Análise da série Succession (4ª temporada)

Atenção! O texto a seguir contém spoilers da terceira temporada de Succession.
Embora seja uma grande corporação, a Waystar não disponibilizava para o público uma boa plataforma de streaming. Objetivando resolver essa situação, Logan (Brian Cox) estava disposto a comprar a GoJo, uma gigante tecnológica norueguesa pertencente ao sueco Lukas Matsson (Alexander Skarsgård). Após algumas reviravoltas nas negociações, Matsson fez uma proposta para comprar a Waystar que acabou agradando o magnata. Quando Kendall (Jeremy Strong), Shiv (Sarah Snook) e Roman (Kieran Culkin) descobrem que o pai iria vender a empresa, eles se unem pela primeira vez para enfrentá-lo e tentar frustrar a negociação. Avisado por Tom (Matt McFadyen) sobre os planos de Shiv e seus irmãos, Logan renegocia o seu acordo de divórcio com Caroline (Harriet Walter) e acaba com a cláusula que dava aos filhos o poder de vetar mudanças no controle da companhia.
A quarta e última temporada de Succession inicia alguns meses após esses eventos e dois dias antes da GoJo finalizar a operação de compra. Cientes que precisariam dar um novo rumo para suas vidas, Roman, Kendall e Shiv estavam trabalhando no desenvolvimento de uma nova empresa de mídia, mas os planos mudam completamente no momento em que eles desconfiam que o pai está tentando novamente adquirir a PGM. Os três decidem entrar na jogada e também oferecem uma proposta para o conglomerado de mídia. Passamos então a acompanhar uma disputa de lances até que Kendall e seus irmãos conseguem oferecer um valor maior. No entanto, para realizar a transação, eles precisam do dinheiro que receberão assim que a GoJo finalizar a compra da empresa da família.
Sem ter muito tempo para lamentações, Logan precisa obter votos suficientes no conselho da Waystar para concluir a venda. Acontece que os seus três filhos e outros conselheiros acreditam que podem conseguir uma negociação melhor, forçando Matsson a desembolsar um valor maior. Diante desse fato, Logan adia a reunião em que a votação seria realizada e decide ir até a Suécia, no dia do casamento de Connor (Alan Ruck) e Willa (Justine Lupe), para conversar pessoalmente com Lukas sobre o acordo. Durante a viagem, Logan passa mal e falece dentro do avião. A partir desse instante, o caos se instaura na família Roy: juntos, Shiv, Kendall e Roman não têm nem metade da capacidade que o pai tinha para realizar negócios e gerir a companhia. Desta forma, a negociação da Waystar ganha alguns temperos extras.
No cofre de Logan é encontrado um documento, sem data, com uma lista de desejos que ele havia preparado caso viesse a falecer. Dentre os itens é mencionado que Kendall deveria ser o novo CEO da companhia, porém uma marcação a lápis levanta uma dúvida: ele havia sublinhado ou riscado o nome do filho? Enquanto questionamentos surgem, Kendall fica surpreso com essa situação, já que ele e o pai ultimamente não estavam tendo uma relação muito boa. Como Román é o atual COO da Waystar, eles decidem assumir em conjunto e de forma interina o comando da companhia. Os dois prometem a Shiv que ela participará de tudo, mas é óbvio que ela não gostou de ter ficado em segundo plano.
Falando um pouco mais de Shiv, ela é uma personagem que se destaca ao longo dos dez episódios. Para começar, o seu relacionamento com Tom atingiu o auge do desgaste, justamente no momento em que ela descobre que está grávida. O casal tem uma relação complexa e nos proporciona algumas cenas com diálogos memoráveis. Quando descobre que os irmãos estavam tentando impedir a venda da Waystar, Shiv secretamente passa a trabalhar junto com Matsson para que o negócio seja fechado. A possibilidade de poder haver um problema de regulamentação no governo e a realização de uma eleição presidencial nos EUA, na qual o otimista Connor é um dos candidatos, são alguns fatores que também passam a ganhar grande importância para a GoJo concluir a aquisição. Enquanto isso, Tom e Greg (Nicholas Braun) observam atentamente tudo, sempre com a intenção de conseguir algo que possa beneficiá-los.
Os eventos retratados na quarta temporada nos conduzem a um encerramento digno de Succession. Já adianto que muita gente não vai gostar da maneira com que a história é concluída, não que o desfecho seja ruim, muito pelo contrário, mas há uma certa complexidade envolvida. Para entender as motivações dos personagens é preciso observar o que estava acontecendo ao redor deles. Em anos anteriores a série reservou grandes reviravoltas para os seus minutos finais, e aqui não é diferente. O último episódio tem uma cena divertida envolvendo os irmãos Roys, o que representa um ponto fora da curva se formos analisar o modo que a família foi retratada desde o começo da atração. A belíssima abertura, por mais que possa passar despercebida, mostra que eles nunca foram verdadeiramente unidos, os interesses pessoais sempre se sobrepunham a qualquer questão. O capítulo final é tão intenso que levei um tempo para digerir o que foi apresentado. Levando-se todos esses aspectos em conta, a história foi encerrada de forma brilhante.
Considerações finais
Embora fosse uma pessoa difícil de lidar, Logan era o ponto de equilíbrio da família. A sua morte na parte inicial da última temporada abriu espaço para que seus filhos finalmente tivessem o destaque que sempre quiseram, ainda que ele tenha vindo com um sabor amargo, diante das circunstâncias. Sem o pai para intervir e com falta de experiência no mercado, Kendall e Shiv criam articulações para conseguir o que querem, mas ambos se deparam com um sentimento de frustração quando percebem que não têm o controle absoluto da situação. Já Roman demonstra uma maior indecisão e até um certo desconforto com tudo o que está acontecendo, sendo constantemente induzido pelos dois irmãos.
Algo que Succession sabe fazer bem é mesclar o seu tom peculiar de humor com momentos de drama. Na quarta temporada, uma parte bastante engraçada é o piloto que Kerry (Zoe Winters), a assistente pessoal de Logan, grava na ATN. O jeito com que ela transmite as notícias acaba virando chacota entre os personagens, dando origem a algumas cenas divertidas. Além do excelente enredo, outro ponto de destaque da atração criada por Jesse Armstrong são as atuações do elenco: Jeremy Strong, Sarah Snook e Kieran Culkin estão simplesmente incríveis em seus papéis. Sendo finalizada na sua melhor fase, a série da HBO completa sua trajetória valorizando o que foi construído no decorrer dos quatro anos. 
Nota
★★★★★ – 5 – Excelente
Criador e editor do Portal E7, Herbert é advogado, amante de games e séries. Gamertag/ID: "HerbertVFV".
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