Análise da série The Sinner (4ª temporada)
O detetive Harry Ambrose (Bill Pullman) sempre se envolveu muito com os casos em que trabalhava, mas o de Jamie (Matt Bomer), em especial, causou um grande desgaste no protagonista, levando-o a tomar algumas atitudes questionáveis e arriscadas. Estando ainda com o psicológico abalado, no começo da quarta temporada descobrimos que o detetive se aposentou, está fazendo uso de antidepressivos e atualmente vem enfrentando problemas de insônia. Percebendo que Harry precisava de novos ares, Sonya (Jessica Hecht) organiza uma breve viagem e os dois decidem passar alguns dias em Hanover Island, uma pequena ilha localizada no norte do Maine.
Ao chegarem no local, não demora muito para Ambrose encontrar uma deixa para começar a explorar a ilha. Perto de um píer, ele conhece Percy Muldoon (Alice Kremelberg), cuja família se instalou na ilha há gerações e é proprietária de um negócio de pesca. Na curta conversa que tiveram, Percy fala sobre a natureza e diz que em breve o oceano falará com Harry. À noite, depois de mais uma vez não conseguir dormir, o agora ex-detetive sai para dar uma volta pelas ruas vazias da cidade e avista Percy aparentemente fugindo de alguém. Sem entender nada do que estava acontecendo, ele resolve seguir os passos da jovem.
Logo após adentrar em uma floresta, Harry escuta alguns gritos e, na sequência, vê Percy correndo pela área; ela vai até a beirada de um penhasco e se joga em direção ao oceano. Presenciando tal fato a uma certa distância, o protagonista imediatamente vai verificar de perto o que havia ocorrido, mas não encontra nenhum vestígio do corpo de Percy. Teria ela praticado essa ação sozinha ou o seu ato foi influenciado por outras pessoas? Como havia recentemente parado de tomar a sua medicação, tudo aquilo também poderia ser fruto da sua imaginação, mas mesmo assim Harry aciona a autoridade policial local. Quando a avó e o tio da jovem são informados sobre a situação, ambos demonstram não confiar muito no que foi relatado, embora não saibam onde Percy está.
Apesar de não estar mais trabalhando, já era esperado que Ambrose não iria descansar até tirar a limpo essa história. No dia seguinte, ao retornar à floresta, ele se depara com alguns objetos próximos ao lugar em que Percy foi vista pela última vez. Sem fazer a mínima ideia do que eles poderiam significar, Harry começa a investigar como era a vida da jovem e com quem ela costumava ter contato. Visitando a empresa de pesca de sua família, o detetive descobre que os Muldoon não se dão muito bem com os Lam, uma família asiática que se instalou na ilha há alguns anos e vem prosperando com um restaurante. Como os habitantes locais não costumam fazer comentários sobre o que acontece em Hanover Island, são necessários alguns capítulos para entendermos a origem desse conflito.
Quando o corpo de Percy é encontrado, sua avó, Meg (Frances Fisher), passa a ter uma maior disposição para colaborar com as investigações e manifesta o seu desejo em saber o que havia acontecido. A grande questão é saber até que ponto Meg está sendo sincera com Harry, já que bem no começo da temporada, ela faz um relato contraditório sobre a última vez que havia visto a sua neta. Com o avançar dos episódios, novas questões familiares vêm à tona e descobrimos que Percy passou um tempo morando no continente, aparentemente fugindo de Meg. A relação de proximidade que Colin (Michael Mosley) tinha com sua sobrinha também ganha destaque em certo ponto da narrativa, enquanto o pai de Percy dá indícios de que não tinha uma relação muito próxima com ela.
Antes de descobrirmos de fato o que aconteceu, The Sinner nos apresenta diversos fatos que podem ter ligação com a morte da personagem, apostando inclusive em questões místicas, o que me fez lembrar da excelente primeira temporada de True Detective. O desfecho da história só fica claro no capítulo final, quando é revelado o que realmente aconteceu com Percy. É muito bom quando as séries conseguem manter o tom de mistério, desde que previamente nos forneça elementos para apoiar a escolha que foi feita. A temporada final consegue fazer isso em parte, já que o ponto chave está relacionado com uma temática abordada no decorrer dos episódios, mas não permite que o espectador faça previamente uma dedução certeira. Particularmente eu não gosto desse tipo de estratégia pelo simples fato que, na maioria das vezes, a conclusão não condiz com toda a complexidade que foi criada, e aqui não é diferente.
Considerações finais
Harry Ambrose não consegue ter sossego nem mesmo após a sua aposentadoria. Ainda tentando conviver com questões decorrentes do seu último trabalho, o detetive mais uma vez se vê no meio de uma história esquisita, o diferencial é que dessa vez foi ele quem presenciou o fato. Enquanto tenta encontrar possíveis pistas, o ex-detetive passa a ter a companhia da vítima na sua mente: Percy conversa com Harry diversas vezes e faz comentários que podem ajudá-lo a desvendar o mistério. Seria esse um indicativo de que Ambrose realmente precisava se desligar completamente do meio policial?
Tal como nas temporadas passadas, The Sinner constrói uma boa base para o desenvolvimento do enredo, mas a conclusão deixou um pouco a desejar. O desfecho em si não chega a ser ruim, o problema é que ele está relacionado com uma questão que é explorada a fundo apenas no último episódio, o que tira um pouco do brilho da série. Em outras palavras, vários fatos são abordados ao longo da temporada e, no fim, quase nenhum possui algum tipo de relevância. O ritmo lento dos primeiros capítulos também é outro ponto a ser destacado. Como havia uma indefinição se este seria ou não o último ano da atração, teria sido legal dar um maior destaque para a vida pessoal de Harry no encerramento da trama.
Nota
★★★☆☆ – 3 – Bom
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