Análise da série Succession (3ª temporada)

Atenção! O texto a seguir contém spoilers da segunda temporada de Succession.

O enigmático sorriso de Logan (Brian Cox) no final da segunda temporada deixou um tom de mistério no ar: teria Kendall (Jeremy Strong) realmente traído o pai ou tudo aquilo havia sido previamente combinado entre eles? O início do terceiro ano de Succession mostra que Kendall partiu novamente para cima e colocou Logan em uma situação comprometedora ao afirmar publicamente que o pai sabia dos casos de abuso sexual nos cruzeiros da Waystar Royco. Depois de tudo o que fez para limpar a barra do filho no homicídio ocorrido na Inglaterra, Logan certamente não cogitava que algo do tipo poderia acontecer. Ciente das consequências legais decorrentes da declaração, o magnata começa a agir e logo de cara resolve ir, junto com uma equipe, para um lugar que não tem tratado de extradição com os Estados Unidos, mas a estadia fora dura pouco tempo, já que haviam muitos problemas que precisavam ser resolvidos.

É verdade que a família Roy nunca foi muito unida, mas a ação de Kendall provoca uma profunda ruptura entre ele e o pai. Nesse momento, as pessoas que são próximas de ambos precisavam escolher de qual lado da história iriam ficar. Como é de se esperar, ninguém está muito a fim de fazer oposição a Logan, o que faz com que Kendall lute na batalha sozinho, sendo auxiliado apenas pelas pessoas que ele contratou. O único que realmente fica em cima do muro é Greg (Nicholas Braun), que tenta observar tudo de uma maneira ampla, o que faz com que ele jogue, em alguns momentos, nos dois times. Greg também precisará lidar com seu avô, que ameaça doar a parte da herança que lhe pertence caso ele siga trabalhando para Logan.

Com a repercussão gigante causada pela coletiva de Kendall, Logan decide deixar o cargo de CEO da empresa e começa a pensar, junto com Tom (Matt McFadyen), Karl (David Rasche), Frank (Peter Friedman) e Hugo (Fisher Stevens), quem deveria ser o seu substituto. Os nomes de Roman (Kieran Culkin), Shiv (Sarah Snook) e Gerri (J. Smith-Cameron) estão na pauta e os três tomam conhecimento disso. A ânsia pelo poder leva os dois irmãos a desperdiçarem a chance de assumir o controle da Waystar, fazendo com que o cargo caia nos colos de Gerri, que finalmente recebeu o devido reconhecimento pelo seu trabalho. Além da sua experiência profissional, o fato de Gerri não ser um membro da família Roy de certa forma blinda a companhia da disputa que estava acontecendo, embora ela seja muito leal a Logan e continue recebendo ordens diretas dele.

Ciente que ganhar o apoio popular seria um fator importante, Kendall contrata consultores de relações públicas para lhe ajudar a cuidar de sua imagem. Ele também consegue trazer para o seu lado uma advogada de alto nível, mas de nada adianta ter um time robusto se não for para seguir os conselhos que lhe são dados. Querer resolver as coisas do seu jeito não é uma exclusividade de Kendall, seu pai já demonstrou várias vezes que não é alguém que costuma levar em conta a opinião de outras pessoas. Talvez eles hajam desse jeito por viverem em um mundo que muitas vezes parece estar distante da realidade. No terceiro episódio, quando o FBI estava prestes a adentrar na Waystar, Logan manifesta indiferença e sugere aos seus interlocutores que digam aos agentes para voltarem no dia seguinte. Somente após Gerri ser enérgica e mencionar que havia um mandado de busca é que o magnata decide cooperar.

O que Kendall e Logan não percebem é que essa rixa entre eles pode afetar a posição da família na companhia. Com a reunião anual de acionistas se aproximando, o clima fica mais tenso e, justo nesse momento que pode definir o futuro dos Roys na Waystar, uma decisão precisa ser tomada sem o consentimento de Logan. Ao se dar conta que estava sendo excluída pelo pai de questões importantes, Shiv aproveita a oportunidade para construir um acordo que a beneficiaria diretamente. Essa posição individualista só é deixada de lado quando Kendall, Roman e Shiv percebem que o pai pode estar trabalhando em algo que compromete o futuro deles, instante em que se dão conta que são mais fortes se agirem em conjunto.

Um personagem que timidamente foi construindo o seu valor no decorrer do terceiro ano é Tom. Quando voluntariamente se ofereceu para ser sacrificado caso o sogro perdesse a batalha contra Kendall, ele logicamente almejava conseguir, no futuro, algo que recompensasse o seu gesto de lealdade. Apesar de também pensar grande, Tom acaba correndo por fora dos assuntos da família – talvez esse seja o motivo que o levou a arriscar tanto. Desprezado pela mulher e percebendo que no final Logan sempre ganha, o personagem toma uma atitude surpreendente no último capítulo, que certamente gerará desdobramentos importantíssimos na quarta e última temporada.

Vencedora do prêmio de melhor série dramática no Emmy, Succession também tem uma forte carga de humor impregnada no seu enredo. O momento mais engraçado desta temporada provavelmente foi quando Logan recebeu por engano uma foto íntima de Roman durante uma reunião. O fato de Roman não levar nada a sério serviu até de argumento para Connor (Alan Ruck), pela primeira vez, pedir ao pai um emprego na empresa. A verdade é que nenhum deles teria um cargo de grande porte se não fossem filhos de Logan. Completamente despreparados para encarar os desafios da vida, os Roys têm um jeito peculiar de resolver os seus problemas, e vergonha é algo que eles definitivamente não possuem.

O terceiro ano de Succession mantém o mesmo padrão de qualidade e coloca os seus personagens para enfrentarem novos dilemas. Você percebe a falta de conexão que existe entre eles quando Shiv, Roman e Kendall descobrem, por meio de terceiros, que sua mãe irá se casar novamente. O evento na Itália parecia ser só mais um pretexto para eles viajarem e desfrutarem do luxo, mas é lá que acontecem fatos que prometem introduzir a maior transformação já vista em todo o enredo da série. O gancho deixado no episódio final foi surpreendente e mal posso esperar para descobrir o que virá na sequência.