes de como era a vida de algumas pessoas antes de grande parte da população mundial ser dizimada, possibilitando que conheçamos mais as histórias de cada um.
Nem tudo é ruim, existem eventos que conseguem despertar a nossa curiosidade, como o ataque à base aérea, a questão envolvendo os soldados russos e a presença de um misterioso submarino no episódio final. É uma pena que a conclusão da temporada não tenha aproveitado todos esses elementos para alimentar nossas expectativas para uma eventual continuação. Com todas as mudanças feitas, o segundo ano de Noite Adentro não é ruim, mas poderia ser muito melhor.
Nota
★★★☆☆ – 3 – Bom
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