Análise do filme Dragon Ball Super: Super Hero
Décadas após Son Goku destruir a Força Red Ribbon, Magenta, filho do falecido Comandante Red, busca restaurar o império de seu pai. Para ajudá-lo nessa missão, o vilão recruta o Dr. Hedo, neto do genial Dr. Gero – que no passado criou diversos androides hiper poderosos, como o N°17, a N°18 e o maligno Cell. A missão de impedir o retorno da organização recai sobre Piccolo, que após ser quase eliminado por uma das criações de Hedo, se infiltra na nova Red Ribbon e descobre mais sobre as perigosas ambições de Magenta.
Dr. Hedo é, no fundo, um rapaz de bom coração, obcecado por super heróis e biscoitos Oreo. Já Magenta é um humano perigoso e manipulador, que pretende dominar o mundo e não se incomoda em usar Hedo como escada para isso, o fazendo acreditar que os guerreiros ligados a Corporação Cápsula são aliens malignos que entregarão o planeta Terra a extraterrestres perigosos. Essa mentira, inventada para que o jovem doutor ajude Magenta a acabar com todos que possam ameaçar o ressurgimento da Red Ribbon, leva ao desenvolvimento de dois novos androides: Gamma 1 e Gamma 2, antagonistas carismáticos que se consideram super-heróis e farão de tudo para eliminar aqueles que eles acreditam serem os vilões.
Super Hero é, provavelmente, a empreitada mais arriscada de toda franquia Dragon Ball. No filme, Gohan e Piccolo substituem Goku e Vegeta como os protagonistas. A animação descarta o tradicional 2D, usado em produções da série desde 1986, e abraça um belo estilo CGI. O excelente tom cômico de Dragon Ball clássico volta com força, e os novos inimigos não seguem aquele estilo de ameaça universal que se tornou padrão na saga a partir da série Z. Para a felicidade dos fãs, essas mudanças funcionam muito bem, trazendo um ar de renovação extremamente funcional. Nada parece forçado e a todo momento você sente que está assistindo Dragon Ball, mesmo que de uma forma diferente, bem mais próxima do começo do mangá original.
Toda trama do filme é centrada nessa temática de super-heróis e completamente voltada para o planeta Terra. Só temos um vislumbre de outros mundos quando o longa parte para mostrar um pouco da situação de Goku e Vegeta, que estão do outro lado do universo treinando no planeta do Deus da Destruição. Esse núcleo, apesar de dar uma certa continuidade aos eventos de Dragon Ball Super: Broly, soa completamente inútil, pois não agrega nada à trama e temática de Super Hero. Parece uma sessão filler inserida apenas para fazer fanservice e não deixar os personagens mais conhecidos da franquia totalmente abandonados.
A ideia de manter Goku e Vegeta mais afastados do enredo principal beneficia a história, já que a gigantesca força de ambos dificulta o desenvolvimento de tramas menos megalomaníacas. Por outro lado, os androides Gamma não convencem muito; a dupla robótica é, de fato, divertida e engraçada, esbanjando personalidade e fortes ideais, mas não demonstram ser uma grande ameaça. Durante todo filme fica a sensação de que Piccolo e Gohan conseguiriam derrotá-los se criassem uma boa estratégia.
O real inimigo de Dragon Ball Super: Super Hero só aparece no ato final: Cell Max é a figura que o longa tanto precisava, um vilão gigantesco, extremamente poderoso e ameaçador. Diferente de seus “irmãos” Gamma, Cell Max não tem qualquer fagulha de carisma, é um androide que apenas ataca e grita, como o monstro descontrolado que ele é – o que funciona bem dentro do contexto da batalha final. A parte decepcionante deste ponto é a força do antagonista, que assim como a dos Gamma, não tem nenhuma explicação razoável. Esse tipo de problema não é novo em Dragon Ball, mas o fato dele afetar uma nova versão do vilão Cell, que tinha seu poder muito bem explicado na obra original, é simplesmente lamentável.
Como já é padrão em Dragon Ball, também temos novas transformações que, tal como o nível de força dos antagonistas, simplesmente não são explicadas. De maneira geral, elas são bonitas e rendem algumas cenas de ação excelentes, no entanto é quase impossível encontrar o conceito e a origem dessas formas, que soam simplesmente como um artifício para aproximar os protagonistas do nível de Goku e Vegeta. É claro que, acompanhadas da bela animação 3D e da trilha sonora muitas vezes marcante, tais transformações ajudam a compor momentos épicos que devem entrar para a história da franquia, mas isso não anula o fato de que, infelizmente, elas são superficiais ao extremo.
Já nas partes mais tranquilas, onde vemos os personagens simplesmente vivendo suas vidas e interagindo entre si, o longa é impecável. São nesses momentos que reencontramos alguns personagens, vemos dinâmicas novas aparecendo e laços inéditos se formando. Graças à estrutura leve na qual se desenvolvem os eventos do enredo, isso permanece por quase toda a história, fortalecendo demais o filme. O longa também se mantém muito bem nos momentos de ação, parte graças a animação e trilha, e parte por conta do carisma de todos os personagens centrais, que são bem explorados do início ao fim.
Considerações finais
Com roteiro de Akira Toriyama, Dragon Ball Super: Super Hero resgata a simplicidade que a franquia havia perdido há décadas. O filme esbanja personalidade, trazendo uma temática pouco explorada na série, conta com um estilo de animação deslumbrante, uma trilha sonora eficiente e bastante diferente, excelentes antagonistas e protagonistas tão carismáticos e funcionais que tornam a aparição de Goku e Vegeta quase inconveniente. É um verdadeiro pedido de desculpas aos espectadores que há anos clamam para que a série dê um pouco mais de protagonismo aos personagens que foram esquecidos ao longo dessa jornada de quase 40 anos.