Análise da série The Witcher (2ª temporada)

Atenção! O texto a seguir contém spoilers da primeira temporada de The Witcher.
Quando Nilfgaard invadiu Cintra, Ciri (Freya Allan) foi obrigada a fugir sozinha de sua terra natal. Sendo perseguida por Cahir (Eamon Farren), a jovem princesa recebeu ajuda de outros povos até finalmente se encontrar com Geralt de Rívia (Henry Cavill). O laço existente entre os dois começou anos atrás, quando, em tom de brincadeira, o bruxo fez uso da Lei da Surpresa após ter salvado a vida do pai de Ciri. Como “pagamento” ele recebeu a princesa, que já havia sido concebida, embora sua existência ainda fosse desconhecida por todos. Geralt nunca quis ter a responsabilidade de tomar conta de Ciri, mas após a batalha de Sodden ele assume o compromisso de guiar a sua criança surpresa.
Os interesses sobre a descendente do trono de Cintra são variados, indo desde o controle territorial até mesmo às suas habilidades especiais. Sendo ainda incapaz de controlar os seus poderes, caso caia em mãos erradas Ciri pode se transformar em uma grande arma de destruição. Como praticamente todo o Continente acredita que a princesa está morta, em um primeiro momento as maiores preocupações do bruxo são os estranhos monstros que aparecem no seu caminho. O que ele não sabe é que isso tem relação direta com Ciri, conforme descobrimos no decorrer dos oito episódios. À medida que informações sobre a jovem começam a circular, a tarefa do Lobo Branco se torna mais complicada e perigosa. 
A primeira ação de Geralt é levar Ciri para Kaer Morhen, uma fortaleza que serve de abrigo para os bruxos, local em que ela ficaria segura. Lá, a jovem começa a receber treinamentos para aprender a se defender, mas ela quer mais do que simplesmente saber fazer uso de uma espada. Recrutada para tentar ajudar a princesa com seus poderes, Triss (Anna Shaffer) consegue fazer pouco progresso. Por outro lado, junto com Vesemir (Kim Bodnia), a maga descobre que Ciri tem o sangue antigo, um dos ingredientes utilizados na criação dos bruxos e que já havia sido extinto há gerações. Conforme a narrativa progride, tomamos conhecimento sobre outros detalhes importantes relacionados ao passado de Ciri.
Após ter feito uso do fogo para conter o conflito em Sodden, Yennefer (Anya Chalotra) ficou sem os seus poderes e começa a traçar a sua própria jornada enquanto não se reencontra com Geralt e Ciri. Isso faz com que a feiticeira tenha uma presença mais tímida na produção, parecendo até uma personagem secundária. Capturada por Fringilla (Mimî M. Khayisa) e posteriormente se tornando uma refém dos elfos, o seu desaparecimento repentino causa estranheza em Aretuza e sua lealdade à irmandade das feiticeiras começa a ser questionada. Além disso, Yen precisa lidar com a Voleth Meir, também conhecida como Mãe Imortal, um demônio que se alimenta da dor dos outros e pode provocar grandes estragos agindo de forma discreta.
Logo no primeiro episódio percebemos que a série deixou de lado as múltiplas linhas temporais para focar a narrativa apenas no presente. Geralt tem mais cenas de diálogos, algo que foi sugerido pelo próprio Henry Cavill, e isso contribui para o aprofundamento da relação do bruxo com Ciri. Por outro lado, as tramas secundárias são superficiais e às vezes até um pouco confusas. A ideia de explorar as questões políticas envolvendo os reinos e os povos do Continente é válida, mas faltou contextualização para muitas coisas. Essas cenas podem até ter importância para aquilo que será explorado na terceira temporada, mas aqui muitas delas parecem que foram simplesmente jogadas no meio dos episódios. De qualquer forma, as revelações feitas no final do oitavo capítulo foram surpreendentes.
Outro detalhe que fica evidente desde o princípio é que a Netflix disponibilizou um maior orçamento para o segundo ano de The Witcher. As cenas envolvendo magia são mais bonitas, da mesma forma que os monstros e as criaturas estão mais detalhadas e passam um ar mais realista quando comparado com o que vimos anteriormente. Também merecem destaque os belos cenários, os figurinos e a ambientação de época. Mesmo em menor número, as cenas de ação permanecem bem executadas, sendo novamente um dos pontos de destaque.
Assim como os jogos, a série decidiu apostar em uma maior liberdade criativa, modificando alguns acontecimentos e criando outros. A questão é até que ponto essas inovações são realmente positivas, já que os roteiristas possuem em suas mãos um material riquíssimo, composto de oito livros, podendo ainda recorrer aos três jogos lançados pela CD Projekt Red. Logo no segundo capítulo, temos a morte de um personagem de quem Geralt era próximo, resultando em uma sensação de potencial desperdiçado. O pior foi a desculpa fornecida por Lauren Hissrich, showrunner da atração: era preciso matar alguém naquele episódio, então eles decidiram escolher uma pessoa que causaria grande impacto no protagonista. Acontece que a série em momento algum explorou a proximidade entre os dois personagens, o que por si só já contradiz a escolha dos roteiristas. Isso, logicamente, não fará a mínima diferença para os novatos na franquia, é apenas um exemplo de que muitas das vezes não é preciso fazer mudanças profundas em algo que já está pronto: esse geralmente é o maior erro quando produções de outras mídias são adaptadas para o cinema e a TV.
Considerações finais
Afetada pela pandemia de covid-19, a segunda temporada chega dois anos depois da estreia de Geralt na Netflix. Depois dessa longa espera, temos uma sequência de bons episódios, que desta vez seguem uma linha temporal simples e muito mais fácil de ser acompanhada. É legal observar o surgimento de um laço familiar entre Geralt e Ciri, da mesma forma que Vesemir exerce uma figura paterna para o Lobo Branco, mostrando que o afeto também é um sentimento existente entre os bruxos. Falando em Ciri, a princesa rouba a cena nessa temporada e mostra que é muito mais do que uma garota indefesa e frágil; apesar da juventude, a atriz Freya Allan desempenhou um belo trabalho de atuação.
O grande problema do segundo ano de The Witcher é a falta de profundidade das tramas secundárias, que basicamente retratam a iminência de conflitos políticos entre os povos que habitam a região. A adição de Dijkstra (Graham McTavish) e os interesses da Redania, por exemplo, poderiam ter sido trabalhados de uma maneira muito melhor, assim como os eventos retratados em Aretuza, que acrescentam pouco para o enredo. Nesse campo, o saldo positivo fica apenas com Nilfgaard, que até teve um bom desenvolvimento. A atração conseguiu evoluir em alguns aspectos, mas sinto que a narrativa segue pecando na forma com que explora esse magnífico universo.
Nota
★★★★☆ – 4 – Ótimo
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Reviews da série:
└ Análise da série The Witcher (1ª temporada)

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Criador e editor do Portal E7, Herbert é advogado, amante de games e séries. Gamertag/ID: "HerbertVFV".
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