Análise da série Cidade Invisível (2ª temporada)
Atenção! O texto a seguir contém spoilers da segunda temporada de Cidade Invisível.
Após ser morto pelo Curupira (Fábio Lago), Inês (Alessandra Negrini) aprisionou o Corpo Seco (Eduardo Chagas) debaixo da terra para evitar que ele causasse mais problemas. Anos depois, quando o túmulo foi aberto, seu espírito escapou e começou a usar Luna (Manu Dieguez) para matar outras pessoas. Descobrindo que a entidade estava agindo por meio de sua filha, Eric (Marco Pigossi) se ofereceu para ser seu novo hospedeiro. Essa era uma boa oportunidade para o Corpo Seco se vingar do Curupira, mas seu plano fracassou no momento em que Inês conseguiu mostrar a Eric o que realmente havia acontecido na noite em que Gabriela (Julia Konrad) faleceu. Com isso, Eric acabou se empalando para parar a entidade.
A segunda temporada de Cidade Invisível inicia mais de dois anos após esses eventos e é inteiramente ambientada no estado do Pará. No começo do episódio de estreia, descobrimos que Luna e Inês haviam viajado até o norte do país para tentar encontrar Eric. O policial ambiental desapareceu depois que Inês pediu a um filho das águas para curá-lo, já que a ferida estava se espalhando por todo o seu corpo; ela só não sabia onde e quando ele seria trazido de volta. Como Luna estava tendo sonhos com o pai, as duas conseguiram delimitar uma região para fazer buscas. No momento em que percorriam um trecho da Floresta Amazônica, Inês percebe que havia algum tipo de força na área, o que as obriga a suspender a missão.
À noite, enquanto estava no barco, Luna descobre a existência de Matinta Perê (Letícia Spiller) e decide procurá-la para pedir ajuda. Acontece que as coisas não são tão simples como parecem e a jovem precisaria dar a Matinta algo em troca após ter o seu desejo realizado. É aqui que começam as complicações, uma vez que a bruxa também tem outros pedidos para serem atendidos. Quando retorna, Eric começa a ganhar fama na região por ter causado um grande estrago em uma área de garimpo ilegal, ainda que esse não fosse o seu objetivo, e pela habilidade que ele desenvolveu, a capacidade de absorver os poderes de outras criaturas do folclore. Essa ideia até parece interessante, mas no decorrer dos cinco episódios o que vemos é um personagem completamente confuso e sem saber muito o que fazer.
Uma temática recorrente no segundo ano é o Marangatu, um local sagrado existente no meio da floresta e que pode ser acessado por poucos. Enquanto os indígenas compreendem a sua importância, Débora (Zahy Tentehar) e os integrantes da família Castro têm interesse apenas na grande quantidade de ouro lá existente e estão dispostos a tomar medidas extremas para entrar no Marangatu. Sendo também uma entidade, conhecida como Maria Caninana, Débora tem o poder de obrigar as pessoas a agir da forma que ela quer e sempre que algo está ameaçando os seus planos ela obriga a juíza Clarice (Simone Spoladore) a tomar providências.
Como o Cobra Norato, uma das “chaves” para o Marangatu, foi morto logo no começo da temporada, Luna passa a ser o novo alvo da organização. Nesse ponto, faltou um maior aprofundamento para justificar o fato de uma garota recém-chegada na região despertar tão rapidamente a atenção desse grupo. Quando Luna é raptada por Matinta a pedido de Débora, Eric, que está ficando cada vez mais poderoso, tenta de todas as formas resgatar sua filha. Quem também se envolve com essa história é a promotora Telma (Kay Sara): filha da Pajé Jaciara (Ermelinda Yapario), ela sabe tudo o que está em jogo e busca reunir provas para incriminar os Castros e seus aliados. Bento (Tomás de França) e Lazo (Mestre Sebá) são outros personagens com participação relevante e estão sempre dispostos a fazer o que é certo.
Além de nos apresentar novas figuras do folclore brasileiro, como o Lobisomem, a Mula sem Cabeça, o Zaori e as outras entidades já mencionadas anteriormente, o segundo ano de Cidade Invisível novamente aborda temas relevantes (o garimpo ilegal e a destruição da Floresta Amazônica) e nos dá a oportunidade de conhecer um pouco da cultura dos indígenas; certos diálogos, inclusive, são feitos na língua Tukano. Dentro dessa temática, a série também explora o passado de uma das personagens e aborda alguns dos muitos abusos que são cometidos contra os povos originários.
Considerações finais
Incorporando novas figuras do folclore brasileiro, Cidade Invisível novamente consegue nos apresentar uma história interessante de ser acompanhada, embora não consiga manter o nível da primeira temporada. A redução no número de capítulos compromete a forma com que o enredo é desenvolvido, fazendo com que alguns fatos e personagens sejam introduzidos de forma apressada. Isso torna a trama superficial e genérica em diversos momentos, a sensação que fica é que o roteiro poderia ter aproveitado muito melhor os personagens mitológicos. O arco envolvendo o Padre Venâncio (Rodrigo dos Santos), por exemplo, sequer foi concluído.
Por outro lado, somos agraciados com uma bela fotografia, bons efeitos especiais e algumas interpretações de alto nível. Alessandra Negrini está novamente incrível, mesmo tendo uma participação bem mais discreta. Letícia Spiller manda muito bem como Matinta Perê e em certos momentos aparece quase irreconhecível. Outro que também merece ser mencionado é Mestre Sebá, que desempenha uma grande performance ao dar vida a Lazo. Não posso terminar sem destacar a presença dos indígenas, que acabaram se tornando a parte mais interessante da trama.
Nota
★★★☆☆ – 3 – Bom
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