Análise da série Manifest (1ª temporada)
A história de Manifest começa em abril de 2013, quando a família Stone se preparava para retornar aos Estados Unidos após passar alguns dias de férias na Jamaica. Na sala de espera do aeroporto, eles são surpreendidos com a informação de que havia uma superlotação no avião em que iam embarcar. Com isso, Ben (Josh Dallas), sua irmã, Michaela (Melissa Roxburgh), e seu filho Cal (Jack Messina) decidem retornar em um voo que sairia mais tarde, enquanto o restante da família segue normalmente com a viagem de volta para casa. O que os três não imaginavam é que ao embarcar no voo 828 suas vidas seriam transformadas para sempre.
Durante o percurso para Nova York, o único incidente registrado foi uma intensa turbulência que deixou os passageiros bastante assustados e causou alguns danos materiais. As coisas começam a ficar estranhas quando o avião não recebe autorização de pouso e é obrigado a desviar para um Aeroporto próximo. Logo que a aterrissagem foi completada, viaturas da polícia se aproximaram da aeronave e os passageiros perceberam que os seus celulares estavam sem sinal de rede. Ao desembarcarem, todos são surpreendidos com a informação de que eles tinham desaparecido há cinco anos e meio e foram dados como mortos, já que as autoridades não obtiveram êxito em localizar informações sobre o voo 828. Para quem estava no avião, no entanto, apenas algumas horas haviam se passado. O que teria provocado essa ruptura temporal? Esse começo intrigante é um ótimo cartão de visitas e me deixou com boas expectativas para seguir adiante.
Enquanto tentam assimilar tudo o que estava acontecendo, os passageiros e membros da tripulação do voo 828 encontram um mundo bem diferente, já que as pessoas seguiram com suas vidas durante o período em que eles estiveram ausentes. Michaela, por exemplo, descobre que sua mãe faleceu e que Jared (J. R. Ramirez), seu namorado, tinha se casado com sua melhor amiga. Retornando a trabalhar na polícia, ela percebe que eles ainda gostam um do outro, mas o contexto agora era bem diferente de quando ele lhe havia feito o pedido de noivado. Ben, por outro lado, enfrenta dificuldades de se reconectar com a família: sua esposa, Grace (Athena Karkanis), estava tendo um relacionamento com outra pessoa e Olive (Luna Blaise), a irmã gêmea de Cal, agora é uma adolescente problemática. Com a falta do pai, o namorado de Grace acabou assumindo uma espécie de figura paterna para Olive.
Antes da viagem para a Jamaica, Cal não estava obtendo sucesso na luta contra a leucemia. Agora as esperanças estão renovadas graças ao surgimento de um novo tratamento baseado em uma pesquisa que havia sido desenvolvida pela médica Saanvi (Parveen Kaur), que também era uma passageira do voo 828. Assim que retoma a suas atividades no hospital, Saanvi fica surpresa ao descobrir que o seu trabalho científico está ajudando a salvar a vida de várias crianças. Tomando conhecimento que o filho de Ben era um dos candidatos ao tratamento, que ainda estava em fase final de pesquisa, ela faz tudo o que está ao seu alcance para permitir que Cal seja aprovado no projeto. Com isso, ela se aproxima dos Stones e tenta, junto com eles, entender as coisas estranhas que começam a acontecer. É interessante observar como os personagens lidam com fatos ocorridos em um passado que eles não presenciaram.
Além de terem que se acostumar com as mudanças, Michaela, Ben e os outros passam a conviver com chamados, uma espécie de voz que indica uma ação. Como as mensagens não são claras, nem sempre é possível compreender de imediato qual é o seu significado. Cal, por sua vez, desenvolveu um tipo de habilidade mais aguçado, parece conseguir lidar melhor com esses eventos e possui uma conexão forte com o que está acontecendo. O ponto curioso dessa história é que todos os que estão vivendo esse tipo de experiência possuem uma partícula no sangue geralmente associada a isquemia, sendo que no caso deles a intensidade é equivalente ao de uma pessoa que sofreu AVC.
Ainda na primeira metade dos episódios, descobrimos que onze passageiros estavam sendo submetidos a experimentos. Não fica claro qual é o objetivo desses testes, a única coisa que sabemos é que o governo, de alguma forma, está envolvido com essa operação. Já na parte final, um novo elemento é introduzido na trama, ampliando os eventos relacionados ao voo 828 e nos entregando algumas cenas bizarras, como um homem vomitando uma enorme quantidade de água. O primeiro ano de Manifest termina de forma dramática e os desdobramentos só serão descobertos na segunda temporada. Apesar de ser algo recorrente na indústria, não gosto da escolha de interromper uma cena no meio, prefiro quando os roteiristas criam no público expectativas por meio de conclusões mais elaboradas.
Considerações finais
É impossível não comparar Manifest com Lost, série que em pouco tempo se transformou em um fenômeno mundial. Embora tenham propostas diferentes, ambas as atrações têm um avião como elemento importante para o surgimento da história, o que faz com que o estilo narrativo seja em certos momentos semelhantes, como o uso de flashbacks para retratar o passado dos personagens. Nesse tipo de produção, é essencial que haja protagonistas carismáticos para que o público se mantenha interessado na trama sobrenatural. Lost soube fazer isso muito bem, porém Manifest peca nesse aspecto: com exceção de Ben e Michaela, o restante não consegue se destacar e alguns chegam a ser até mesmo irritantes.
A premissa do avião desaparecido pousar mais de cinco anos após a sua decolagem é sim interessante, mas no decorrer dos episódios várias outras informações foram inseridas na história sem ficar claro quais são as conexões existentes entre os arcos narrativos. Em outras palavras, ao invés de nos entregar algumas respostas, houve uma ampliação do universo da série. O meu medo é que no futuro Manifest não seja capaz de explicar tudo o que foi construído, algo que muitas vezes acontece em obras desse gênero. Realmente espero que na segunda temporada determinados elementos do enredo fiquem mais claros.
Nota
★★★☆☆ – 3 – Bom
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