Análise do jogo Gylt
Quando a Google anunciou o fim do Stadia, isso me fez pensar bastante sobre a história e preservação dos jogos digitais, afinal, a plataforma de streaming tinha em seu catálogo alguns títulos exclusivos. Como tudo era executado via nuvem e os usuários não tinham acesso a nenhum tipo de arquivo, estávamos diante de um raro caso em que nem mesmo os meios alternativos eram capazes de fazer com que esses games continuassem entre nós. Gylt era um dos jogos que poderia ter esse triste fim, mas felizmente a desenvolvedora Tequila Works conseguiu disponibilizar a sua obra para PC e consoles, permitindo que o game alcançasse agora um público muito maior.
Em Gylt assumimos o controle de Sally, uma garotinha que está procurando Emily, sua prima desaparecida há mais de um mês. Enquanto pregava cartazes com a foto de Emily em uma área afastada, Sally começa a ser atormentada por valentões da escola que passam a persegui-la. Durante a fuga, a protagonista cai e estraga a sua bicicleta, o que a impossibilita de voltar para casa. Como já era noite, ela decide utilizar o teleférico que ligava a região em que estava até a cidade de Bethelwood. O que a personagem não esperava é que algo sobrenatural aconteceria nesse percurso e ela seria levada até uma espécie de realidade alternativa.
Ao descer do teleférico, Sally encontra uma cidade vazia e parcialmente destruída, parecia que um terremoto havia acontecido na região. Andando pelas ruas vazias, ela percebe que sua prima estava escondida no interior do prédio da escola. Logo que começa a explorar o ambiente, a personagem descobre que o local está tomado por monstros, criaturas com as quais ela precisará lidar para conseguir localizar Emily. Nesse processo, a protagonista se depara com vários tipos de mensagens negativas, algo que lhe causa angústia e nos revela novos detalhes do enredo.
Durante a aventura existem dois itens que são essenciais para a progressão, a lanterna e o inalador. A lanterna serve para iluminar os cenários, resolver quebra-cabeças, desbloquear coletáveis e eliminar a maioria dos inimigos, de forma furtiva ou não. Utilizar a lanterna para enfrentar os monstros e resolver puzzles consome energia, que pode ser recarregada com as baterias espalhadas pelos ambientes. Os inaladores, por sua vez, restauram a saúde de Sally e também estão disponíveis para serem coletados pelas fases. Posteriormente adquirimos um extintor de incêndio, que é útil para apagar o fogo, congelar estruturas e inimigos, incluindo uma espécie de robô que não conseguimos eliminar com a lanterna.
Falando mais dos oponentes, sempre que notarem algo estranho no ambiente eles irão realizar uma rápida investigação. Quando somos detectados, as criaturas partem para cima, nos restando escolher se iremos enfrentá-las ou fugir. Uma boa forma de enganar os monstros e robôs é distraí-los arremessando latas de refrigerante que podem ser encontradas em máquinas de bebidas. A inteligência artificial dos inimigos não é muito avançada, o que significa que não há grande dificuldade em passar pelas áreas em que eles estão. Já as batalhas contra os chefes são mais interessantes, exigindo que utilizemos elementos do ambiente para vencê-los.
Visualmente Gylt é um jogo muito bonito, com cenários variados, bem construídos e detalhados. As cenas, que nos revelam parcela considerável do enredo, adotam um estilo artístico diferente, se assemelhando a histórias em quadrinhos. Outra parcela da narrativa pode ser acompanhada por meio dos diários que coletamos nas diversas áreas do game. A trilha e os efeitos sonoros cumprem bem o seu papel, contribuindo para o clima de mistério e apreensão que o jogo almeja transmitir.
Com relação à jogabilidade, o título é quase inteiramente composto por momentos em terceira pessoa, temos a visão em primeira pessoa apenas quando Sally passa em locais apertados, como os dutos de ar. Os comandos são simples, fáceis de serem assimilados e funcionam bem: a protagonista pode andar, correr, agachar, agarrar certos objetos e utilizar os seus equipamentos. Sempre que corre, Sally gasta a sua barra de estamina, que se regenera automaticamente depois de poucos segundos. Em algumas circunstâncias notei pequenos problemas na movimentação, momento em que a personagem não conseguia passar por locais em que não havia nenhum tipo de obstáculo no ambiente.
Devido ao fato do jogo estar localizado em português de Portugal, isso pode causar uma certa estranheza em alguns momentos, mas de forma alguma impede a compreensão do enredo. Completando a história, explorando bem os ambientes e indo atrás de todos os coletáveis, passei mais de nove horas jogando. Após finalizar o título, é possível retornar à escola e as demais localidades que a cercam e ir atrás dos itens que foram deixados para trás.
Gylt está disponível para PC, PlayStation 4, PlayStation 5, Xbox One e Xbox Series. Esta análise foi feita com base na versão de PC com uma cópia que nos foi fornecida pela Tequila Works, a quem registramos o nosso agradecimento.
Especificações do computador utilizado para a análise: Ryzen 7 5700X, RTX 3060 12 GB, 32 GB de memória RAM DDR4 3200Mhz.
Considerações finais
Gylt começa nos apresentando uma história aparentemente simples e que vai ganhando novas camadas ao longo da jogatina. Além dos coletáveis, nota-se que os cenários também foram pensados para contribuírem com a construção do enredo, que tem o bullying como um de seus principais elementos. Adotando um tom sobrenatural, o título entrega uma atmosfera muito bem construída e com uma boa dosagem de mistério.
À medida em que avançamos, somos apresentados a novos tipos de mecânicas, tornando a experiência mais variada. Retornando a cenários já explorados, com os novos equipamentos conseguimos acessar áreas que antes estavam bloqueadas. Não se trata de um jogo difícil, embora alguns quebra-cabeças exijam um raciocínio maior. Tudo o que precisamos está perto do desafio, portanto basta parar, observar o ambiente e pensar um pouco. O único problema é a movimentação travada da protagonista em certos momentos, mas nada que afete profundamente a experiência. Gylt não merecia morrer junto com o Stadia, que bom que o game agora pode ser conferido em várias plataformas.